O partido espanhol Vox, de extrema-direita, recusou-se esta segunda-feira a assinar uma declaração multipartidária de condenação da violência contra mulheres. Esta é a primeira vez, desde uma lei histórica de 2004 sobre violência de género, que a Câmara Municipal de Madrid não consegue apresentar uma declaração subscrita por todos os partidos.
O secretário-geral do Vox, Javier Ortega Smith, que integra o conselho municipal da capital espanhola e o Parlamento nacional, argumentou que a declaração no Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres tratava apenas um lado da violência de género. Num discurso recebido com gritos de raiva, Ortega Smith condenou o que apelidou de “negacionistas” da violência de género. “Também há homens que sofrem violência por parte das mulheres e que são mortos pelas suas esposas”, disse, citado pela agência de notícias Reuters.
“Não é política, é pose política”
Estas palavras mereceram a condenação do presidente da Câmara de Madrid, José Luis Martínez-Almeida, do PP, cujo executivo camarário com o Cidadãos necessita de quatro votos do Vox para assegurar uma maioria. “O que fez aqui hoje não é política, é pose política”, disse.
Também o líder nacional dos populares, Pablo Casado, tentou distanciar o seu partido do aliado de extrema-direita, instando outras forças políticas a “juntarem forças para lutar contra os agressores”.
A vice-presidente do Governo em funções, a socialista Carmen Calvo, acusou o Vox de ter vindo para protagonizar “um importante desafio à democracia”, tendo começado “com este”.
Nas eleições de 10 de novembro, o Vox tornou-se o terceiro maior partido no Parlamento espanhol, mais do que duplicando o seu número de deputados.
52 mulheres mortas pelos parceiros só este ano
Milhares de pessoas saíram esta segunda-feira às ruas em todo o país para exigir que as autoridades façam mais para resolver o problema. Em Madrid, os manifestantes paralisaram o trânsito no centro da cidade, erguendo placas com inscrições como “Quantas mais mulheres têm de morrer?” e entoando palavras de ordem como “Não é um caso isolado, é patriarcado”.
Segundo estatísticas oficiais reunidas desde 2003, foram mortas 1.024 mulheres pelos seus parceiros. Até ao momento, foram mortas 52 mulheres só este ano. A vítima mais recente, uma mulher de Tenerife, terá sido assassinada pelo seu parceiro esta segunda-feira.
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