O primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, acusou o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, de proferir “repetidas mentiras” sobre a II Guerra Mundial depois de este ter afirmado que a Polónia foi parcialmente responsável pela eclosão do conflito.
Trata-se do episódio mais recente de um confronto amargo sobre memória histórica, à medida que se aproxima o 75.º aniversário da vitória sobre o nazismo em maio próximo, escreveu esta segunda-feira o jornal “The Guardian”.
No domingo, Morawiecki divulgou uma declaração de quatro páginas em que disse que Putin está a brincar com a história para, entre outros assuntos, distrair o mundo das sanções e da proibição de atletas russos de participarem em competições internacionais por causa do doping. “Considero que as palavras de Putin são uma tentativa de encobrir esses problemas. O líder russo está ciente de que as suas acusações nada têm a ver com a realidade”, declarou.
“Sem a cumplicidade de Estaline na divisão da Polónia e sem os recursos naturais que Estaline forneceu a Hitler, a máquina criminosa da Alemanha nazi não teria controlado a Europa”, acrescentou.
“Um porco antissemita desprezível” VS “propaganda do tempo do totalitarismo estalinista”
O chefe do Governo polaco respondeu assim a um discurso de Putin numa cimeira de líderes de antigos estados soviéticos, realizada em São Petersburgo a 20 de dezembro. Nos últimos dias, o Presidente russo voltou ao assunto em vários outros encontros, incluindo numa reunião de generais do Exército durante a qual se referiu ao embaixador da Polónia na Alemanha nazi como “um porco antissemita desprezível”.
O Ministério polaco dos Negócios Estrangeiros já tinha dito que as palavras de Putin se assemelhavam a “propaganda do tempo do totalitarismo estalinista”. A tutela chamou igualmente o embaixador russo na Polónia para manifestar o seu desagrado com as palavras de Putin.
Em 2015, quase todos os líderes ocidentais se distanciaram da comemoração do 70.º aniversário da rendição alemã em protesto contra a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia no ano anterior. Putin aproveitou a efeméride para advertir contra um “mundo unipolar”, comparando implicitamente os EUA da atualidade com a Alemanha nazi, recorda o “Guardian”.
Para maio de 2020 está a ser preparada uma comemoração do 75.º aniversário e o Kremlin espera que o Presidente norte-americano, Donald Trump, marque presença. No mês passado, Trump agradeceu o convite e disse que gostaria de estar presente “se pudesse”.
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