Internacional

Governo russo cai (e há um plano para manter Putin no poder)

Dmitri Medvedev ao lado do Presidente russo Vladimir Putin
Dmitri Medvedev ao lado do Presidente russo Vladimir Putin
ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / KREMLIN POOL

Renúncia acontece depois de Vladimir Putin ter proposto a realização de um referendo sobre reformas da Constituição

O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, apresentou esta quarta-feira a sua demissão e da sua equipa, o que significa a queda do Governo. O Presidente, Vladimir Putin, aceitou o pedido, segundo a agência noticiosa Tass.

Após o anúncio, feito de surpresa na televisão estatal russa, com Medvedev e o Presidente lado a lado, Putin agradeceu os serviços prestados, mas observou que o gabinete do primeiro-ministro demissionário não cumpriu todos os objetivos estabelecidos.

"Nós, como Governo da Federação russa, devemos dar ao Presidente os meios para tomar todas as medidas necessárias. Por isso, (...) o Governo no seu todo renuncia", disse Medvedev, segundo a agência Tass.

Os meios de comunicação social russos dizem que Vladimir Putin planeia nomear Medvedev como vice-presidente do Conselho de Segurança. Medvedev, um aliado de Putin de longa data, é primeiro-ministro desde 2012, tendo ocupado o cargo de Presidente da Rússia entre 2008 e 2012.

O provável plano de Putin para manter o poder

A renúncia de Medvedev aconteceu momentos depois do discurso de Vladimir Putin sobre o estado da nação, em que o Presidente propôs a realização de um referendo sobre reformas da Constituição para reforçar os poderes do primeiro-ministro e do Parlamento.

Desde logo, existiria uma limitação presidencial de dois mandatos, quando o próprio Putin cumpriu quatro. Uma das emendas sugeridas à Constituição põe os deputados a nomear o primeiro-ministro e os membros do executivo, direito que pertence agora ao chefe de Estado.

"Considero necessário submeter ao voto dos cidadãos do país o conjunto das revisões da Constituição propostas", disse Vladimir Putin no seu discurso anual ao parlamento e às elites políticas, sem adiantar quaisquer datas. Em 2018, o homem que dirige o sistema político do país há 20 anos venceu as presidenciais com mais de 76% dos votos e cumpre um mandato de seis anos, que termina em 2024.

Entre as propostas de alterações estão ainda o reforço dos poderes dos governadores regionais, a proibição dos membros do governo e dos juízes de obterem residência no estrangeiro e a obrigação de os candidatos à Presidência terem vivido nos últimos 25 anos na Rússia.

Os analistas olham para esta proposta presidencial como um esforço de Putin para conquistar uma nova posição de poder, permitindo-lhe permanecer no comando do Estado após o seu mandato atual, que termina em 2024, como primeiro-ministro (um cargo que já ocupou entre 2008 e 2012) ou no Conselho de Estado.

Por outro lado, Putin poderá agora nomear um novo primeiro-ministro, provavelmente sinalizando o seu preferido para a sucessão ao cargo de Presidente. O gabinete do primeiro-ministro demissionário deve manter-se em funções até que um novo executivo seja nomeado e empossado, pediu o chefe de Estado. Para além disso, prometeu reunir-se em breve com todos os ministros demissionários.

Um responsável da Comissão Nacional de Eleições da Rússia já confirmou que um referendo pode ser realizado logo que as propostas para alteração à Constituição sejam formalizadas.

Eleições parlamentares na mira

Putin, de 67 anos, está aos comandos dos destinos da Rússia desde 2000, como Presidente ou como primeiro-ministro. É o líder há mais tempo no poder no território desde Estaline, secretário geral do Partido Comunista entre 1922 e 1952.

Em 2021 realizam-se eleições parlamentares na Rússia, o que também pode ajudar a explicar esta manobra de antecipação de Putin, visto que o controlo da Duma vai tornar-se muito mais importante. O partido Rússia Unida domina a câmara baixa da Assembleia do país (detém três quartos dos 450 lugares), mas tem sofrido nas sondagens devido à reforma das pensões anunciada pelo Presidente.

Apesar de não ter uma relação formal com o Rússia Unida, o presidente é precisamente Medvedev e o apoio do partido a Putin nunca foi colocado em causa.

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