A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, prometeu esta segunda-feira “ouvir humildemente” as pessoas na sequência das eleições da véspera, que foram entendidas como um teste ao Governo que lidera, apoiado por Pequim.
Segundo o canal de televisão Channel News Asia, os partidos pró-democracia conquistaram 390 dos 452 assentos para os conselhos distritais, ou seja, quase 90%, o que corresponde a cerca de mais de uma centena de lugares relativamente às eleições de há quatro anos. Os resultados estão a ser interpretados como uma mensagem clara do descontentamento dos eleitores com o Executivo daquela região administrativa especial chinesa após quase seis meses de protestos.
Dizendo-se esperançosa de que a calma vivida imediatamente antes do ato eleitoral possa continuar, Lam acrescentou: “Há muitas análises e interpretações que afirmam que os resultados refletem a insatisfação do público com o estado atual das coisas e os problemas profundos da sociedade.” E comprometeu-se a ouvir “com a mente aberta” e “a refletir seriamente”.
Hong Kong faz parte da China “independentemente do que aconteça”
Cerca de 2,94 milhões de eleitores foram este domingo às urnas numa taxa de participação recorde, que representa o dobro relativamente aos 1,47 milhões que votaram nas eleições anteriores. A comissão eleitoral confirmou tratar-se da maior participação de sempre em eleições distritais.
O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, lembrou esta segunda-feira que Hong Kong faz parte da China “independentemente do que aconteça” nas eleições. “Qualquer tentativa de atrapalhar Hong Kong ou mesmo prejudicar a sua prosperidade e estabilidade não será bem-sucedida”, garantiu.
O jornal estatal “China Daily” escreveu em editorial que as eleições “deverão ter servido como uma oportunidade para a cidade voltar ao normal”. “A relativa tranquilidade de que a cidade gozou vários dias antes das eleições sugere que todos os envolvidos as consideraram uma oportunidade para exporem os seus pontos de vista”, acrescentou o diário.
As únicas eleições totalmente democráticas em Hong Kong
Entre os vencedores estão antigos líderes estudantis e um candidato que substituiu o ativista Joshua Wong, a única pessoa impedida de concorrer às eleições. Jimmy Sham, um conhecido organizador dos protestos, espancado em outubro por assaltantes desconhecidos, também triunfou.
A participação normalmente baixa nas eleições para os conselhos distritais, tradicionalmente controlados por partidos pró-Pequim, ganhou uma nova importância no contexto dos protestos. As manifestações tiveram início em junho, na sequência de uma controversa proposta de alteração à lei de extradição, entretanto retirada pelo Governo local, mas transformaram-se num movimento que exige a melhoria dos mecanismos democráticos e que se opõe à crescente interferência do Governo central.
Estas eleições são as únicas totalmente democráticas em Hong Kong. Os membros do Conselho Legislativo, o Parlamento local, são escolhidos em parte pelo voto popular e em parte por grupos de interesses que representam diferentes sectores da sociedade, e o chefe do Executivo da região administrativa especial é escolhido por um colégio eleitoral de 1.200 membros, dominado por Pequim.
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