A política dos trabalhistas para o Brexit foi esta terça-feira finalmente confirmada pelo líder do partido, Jeremy Corbyn: O ‘labour’ vai renegociar o acordo com Bruxelas, lutando por uma saída com mais ligações à UE, e depois vai propor um referendo com a opção de revogação do artigo 50 nos boletins. Assim, prometeu Corbyn, o Brexit seria uma realidade muito mais rapidamente com ele do que com os conservadores no poder. “A ironia é que, mesmo depois de tanta presunção, o acordo de Johnson não conseguirá garantir o Brexit porque vai levar-nos a anos de negociações. O nosso plano é mais rápido porque não vamos rasgar a nossa principal aliança comercial”, explicou.
“Muitas vezes sou acusado de tentar falar bem com as pessoas que votaram para ficar na União Europeia e com aqueles que escolheram sair e eu não me importo com essa crítica, eles têm razão e eu não vou começar agora a falar só para metade do país”, disse esta terça-feira Jeremy Corbyn, em Harlow, Essex, durante o seu primeiro grande discurso sobre o Brexit.
O nível de crispação vai alto nestes primeiros dias de campanha, com alguns jornais a troçar abertamente do discurso do líder da oposição trabalhista que falou de “pelos de rato na paprika e vermes dentro do sumo de laranja” como exemplos do “caos” que se abateria sobre o país se a comida britânica passasse a ser importada dos Estados Unidos.
“O que eles querem é uma corrida até ao fundo do poço, querem baixar os ‘standards’ e a proteção dos nossos trabalhadores e transformar o país numa espécie de América, de mercados totalmente desregulados”, atirou Corbyn contra os conservadores. Há muito que flutuam notícias de que, depois do Brexit, o Reino Unido pode ser forçado a aceitar, por exemplo, produtos agrícolas de outros países que, na origem, sofrem um controlo de qualidade menos exigente do que aquele que é feito atualmente pelas autoridades europeias. Além disso, existe o medo de que empresas norte-americanas possam comprar “partes” do Serviço Nacional de Saúde. “O que Boris Johnson quer é frustrar o Brexit e lançar-nos uma época de thatcherismo em esteróides”, disse Corbyn convocando para a sala o fantasma mais assustador de todos para quem se diz trabalhista.
Quando Donald Trump esteve reunido com a ex-primeira-ministra Theresa May, fez questão de dizer que a saúde estaria em cima da mesa como qualquer outra área da economia mas vários líderes, incluindo conservadores, enviaram mensagens ao Presidente dos Estados Unidos a dizer que o SNS britânico não é matéria-prima. “Um voto pelos conservadores é um voto por mais atrasos, por mais negociações opacas, mais promessas quebradas e mais distrações no caminho para salários mais decentes”, disse ainda Jeremy Corbyn. Mas opaco também ele foi, quando as perguntas começaram a tocar no tema da imigração de dentro do espaço europeu para o Reino Unido. No passado, os trabalhistas disseram que a liberdade de movimento terminaria se o Reino Unido deixasse a UE, mas na conferência do partido os delegados aprovaram uma moção apoiando o princípio da liberdade de movimento.
Perto de metade não quer Corbyn primeiro-ministro
Tem sido comum ler, nas análises que por estes dias enchem as páginas da imprensa britânica, que o Brexit é um tema que influencia principalmente a votação nos conservadores: os que querem um Brexit votam neles, os que estão irritados porque Johnson não conseguiu retirar o país da UE votam contra eles; mas também o ‘labour’ tem o pescoço em risco, e precisamente por causa do Brexit. É que, em primeiro lugar, há milhares de trabalhistas desiludidos com Corbyn por este sempre ter tratado a questão da UE como um assunto secundário, colocando no assunto a mesma paixão que ele próprio nutre pelo projeto europeu: nenhuma. E isso seria aceitável se Corbyn fosse líder ou da extrema-direita ou da extrema-esquerda mas não é há sondagens que não lhe são nada favoráveis.
A empresa YouGov, por exemplo, descobriu que as pessoas que votaram para sair estão mais preparadas para aceitar uma saída sem acordo do que os europeístas estão para aceitar Corbyn como primeiro-ministro. Quase metade (48%) dos britânicos prefere ver a Grã-Bretanha deixar a UE e Jeremy Corbyn não se tornar primeiro-ministro. Por outro lado, apenas pouco mais de um terço (35%) prefere que o líder trabalhista passe a ocupar o número 10 de Downing Street, mesmo que este prometa um referendo.
Sobre o perigo de que o partido do Brexit, de Nigel Farage, possa investir especialmente nas comunidades mais pobres, que tendencialmente votariam ‘labour’ mas no referendo votaram para sair, Corbyn prefere confiar no discernimento dos eleitores: “O Farage é como um pónei que só tem um truque. O programa eleitoral do seu partido não oferece qualquer solução a essas comunidades”.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: afranca@impresa.pt