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Americano detido no Egito há mais de seis anos morre após uma prolongada greve de fome

Moustafa Kassem
Moustafa Kassem

Moustafa Kassem, com nacionalidade egípcia e americana, sofria de diabetes e de doença cardíaca. Em setembro de 2018, foi condenado a 15 anos de prisão e iniciou então a primeira de várias greves de fome, em protesto contra o que classificava como uma prisão injusta. O caso foi apresentado a Trump e ao vice-Presidente e Secretário de Estado norte-americanos

Americano detido no Egito há mais de seis anos morre após uma prolongada greve de fome

Hélder Gomes

Jornalista

Moustafa Kassem foi preso no Cairo em agosto de 2013 durante a repressão sangrenta que se seguiu ao golpe militar que levou ao poder Abdel Fattah al-Sisi, então general do Exército e hoje Presidente do Egito. Kassem morreu esta segunda-feira após uma longa greve de fome, informou o Departamento de Estado norte-americano.

Com nacionalidade egípcia e americana, Kassem insistiu sempre que não tinha quaisquer vínculos com a oposição e que fora detido injustamente por soldados que agarraram no seu passaporte dos EUA e o pisaram, relata o jornal “The New York Times” (NYT).

Depois de anos em condições deploráveis num estabelecimento de alta segurança, onde disse que a sua diabetes e uma doença cardíaca não foram tratadas, Kassem foi condenado a 15 anos de prisão em setembro de 2018. Foi então que decidiu iniciar a primeira de várias greves de fome, recusando ingerir alimentos sólidos durante meses em protesto contra o que classificava como uma prisão injusta.

Na última sexta-feira, foi transferido para um hospital no centro da capital egípcia depois de se recusar também a ingerir líquidos. Morreu na tarde de segunda-feira, deixando mulher e dois filhos.

“Estou a pôr a minha vida nas suas mãos”

Numa viagem ao Cairo no mês em que Kassem foi condenado, o vice-Presidente dos EUA, Mike Pence, falou do caso e de um outro prisioneiro americano com Al-Sisi. O Presidente egípcio prometeu dedicar uma “atenção muito séria” ao assunto, disse então Pence.

Poucos dias depois de ter sido condenado, Kassem escreveu ao Presidente norte-americano, Donald Trump, a pedir-lhe ajuda: “Estou a começar uma greve de fome sabendo muito bem que posso não sobreviver. Estou a colocar a minha vida nas suas mãos.”

O Egito é o segundo maior destinatário da ajuda militar dos EUA, depois de Israel. Trump elogia Al-Sisi com regularidade pelo seu “trabalho fantástico” e chamando-o “o meu ditador favorito”. Kassem alimentou a esperança de ser libertado por causa da dependência egípcia relativamente aos EUA mas, segundo os seus familiares, acabou por se desiludir, escreve o NYT.

Morte de Morsi em tribunal e a negligência médica nas prisões

Em junho do ano passado, o Working Group on Egypt, um grupo de especialistas em relações externas, abordou o caso numa carta endereçada ao Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, alertando para o risco iminente de morte de Kassem. Pompeo respondeu que o bem-estar dos cidadãos americanos detidos era para ele “uma prioridade”.

A carta foi assinada três dias depois da morte em tribunal do antigo Presidente egípcio Mohamed Morsi, que voltou a levantar a questão da negligência médica nas prisões do país. A família de Morsi, que há muitos anos se queixava do tratamento inadequado do ex-chefe de Estado na prisão, culpou Al-Sisi pela sua morte.

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