Em 2014, a peça “King Charles III”, do inglês Mike Bartlett, foi um êxito enorme nos teatros de Londres e na Broadway. Bartlett escreveu igualmente o guião da adaptação televisiva (2017) deste drama que se desenrola poucas semanas após a morte da rainha Isabel II e a subida ao trono do príncipe Carlos. Nesta história, no entanto, o novo rei não dura muito tempo na poltrona. O reinado de Carlos III é curto e catastrófico. O monarca entra em conflito com o primeiro-ministro por causa de uma proposta de lei que impõe limites à liberdade de imprensa. O braço de ferro entre os dois homens acaba por provocar a dissolução do Parlamento, dá origem a protestos na rua e a enorme tensão entre Carlos e os seus filhos. O monarca, no final, cede à pressão e a um ultimato brutal apresentado pelos príncipes William, Kate e Harry. O rei Carlos III abdica e passa o trono para o filho mais velho — o novo rei William V.
Apesar dos elogios unânimes da crítica, a peça e o filme de Bartlett incomodaram alguns tradicionalistas (um colunista mais indignado do “Daily Telegraph” sugeriu mesmo que o dramaturgo traidor deveria ser açoitado e atirado para os calabouços da Torre de Londres). Este drama de future history, como lhe chamam na Inglaterra, agitou as águas ao imaginar Carlos como um monarca interventor, em conflito aberto com a família e com o poder político. Mas “King Charles III” incomodou e perturbou, sobretudo, por outra razão: a peça retrata um país sem Isabel II, uma nação que se vê órfã de uma rainha que graças à sua presença calma, quase reconfortante — sempre acima das guerras políticas —, tem sido uma figura constante na vida dos britânicos desde a década de 50.
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