A acusação já tinha sido feita em privado, durante uma comissão da Câmara dos Representantes, mas tornou-se pública esta sexta-feira. Presente no Congresso norte-americano para a segunda sessão de audições no inquérito para a destituição do Presidente norte-americano, a antiga embaixada dos EUA na Ucrânia Marie Yovanovitch disse ter sido alvo de uma “campanha de difamação” por parte de Donald Trump com a ajuda de ucranianos, que levou ao seu afastamento do cargo, em maio deste ano.
Marie Yovanovitch negou as “alegações infundadas” que Rudolph W. Giuliani e outras pessoas que trabalhavam com o advogado pessoal de Donald Trump fizeram a seu respeito. Alegações essas que fazem parte de uma “campanha de desinformação” orquestrada por cidadãos ucranianos que, afirmou, sentiram-se “ameaçados” face às suas promessas e tentativas para acabar com a corrupção.
“Rudolph W. Giuliani tinha a obrigação de saber que todas essas informações a meu respeito eram suspeitas, precisamente por terem sido transmitidas por indivíduos com motivações questionáveis e razões de sobra para acreditar que as suas ambições políticas e económicas iriam ser travadas pelas nossas políticas anticorrupção”, afirmou Yovanovitch. A antiga embaixadora afirmou ainda que a “falta de proteção” que teve por parte do Departamento de Estado norte-americano “teve um impacto profundamente negativo” sobre a instituição. “Isto não tem só que ver comigo e mais uma dúzia de pessoas. A instituição está a degradar-se e isso terá consequências danosas, se é que não está já a ter.”
Yovanovitch criticada por Trump no Twitter enquanto prestava depoimento no Congresso
Mas mais do que essas alegações, incomodaram-na as palavras de Donald Trump no polémico telefonema com o Presidente ucraniano, que aconteceu a 25 de julho. “Foi um momento horrível. Fiquei pálida ao ler a transcrição, disse-me uma pessoa que estava comigo. Tive uma reação muito física.” Nessa conversa, e segundo a transcrição divulgada pela Casa Branca, Trump ter-se-á referido à antiga embaixadora como “bad news” e garantido que iam “acontecer-lhe umas coisas” quando regressasse aos EUA. “Fiquei em choque”, disse ainda Yovanovitch, “devastada por saber que o Presidente dos EUA tinha falado daquela maneira sobre um embaixador com o chefe de Estado de outro país”. “Nem conseguia acreditar. Encarei aquelas palavras como uma ameaça.”
Enquanto a antiga embaixadora testemunhava no Congresso, Trump publicava no Twitter uma mensagem a criticá-la e a dizer-se no direito, enquanto Presidente, de afastá-la do cargo. “Em todos os lugares por onde passa correu mal. Começou mal na Somália, em que deu? A seguir na Ucrânia, onde o novo Presidente ucraniano falou mal dela no meu segundo telefonema para ele. O presidente do país tem o direito absoluto de nomear embaixadores”, escreveu Trump, tendo sido de imediato acusado pelos democratas de estar a tentar intimidar uma testemunha. E isso mesmo terá sentido a própria ex-embaixadora, que, interrompendo o seu depoimento para se pronunciar sobre a publicação no Twitter, disse que esta teve um “efeito intimidador”.
Casa Branca divulga transcrição de outro telefonema entre Trump e o seu homólogo ucraniano
Antes de o depoimento ter começado, a Casa Branca divulgou a transcrição de outro telefonema entre Trump e o seu homólogo ucraniano para mostrar que não houve nada de errado ou potencialmente errado dessa vez, e limpar as suspeitas. A transcrição da chamada, feita a 21 de abril, foi lida em voz alta no Congresso, tendo Trump nessa ocasião congratulado o Presidente ucraniano pela sua vitória nas eleições.
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