Internacional

Weinstein lamenta que o seu trabalho “para a promoção das mulheres no cinema” tenha sido “eviscerado” pelas acusações de assédio

O produtor de Hollywood Harvey Weinstein inspirou o novo filme de Brian de Palma
O produtor de Hollywood Harvey Weinstein inspirou o novo filme de Brian de Palma
JUSTIN LANE/EPA

Começa a 6 de janeiro o julgamento de Harvey Weinstein, um dos mais influentes produtores de Hollywood arruinado pelas múltiplas queixas de assédio sexual e até de violação que foram sendo descobertas ao longo dos últimos dois anos. Numa entrevista ao jornal "New York Post", Weinstein defende o seu trabalho na promoção de mulheres no cinema, tanto na parte da representação como na parte diretiva. Os críticos dizem que isso não desculpa os seus atos e que é normal que o escândalo tenha obliterado tudo o resto

Weinstein lamenta que o seu trabalho “para a promoção das mulheres no cinema” tenha sido “eviscerado” pelas acusações de assédio

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Harvey Weinstein sente-se “o homem de que ninguém se lembra” e lamenta que o seu “trabalho pioneiro” na defesa das mulheres no cinema tenha sido “eviscerado” depois de descobertos os escândalos sexuais em que esteve envolvido.

Quando falta menos de um mês para o seu julgamento, marcado para 6 de janeiro, e no qual terá de responder por suspeita de crimes bastante graves como violação e abuso sexual, Weinstein dá uma entrevista ao “New York Post” que já está a ser alvo de críticas por transmitir uma face mais “benemérita” do multimilionário. É que além de permitir que Weinstein fale do seu trabalho na promoção de protagonistas femininas fortes, é feita no hospital, onde Weinstein foi operado à coluna, o que encaixa perfeitamente na sua estratégia de defesa. É o próprio que diz à revista: “É importante que se saiba que eu não estou a mentir sobre a minha fraca saúde”.

Apesar disso, o “New York Post” deixa claro no artigo que o ex-produtor não parece sentir grandes remorsos dos atos de abuso sexual cometidos ao longo de mais de 20 anos em que lidou de perto com algumas das mais reconhecidas estrelas de Hollywood. Mesmo depois de todas estas acusações (ao todo são 70 as mulheres a acusar Weinstein de comportamento sexual impróprio em vários níveis de gravidade), Weinstein continua a dizer que todos os contactos físicos com as vítimas foi consensual. E insiste que fez muito mais pelas mulheres em Hollywood do que qualquer outro produtor. “Fiz mais filmes realizados por mulheres e sobre mulheres do que qualquer outro produtor - e isto há 30 anos, não agora só porque está na moda. Eu fiz primeiro. Eu fui pioneiro”, disse na entrevista expressando até um certo nível de rancor em relação ao que considera ser a injusta falta de reconhecimento do seu papel neste meio: “Eu quero que esta cidade reconheça o que eu fui e não aquilo em que me tornei”, disse ao “New York Post”.

Quem não gostou nada do “embuste de relações públicas”, foi Douglas Wigdor, um dos advogados que está a representar as vítimas de Weinstein - a frase é dele. “Não é possível sentir pena de Weinstein enquanto ele fala a partir de uma suite num hospital privado e pede aos nova-iorquinos que reconheçam o seu trabalho prévio quando é perfeitamente justificado que a sua carreira tenha sido ensombrada pelos seus terríveis atos”, disse Wigdor, em resposta à entrevista, citado pelo “Guardian”.

Já a CNN cita uma carta escrita em conjunto por 23 das mulheres que acusam Weinstein de crimes sexuais, também em reação à entrevista, onde todas garantem que, contrariamente aos medos expressos pelo ex-produtor cinematográfico, ninguém se vai esquecer de nada: “Harvey Weinstein está a tentar encadear a sociedade de novo. Diz que não quer ser esquecido e não será. Será lembrado como um predador sexual e um abusador sem remorsos que tirou tudo às suas vítimas e merece nada. Vai ser lembrado pela força coletiva de inúmeras mulheres que se levantaram e disseram: ‘Já chega’. Recusamos que este predador possa reescrever o seu legado de abusos”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: afranca@impresa.pt

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