O canal de televisão La Sexta desmontou esta terça-feira algumas das declarações do líder do partido de extrema-direita Vox, Santiago Abascal, feitas no debate da véspera para as eleições legislativas de domingo em Espanha. “A mentira foi um dos grandes protagonistas da estreia de Abascal no debate eleitoral a cinco”, começa por referir a estação privada.
Sobre a lei contra a violência de género, o líder do Vox disse que a legislação em vigor “converteu muitos homens em presumíveis culpados”, acrescentando que “86% das queixas foram arquivadas”. Na realidade, em 2018 apenas 1,3% das denúncias foram arquivadas, corrige o La Sexta, que cita o Conselho Superior da Magistratura.
“Esta lei não serviu para reduzir o número de mulheres assassinadas”, disse ainda Abascal. Outra mentira, assegura o canal: este número baixou desde que a lei foi aprovada em 2004.
“70% dos acusados [de violações em grupo] são estrangeiros”, disse Abascal
No capítulo das migrações, o líder da extrema-direita espanhola falou em “mais de 100 ‘manadas’ [violações em grupo]” e assegurou que “70% dos acusados são estrangeiros”. Também neste ponto Abascal mentiu, sublinha o La Sexta. A percentagem que o político menciona diz respeito a agressões em ‘bando’, em que vítima e agressores não se conheciam, o que representa 2,7% de todas as agressões e abusos sexuais reportados durante o ano de 2010, segundo dados do Instituto de Ciência Forense e Segurança.
A dada altura do debate, Abascal dirigiu-se aos restantes líderes partidários e perguntou: “O que vão fazer para impedir o efeito de chamada da imigração ilegal?”. De acordo com o último relatório do Ministério do Interior, a que o portal de verificação de factos Newtral teve acesso, a chegada de imigrantes a Espanha caiu para quase metade (49%), pelo que o tal efeito não existe, conclui o La Sexta.
Vox poderá quase duplicar número de deputados
O debate de segunda-feira, o único antes das quartas eleições legislativas em quatro anos, foi considerado histórico porque a extrema-direita marcou presença pela primeira vez e porque houve um recorde de cinco candidatos (todos homens) em palco. A Abascal juntaram-se Pedro Sánchez (líder do PSOE e primeiro-ministro em funções), Pablo Casado (PP), Pablo Iglesias (Unidas Podemos) e Albert Rivera (Ciudadanos).
O Vox tem atualmente 24 assentos parlamentares, conquistados nas eleições de 28 de abril, e, de acordo com uma sondagem publicada esta segunda-feira pelo diário “El Mundo”, pode tornar-se no domingo a quarta política, com 13,2% dos votos e a possibilidade de eleger entre 39 e 44 deputados.
A Catalunha como “arma de arremesso”
Na análise ao debate televisivo, o jornal “El País” escreveu: “Sánchez procura o centro num debate sem saídas para o bloqueio, endurece as suas propostas contra a independência da Catalunha e evita qualquer piscadela de olho ao Podemos”. “Sánchez finge dureza mas não renega os independentistas”, sintetizou, por sua vez, o “El Mundo”, segundo o qual “são poucas as possibilidades de começar 2020 com um Governo estável”.
O “La Vanguardia” puxou para título “O bloqueio impõe-se no debate eleitoral” e, em três subtítulos sucessivos, desenvolveu: “Sánchez mantém distância em relação a Iglesias e evita comprometer-se com uma coligação de esquerdas”, “As direitas enfrentam-se pelo mesmo eleitorado, com Casado a oferecer-se como alternativa” e “A crise catalã converte-se em arma de arremesso que condicionará a investidura”.
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