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Ex-patrão da Nissan Carlos Ghosn encontrou-se com Presidente libanês após fuga do Japão

Ex-patrão da Nissan Carlos Ghosn encontrou-se com Presidente libanês após fuga do Japão
Issei Kato/Reuters

A informação foi avançada à Reuters por duas fontes próximas de Ghosn, que terá sido recebido calorosamente, encontrando-se atualmente de bom humor e com espírito combativo. Acusado de desvio de dinheiro, fraude fiscal e gestão danosa, ia ser julgado neste novo ano. Está para breve uma conferência de imprensa do ex-empresário

Ex-patrão da Nissan Carlos Ghosn encontrou-se com Presidente libanês após fuga do Japão

Hélder Gomes

Jornalista

O ex-presidente da Nissan e da Renault Carlos Ghosn encontrou-se com o chefe de Estado libanês, Michel Aoun, depois de fugir do Japão, revelaram esta quarta-feira à agência Reuters duas fontes próximas do antigo empresário.

O plano para o retirar de Tóquio, onde se encontrava em prisão domiciliária, foi delineado durante três meses e executado por uma empresa de segurança privada. “Foi uma operação muito profissional do início ao fim”, indicou uma das fontes.

Ghosn foi recebido calorosamente pelo Presidente do Líbano na segunda-feira, depois de voar para Beirute via Istambul, encontrando-se atualmente de bom humor e com espírito combativo, revelou uma fonte. O fugitivo terá agradecido a Aoun o apoio que lhe foi prestado e à sua mulher enquanto esteve detido. O encontro, que ainda não tinha sido tornado público, foi desmentido por um assessor da presidência libanesa.

Segundo as fontes ouvidas pela Reuters, o embaixador do Líbano no Japão visitou o antigo empresário todos os dias durante a sua detenção.

Acusado dos crimes de desvio de dinheiro, fraude fiscal e gestão danosa, Ghosn, que mantém a sua inocência, ia ser julgado neste novo ano.

DENTRO E FORA DA PRISÃO

No Japão, Ghosn esteve dentro e fora do cárcere desde que foi preso pela primeira vez em novembro de 2018, tendo inicialmente passado mais de 100 dias detido. Naquele país, os suspeitos ficam em detenção provisória durante meses, frequentemente até ao início dos julgamentos. Segundo a acusação, o ex-empresário não reportou cerca de 73 milhões de euros em salários e transferiu temporariamente perdas financeiras pessoais para a Nissan.

Em janeiro de 2019, Ghosn renunciou aos cargos de presidente e diretor executivo da Renault. Antes disso, a sua situação legal tinha-se complicado devido a novas irregularidades denunciadas pela Mitsubishi, uma das empresas que chegou a dirigir e que o acusou de ter recebido pagamentos “ilegais”.

Segundo as investigações, Ghosn recebeu um pagamento alegadamente irregular de 7,82 milhões de euros. Estas irregularidades estão relacionadas com as operações da NMBV, uma sociedade estabelecida na Holanda em junho de 2017 e cuja sigla incorpora as iniciais da Nissan e da Mitsubishi, constituída com o objetivo de criar sinergias entre as duas empresas.

Libertado a 6 de março de 2019 após pagar uma fiança, Ghosn disse-se vítima de um golpe do conselho de administração. No mês seguinte, foi novamente preso depois de anunciar planos para a realização de uma conferência de imprensa. Ainda em abril, saiu da prisão mediante o pagamento de nova caução (no valor de 8 milhões de euros), ficando em prisão domiciliária, sob vigilância das autoridades, e impedido de sair do Japão e de contactar a esposa, Carole Ghosn.

“UM SISTEMA FRAUDULENTO EM QUE SE PRESUME A CULPA”

A Reuters tentou contactar o antigo empresário mas sem sucesso. Na terça-feira, Ghosn anunciara em comunicado: “Estou no Líbano e já não vou ser refém de um sistema judicial fraudulento em que se presume a culpa, a discriminação é galopante e os direitos humanos básicos são negados em flagrante desrespeito pelas obrigações legais do Japão sob o direito internacional e os tratados a que está vinculado.”

“Não fugi da justiça. Escapei da injustiça e da perseguição política”, sublinhou, acrescentando: “Agora posso finalmente comunicar em liberdade com os media e anseio começar a fazê-lo na próxima semana.” Um advogado de Ghosn disse que o ex-empresário daria uma conferência de imprensa na capital libanesa na próxima quarta-feira, dia 8. As fontes ouvidas pela agência de notícias sublinharam que ainda não há uma data final e que Ghosn não queria divulgar os pormenores da sua fuga para não prejudicar quem o ajudou no Japão.

Com 65 anos, Ghosn é cidadão do Líbano, onde está legalmente protegido de extradição, e também tem cidadania francesa e brasileira. Passou grande parte da sua juventude em Beirute, onde goza de um grande apoio público.

COLOCADO EM MALA DE TRANSPORTE DE INSTRUMENTOS MUSICAIS? “FICÇÃO”...

As autoridades libanesas disseram que não seria necessário tomar medidas legais contra o fugitivo, uma vez que ele entrara no país legalmente com um passaporte francês. No entanto, os passaportes francês, libanês e brasileiro encontram-se com os seus advogados no Japão. Os Ministérios dos Negócios Estrangeiros de França e do Líbano fizeram saber que não tiveram conhecimento das circunstâncias da fuga de Ghosn.

Entretanto, a emissora pública nipónica NHK revelou que as autoridades japonesas permitiram que Ghosn mantivesse um passaporte francês sobressalente numa mala trancada enquanto estava sob fiança. Os investigadores do Ministério Público invadiram esta quinta-feira a residência do antigo patrão da Nissan em Tóquio, acrescentou a NHK.

Alguns media libaneses noticiaram que o ex-empresário foi colocado numa mala de madeira destinada a transportar instrumentos musicais após um concerto privado em sua casa. Em declarações à Reuters, a esposa classificou o relato como “ficção” mas recusou-se a fornecer detalhes.

Segundo as fontes, o plano de fuga, supervisionado por uma empresa de segurança privada, envolveu transportar Ghosn num jato privado para Istambul, antes de seguir viagem para Beirute. O próprio piloto não terá sabido da presença do fugitivo a bordo.

O antigo patrão da Nissan e da Renault encontra-se com Carole em casa de um familiar da esposa mas planeia instalar-se em breve numa mansão em Achrafieh, um bairro de luxo de Beirute, avançou uma das fontes.

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