Moustafa Kassem foi preso no Cairo em agosto de 2013 durante a repressão sangrenta que se seguiu ao golpe militar que levou ao poder Abdel Fattah al-Sisi, então general do Exército e hoje Presidente do Egito. Kassem morreu esta segunda-feira após uma longa greve de fome, informou o Departamento de Estado norte-americano.
Com nacionalidade egípcia e americana, Kassem insistiu sempre que não tinha quaisquer vínculos com a oposição e que fora detido injustamente por soldados que agarraram no seu passaporte dos EUA e o pisaram, relata o jornal “The New York Times” (NYT).
Depois de anos em condições deploráveis num estabelecimento de alta segurança, onde disse que a sua diabetes e uma doença cardíaca não foram tratadas, Kassem foi condenado a 15 anos de prisão em setembro de 2018. Foi então que decidiu iniciar a primeira de várias greves de fome, recusando ingerir alimentos sólidos durante meses em protesto contra o que classificava como uma prisão injusta.
Na última sexta-feira, foi transferido para um hospital no centro da capital egípcia depois de se recusar também a ingerir líquidos. Morreu na tarde de segunda-feira, deixando mulher e dois filhos.
“Estou a pôr a minha vida nas suas mãos”
Numa viagem ao Cairo no mês em que Kassem foi condenado, o vice-Presidente dos EUA, Mike Pence, falou do caso e de um outro prisioneiro americano com Al-Sisi. O Presidente egípcio prometeu dedicar uma “atenção muito séria” ao assunto, disse então Pence.
Poucos dias depois de ter sido condenado, Kassem escreveu ao Presidente norte-americano, Donald Trump, a pedir-lhe ajuda: “Estou a começar uma greve de fome sabendo muito bem que posso não sobreviver. Estou a colocar a minha vida nas suas mãos.”
O Egito é o segundo maior destinatário da ajuda militar dos EUA, depois de Israel. Trump elogia Al-Sisi com regularidade pelo seu “trabalho fantástico” e chamando-o “o meu ditador favorito”. Kassem alimentou a esperança de ser libertado por causa da dependência egípcia relativamente aos EUA mas, segundo os seus familiares, acabou por se desiludir, escreve o NYT.
Morte de Morsi em tribunal e a negligência médica nas prisões
Em junho do ano passado, o Working Group on Egypt, um grupo de especialistas em relações externas, abordou o caso numa carta endereçada ao Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, alertando para o risco iminente de morte de Kassem. Pompeo respondeu que o bem-estar dos cidadãos americanos detidos era para ele “uma prioridade”.
A carta foi assinada três dias depois da morte em tribunal do antigo Presidente egípcio Mohamed Morsi, que voltou a levantar a questão da negligência médica nas prisões do país. A família de Morsi, que há muitos anos se queixava do tratamento inadequado do ex-chefe de Estado na prisão, culpou Al-Sisi pela sua morte.
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