Como tantas vezes prometeu durante a campanha, e dada a maioria clara que conseguiu nas eleições gerais de 12 de dezembro, Boris Johnson, primeiro-ministro britânico vai mesmo tentar fazer aprovar o seu acordo para o Brexit na primeira semana de trabalho da nova legislatura - já esta sexta-feira, segundo escreve o jornal “The Guardian”. A notícia chega pelo porta-voz do próprio primeiro-ministro, que esta manhã, na habitual reunião com os jornalistas, confirmou o que já era uma forte suspeita. Rishi Sunak, deputado conservador, já tinha dito no domingo à BBC que a legislação que viabiliza o Brexit “estará no Parlamento antes do Natal”.
O prazo é apertado: com o discurso da Rainha, ou seja, a apresentação, por parte da monarca, da agenda legislativa do novo Governo de Johnson, marcado para quinta-feira, agendar uma segunda leitura da legislação (que já passou na generalidade) não é o procedimento comum - e o presidente da Câmara dos Comuns, o speaker, pode não autorizar a debate.
O porta-voz do primeiro-ministro não quis confirmar se o texto que o Governo quer ver aprovado é o mesmo que foi levado ao Parlamento em outubro. Na altura, esse projeto de lei passou a chamada “primeira leitura” mas depois acabou por fracassar quando um grupo de deputados moveu uma moção contra o calendário para a sua discussão, que consideraram demasiado apertado para poder acomodar um debate profundo sobre as implicações do Brexit. Com 356 deputados do seu lado, Johnson deve conseguir evitar problemas desta vez. “Vão ter de esperar para que a lei seja publicada mas vai refletir o acordo que fizemos com a UE”, disse o porta-voz, citado pelo “Evening Standard”.
A mesma fonte confirmou que a prioridade do Governo será “assinar um acordo de comércio com a UE ao estilo canadiano, sem alinhamento político” mas não avançou mais pormenores sobre a estratégia de Downing Street para as negociações que se vão inaugurar em breve. O porta-voz também se recusou a confirmar se ainda existe a possibilidade de um ‘no deal’, na eventualidade de que a UE e o Reino Unido não consigam acordar numa relação comercial benéfica para ambas as partes até ao fim do período de transição. Apesar da recusa, essa possibilidade, mais ou menos remota, está legalmente prevista por isso não carece de confirmação. Boris Johnson apenas está a tentar conter o nível de confusão e alarmismo que passa para a população. Porém não faltam analistas a avisar que a parte mais complexa do Brexit ainda nem começou. O último alerta chega de um ex-conselheiro da ex-primeira-ministra Theresa May: Downing Street não tem pessoas “suficientemente preparadas” para “negociações deste porte”, disse Raoul Ruparel, citado pelo “Guardian”.
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