Internacional

Governo britânico diz que familiares de vítimas de avião ucraniano podem pedir compensação ao Irão

Manifestação de apoio aos protestos anti-regime no Irão, nas imediações de Downing Street, em Londres, no Reino Unido
Manifestação de apoio aos protestos anti-regime no Irão, nas imediações de Downing Street, em Londres, no Reino Unido
HENRY NICHOLLS

Governo de Teerão nega ter tentado encobrir a responsabilidade no incidente que provocou a morte de todas as 176 pessoas a bordo

O gabinete do primeiro-ministro britânico indicou esta segunda-feira que as famílias das vítimas do avião ucraniano abatido na quarta-feira, pouco depois de deslocar de Teerão, podem pedir uma compensação ao Governo iraniano.

Um porta-voz de Boris Johnson afirmou aos jornalistas, em Londres, que o primeiro passo será uma investigação “abrangente, transparente e independente”.

Depois, refere que as famílias das quatro vítimas de nacionalidade britânica “merecem justiça e fechar as feridas”, pelo que o Governo do Reino Unido vai fazer “tudo o que for possível” para que isso aconteça, incluindo estudar “as opções para uma compensação”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico convocou também esta segunda-feira o embaixador iraniano em Londres para expressar "fortes objeções" à breve prisão do embaixador britânico em Teerão, disse o porta-voz.

O Irão censurou o embaixador Rob Macaire por participar numa "manifestação ilegal" no país, o que seria uma violação das convenções diplomáticas.

“A verdade é que não mentimos”, diz porta-voz iraniano

Entretanto, o Governo iraniano negou ter tentado encobrir a responsabilidade das autoridades do país no incidente com o aparelho da Ukraine International Airlines, atingido por um míssil que provocou a morte de 176 pessoas, a maioria iranianas e canadianas. Também estavam a bordo cidadãos da Ucrânia, Suécia, Afeganistão, Alemanha e do Reino Unido.

"Nestes dias de tristeza, críticas foram dirigidas aos responsáveis e às autoridades do país. Alguns responsáveis foram até acusados de mentir e tentar encobrir o assunto, quando realmente, honestamente, não foi o caso", disse o porta-voz do Governo iraniano, Ali Rabii, aos jornalistas.

"A verdade é que não mentimos. Mentir é disfarçar a verdade, intencional e conscientemente. Mentir é sufocar informações. Mentir é conhecer um facto e não o dizer ou distorcer a realidade" deste facto, acrescentou Rabii.

"O que dissemos na quinta-feira (...) foi baseado (...) em informações que foram apresentadas ao Governo, que não havia conexão entre o acidente e um (tiro de) míssil", afirmou o porta-voz.

As forças armadas iranianas reconheceram no sábado a sua responsabilidade pela tragédia. Na quinta e sexta-feiras, a Organização de Aviação Civil Iraniana e o Governo negavam a hipótese de que o avião pudesse ter sido abatido por um míssil.

Gás lacrimogéneo e sangue nos protestos

O anúncio da responsabilidade das forças armadas provocou uma onda de indignação no Irão.

Na noite de sábado, uma cerimónia de homenagem às vítimas numa universidade de Teerão transformou-se numa manifestação contra as autoridades, com gritos de "morte aos mentirosos", antes de ser dispersada pela polícia.

Novamente na noite de domingo, manifestações ocorreram em Teerão, de acordo com vídeos publicados nas redes sociais.

A polícia e as forças de segurança iranianas dispararam balas reais e gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes que protestavam contra as autoridades.

O chefe da polícia de Teerão declarou esta segunda-feira ter recebido ordens de "contenção" face às manifestações contra as autoridades.

"A polícia tratou as pessoas que se concentraram com paciência e tolerância. A polícia não disparou sobre as manifestações porque a contenção estava na agenda dos polícias da capital", declarou o general Hossein Rahimi, segundo a televisão estatal.

Vídeos enviados à ONG e posteriormente analisados pela Associated Press (AP) mostram uma multidão a fugir, depois de uma granada de gás lacrimogéneo atingir os manifestantes.

As pessoas tossem e espirram enquanto tentam escapar, com uma mulher a gritar, em farsi: "Eles dispararam gás lacrimogéneo contra as pessoas! Praça Azadi. Morte ao ditador!".

Outro vídeo mostra uma mulher a ser carregada, sendo visível um rasto de sangue no chão. Pessoas ao seu redor gritam que foi baleada na perna.

Organizações não-governamentais de defesa de direitos humanos já pediram ao Irão que permita que as pessoas protestem pacificamente, conforme prevê a Constituição.

Os Estados Unidos, no domingo, e a Alemanha, esta segunda-feira, também pediram às autoridades da República Islâmica para não colocarem entraves às manifestações e deixarem os iranianos exprimirem a sua dor.

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