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Governo alemão admite reconhecer massacres na Namíbia como genocídios

Governo alemão admite reconhecer massacres na Namíbia como genocídios
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"Alcançámos um consenso em muitos pontos", explicou o representante do Governo alemão, que sublinhou que o pacote de medidas acordadas ainda não passou pelos parlamentos de Berlim e de Windhoek

A declaração a ser aprovada pelo parlamento alemão como parte do acordo com a Namíbia, sobre a revisão dos atos cometidos durante o período colonial, irá contar, pela primeira vez de forma oficial, com a palavra "genocídio".

Em declarações à comunicação social alemã, o negociador Ruprech Polenz afirmou que o acordo final, após cinco anos de negociações, está iminente.

"Alcançámos um consenso em muitos pontos", explicou o representante do Governo alemão, que sublinhou que o pacote de medidas acordadas ainda não passou pelos parlamentos de Berlim e de Windhoek.

O projeto de acordo não prevê, no entanto, o pagamento de indemnizações individuais, não correspondendo a uma das exigências dos representantes das etnias herero e nama, as principais vítimas dos massacres ocorridos há mais de 110 anos.

"Vamos contribuir com somas substanciais para fazer justiça à nossa responsabilidade histórica, mas recusamo-nos a pagar reparações individuais às gerações dos bisnetos", sublinhou Polenz.

A Alemanha pretende investir em áreas habitadas maioritariamente pelas etnias herero e nama, que nunca recuperaram plenamente das consequências dos massacres e que ainda hoje continuam a ser alvo de discriminação.

Para Polenz, a ajuda alemã terá como destino a reforma agrária - em 2018, 70% das terras exploráveis comercialmente continuavam nas mãos de descendentes de colonos -, bem como a melhoria dos cuidados de saúde, do fornecimento de eletricidade e do sistema educativo.

A proposta prevê ainda a criação de uma fundação para ajudar "a aproximar os alemães das escuras páginas da história colonial, uma história colonial que muitos hoje acreditam não existir", acrescentou o representante governamental.

Uma parte do espetro político alemão, em particular o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), tem-se pronunciado de forma repetida contra uma revisão do passado colonial da Alemanha.

O povo herero revoltou-se em 1904 contra os colonos alemães após se verem privados das suas terras e do seu gado.

O general alemão Lothar von Trotha, enviado para conter a rebelião, ordenou o extermínio de todos os hereros, armados ou não, que entrassem em território alemão.

Os namas, que se insurgiram um ano depois, sofreram o mesmo destino.

No total, cerca de 65 mil hereros e perto de 10 mil namas perderam a vida entre 1904 e 1908, naquele que os historiadores consideram ser o primeiro genocídio do século XX.

As ossadas, especialmente crânios, foram enviadas para a Alemanha, onde foram objeto de experiências científicas de caráter racial.

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