O Presidente dos EUA, Donald Trump, acusou esta terça-feira os democratas de liderarem uma “tentativa de golpe ilegal e partidária” e de declararem “guerra aberta à democracia americana”. A acusação consta de uma carta de seis páginas, endereçada à presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e enviada na véspera de a câmara baixa do Congresso votar dois artigos de ‘impeachment’.
“Escrevo-lhe esta carta para colocar os meus pensamentos num registo permanente e indelével. Daqui a 100 anos, quando as pessoas olharem para este caso, quero que o compreendam e aprendam com ele para que nunca mais aconteça com outro Presidente”, assinala Trump.
A Câmara dos Representantes está a passar de “um corpo legislativo reverenciado” para “uma Câmara Estelar de perseguição partidária”, que “mal disfarça o ódio por mim”, assinala ainda o Presidente. E acrescenta: “Não há muitas pessoas que pudessem aguentar o castigo infligido durante este período de tempo e, ainda assim, fazer tanto pelo sucesso da América e dos seus cidadãos.”
“Mais processo justo nos Julgamentos das Bruxas de Salem”
“Ao seguirem com o vosso ‘impeachment’ inválido, estão a violar os vossos juramentos de posse, estão a romper a vossa lealdade à Constituição e estão a declarar guerra aberta à democracia americana. Vocês veem a democracia como o inimigo!”, sentencia Trump.
Por fim, o Presidente adverte que, “com base em sentimentos recentes”, esta “tentativa de golpe fracassará seriamente na cabine de voto”, aludindo às eleições presidenciais do próximo ano em que Trump tentará a reeleição. E chega a dizer que houve “mais processo justo nos Julgamentos das Bruxas de Salem”. No final dos anos 1690, 14 mulheres e cinco homens foram enforcados na Massachusetts colonial por alegado envolvimento em bruxaria.
Abuso de poder e obstrução
A Câmara dos Representantes, liderada pelos democratas, deverá aprovar esta quarta-feira duas acusações formais de abuso de poder e obstrução do Congresso. Os democratas consideram que Trump abusou do cargo que ocupa ao pedir a Kiev para investigar Joe Biden, um dos candidatos mais bem posicionados para conseguir a nomeação democrata nas eleições de 2020. A acusação de obstrução baseia-se em parte nas diretivas da Casa Branca para que os seus funcionários não cooperassem com o inquérito à destituição presidencial.
A investigação centra-se nas alegações de que Trump pressionou a Ucrânia a anunciar publicamente uma investigação ao ex-vice-Presidente Biden. Em concreto, o Presidente Volodymyr Zelensky deveria anunciar que estava em curso uma investigação à produtora de gás Burisma, que contratara Hunter, filho de Joe Biden, e só assim Kiev receberia a prometida ajuda militar norte-americana.
A ajuda à Ucrânia foi finalmente libertada em setembro, depois de um denunciante ter dado o alerta sobre um telefonema de 25 de julho entre os Presidentes Trump e Zelensky. A queixa do denunciante levou os democratas a darem início a uma investigação de ‘impeachment’.
O travão no Senado
Ao chegar ao Senado, de maioria republicana, o ‘impeachment’ só resultaria na destituição de Trump se fosse votado favoravelmente por dois terços dos senadores. Até ao momento, nenhum senador republicano deu indicação de que votaria nesse sentido, pelo que, chumbado na câmara alta, o processo morreria e Trump continuaria no cargo, como, de resto, aconteceu com Bill Clinton.
O Presidente nega ter cometido quaisquer irregularidades e classifica o processo de ‘impeachment’ como “uma farsa”. Os democratas acusam-no de ter colocado a Constituição americana em risco, comprometendo a segurança nacional e a integridade das eleições do próximo ano.
Questionada sobre a carta de Trump, Pelosi disse à CNN: “Ainda não a li na totalidade. Temos estado a trabalhar. Mas já vi o essencial [da carta]. É verdadeiramente doente.”
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