O presidente da comissão de Justiça da Câmara dos Representantes dos EUA, o democrata Jerry Nadler, afirmou este domingo que “se apresentado perante um júri”, o caso contra o Presidente Donald Trump resultaria num “veredicto de culpado em apenas três minutos”. Em entrevista ao programa “State of the Union” da CNN, Nadler disse que as provas relativas à Ucrânia, centrais no processo de ‘impeachment’, mostram um “padrão” de conduta do Presidente.
De acordo com fontes ouvidas pela estação americana, a votação naquela comissão para a destituição presidencial deverá ser realizada já esta semana. Esta segunda-feira, as provas contra Trump serão apresentadas pelas comissões de Informação e de Justiça da câmara baixa do Congresso americano. Nadler não se comprometeu, contudo, a incluir as provas de obstrução de justiça, descritas no relatório do procurador especial Robert Mueller, como parte dos artigos de ‘impeachment’.
A origem do processo
O inquérito de destituição presidencial centra-se nas alegações de que Trump pressionou a Ucrânia a anunciar publicamente uma investigação ao ex-vice-Presidente Joe Biden. Em concreto, o Presidente Volodymyr Zelensky deveria anunciar que estava em curso uma investigação à produtora de gás Burisma, que contratara Hunter, filho de Joe Biden, e só assim Kiev receberia a prometida ajuda militar norte-americana.
O antigo vice-Presidente é um dos candidatos mais bem posicionados para conseguir a nomeação democrata às presidenciais do próximo ano em que Trump tentará a reeleição. O atual Presidente tem feito acusações de corrupção, já refutadas, sobre Biden e o filho Hunter.
A ajuda militar à Ucrânia foi finalmente libertada em setembro, depois de um denunciante ter dado o alerta sobre um telefonema de 25 de julho entre os Presidentes Trump e Zelensky. A queixa do denunciante levou os democratas, maioritários na Câmara dos Representantes, a darem início a uma investigação de ‘impeachment’.
“Cabe-lhes decidir se querem ser patriotas ou partidários”
Nadler mostrou-se confiante de que o seu partido tem um caso “sólido”. “Há provas diretas consideráveis. Não cabe a um Presidente ou aos seus apoiantes dizer que não há provas diretas suficientes quando a razão pela qual não temos mais provas é o Presidente ter ordenado que ninguém no ramo executivo cooperasse com o Congresso no inquérito de ‘impeachment’”, sublinhou.
“Se acusarmos o Presidente, vamos fazê-lo com base em motivos adequados e urgentes para defendermos a nossa república democrática”, acrescentou. Questionado sobre a possibilidade de nenhum republicano no Senado, onde o partido do Presidente detém a maioria, votar a favor do ‘impeachment’, Nadler respondeu: “Cabe-lhes a eles decidir se querem ser patriotas ou partidários.”
Votação de gastos e primárias democratas no caminho
O calendário do ‘impeachment’ começa a apertar, uma vez que até 20 de dezembro a Câmara dos Representantes terá de votar um projeto de lei relativo aos gastos da Administração. Só depois é que poderá voltar a debruçar-se sobre o ‘impeachment’ e quais os artigos a votar.
Se a votação resvalar para o próximo ano, o julgamento no Senado, que pode prolongar-se durante várias semanas, também ficará atrasado. Neste cenário, o processo seria arrastado para a altura das primárias democratas, o que complicaria a vida dos candidatos à nomeação, sendo muitos deles senadores.
Finalmente no Senado, o ‘impeachment’ só resultaria na destituição de Trump se fosse votado favoravelmente por dois terços dos senadores. Até ao momento, nenhum senador republicano deu indicação de que votaria nesse sentido, pelo que, chumbado na câmara alta, o processo morreria e Trump continuaria no cargo, como, de resto, aconteceu com Bill Clinton.
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