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Governo de Hong Kong promete “ouvir humildemente” as pessoas após vitória de candidatos pró-democracia

Governo de Hong Kong promete “ouvir humildemente” as pessoas após vitória de candidatos pró-democracia
YE AUNG THU/AFP/Getty Images

“Há muitas análises que afirmam que os resultados refletem a insatisfação do público com o estado atual das coisas e os problemas profundos da sociedade”, declarou Carrie Lam. Os partidos pró-democracia conquistaram cerca de mais de uma centena de lugares relativamente às eleições de 2015. Os protestos que duram há meio ano terão sido decisivos

Governo de Hong Kong promete “ouvir humildemente” as pessoas após vitória de candidatos pró-democracia

Hélder Gomes

Jornalista

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, prometeu esta segunda-feira “ouvir humildemente” as pessoas na sequência das eleições da véspera, que foram entendidas como um teste ao Governo que lidera, apoiado por Pequim.

Segundo o canal de televisão Channel News Asia, os partidos pró-democracia conquistaram 390 dos 452 assentos para os conselhos distritais, ou seja, quase 90%, o que corresponde a cerca de mais de uma centena de lugares relativamente às eleições de há quatro anos. Os resultados estão a ser interpretados como uma mensagem clara do descontentamento dos eleitores com o Executivo daquela região administrativa especial chinesa após quase seis meses de protestos.

Dizendo-se esperançosa de que a calma vivida imediatamente antes do ato eleitoral possa continuar, Lam acrescentou: “Há muitas análises e interpretações que afirmam que os resultados refletem a insatisfação do público com o estado atual das coisas e os problemas profundos da sociedade.” E comprometeu-se a ouvir “com a mente aberta” e “a refletir seriamente”.

Hong Kong faz parte da China “independentemente do que aconteça”

Cerca de 2,94 milhões de eleitores foram este domingo às urnas numa taxa de participação recorde, que representa o dobro relativamente aos 1,47 milhões que votaram nas eleições anteriores. A comissão eleitoral confirmou tratar-se da maior participação de sempre em eleições distritais.

O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, lembrou esta segunda-feira que Hong Kong faz parte da China “independentemente do que aconteça” nas eleições. “Qualquer tentativa de atrapalhar Hong Kong ou mesmo prejudicar a sua prosperidade e estabilidade não será bem-sucedida”, garantiu.

O jornal estatal “China Daily” escreveu em editorial que as eleições “deverão ter servido como uma oportunidade para a cidade voltar ao normal”. “A relativa tranquilidade de que a cidade gozou vários dias antes das eleições sugere que todos os envolvidos as consideraram uma oportunidade para exporem os seus pontos de vista”, acrescentou o diário.

As únicas eleições totalmente democráticas em Hong Kong

Entre os vencedores estão antigos líderes estudantis e um candidato que substituiu o ativista Joshua Wong, a única pessoa impedida de concorrer às eleições. Jimmy Sham, um conhecido organizador dos protestos, espancado em outubro por assaltantes desconhecidos, também triunfou.

A participação normalmente baixa nas eleições para os conselhos distritais, tradicionalmente controlados por partidos pró-Pequim, ganhou uma nova importância no contexto dos protestos. As manifestações tiveram início em junho, na sequência de uma controversa proposta de alteração à lei de extradição, entretanto retirada pelo Governo local, mas transformaram-se num movimento que exige a melhoria dos mecanismos democráticos e que se opõe à crescente interferência do Governo central.

Estas eleições são as únicas totalmente democráticas em Hong Kong. Os membros do Conselho Legislativo, o Parlamento local, são escolhidos em parte pelo voto popular e em parte por grupos de interesses que representam diferentes sectores da sociedade, e o chefe do Executivo da região administrativa especial é escolhido por um colégio eleitoral de 1.200 membros, dominado por Pequim.

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