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China avisa EUA que críticas sobre uigures na ONU não são “úteis” às negociações comerciais

China avisa EUA que críticas sobre uigures na ONU não são “úteis” às negociações comerciais
PETER PARKS/AFP/Getty Images

O embaixador chinês nas Nações Unidas reagiu assim ao apelo de um grupo de 20 países para que Pequim deixe de deter uigures e outras minorias muçulmanas. Os negociadores americanos e chineses estão a trabalhar para concluir o texto de um acordo comercial provisório para Trump e Xi assinarem numa cimeira próxima de cooperação económica

China avisa EUA que críticas sobre uigures na ONU não são “úteis” às negociações comerciais

Hélder Gomes

Jornalista

Um grupo de 23 países pressionou esta terça-feira a China, nas Nações Unidas, para que deixe de deter uigures e outras minorias muçulmanas. Do grupo fazem parte os EUA, o que levou o embaixador da China na ONU a advertir que a recomendação não é “útil” para as negociações comerciais entre Pequim e Washington.

“É difícil imaginar que, por um lado, se tente obter um acordo comercial e, por outro, se recorra a outras questões, especialmente questões de direitos humanos, para culpar os outros”, disse o embaixador chinês, Zhang Jun, citado pela agência Reuters. O diplomata classificou as acusações contra Pequim como “infundadas”, “uma interferência grosseira nos assuntos internos da China” e “uma provocação deliberada”.

Os negociadores americanos e chineses estão a trabalhar para concluir o texto de um acordo comercial provisório para os respetivos Presidentes, Donald Trump e Xi Jinping, assinarem na cimeira de cooperação económica da Ásia-Pacífico, que decorre entre 16 e 17 de novembro no Chile. Um funcionário da Administração americana disse que, apesar da possibilidade de o texto não estar concluído a tempo de ser assinado naquele encontro, tal não significa que o acordo se esteja a desfazer.

“Apelamos ao respeito dos direitos humanos em Xinjiang e em toda a China”

Questionada sobre se a posição assumida por aquele grupo de países poderia afetar as negociações comerciais, a embaixadora dos EUA na ONU, Kelly Craft, respondeu: “Eu estaria aqui, independentemente de ser a China ou qualquer outro. Onde quer que haja violações dos direitos humanos, estaremos aqui em defesa daqueles que sofrem”.

Foi a representante permanente do Reino Unido na ONU, Karen Pierce, quem entregou uma declaração conjunta à comissão de direitos humanos da Assembleia Geral das Nações Unidas, em nome dos 23 países, que incluem Alemanha, Austrália, Canadá, EUA, França, Holanda, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Reino Unido e Suécia. “Apelamos ao Governo chinês para que cumpra as suas leis nacionais e compromissos internacionais no respeito dos direitos humanos, designadamente a liberdade de religião ou crença, em Xinjiang [região do noroeste] e em toda a China”, disse Pierce.

“Centros de educação vocacional” vs “campos de concentração”

Nos últimos anos, têm-se acumulado relatos de que mais de um milhão de pessoas, principalmente da etnia uigure, estão detidas em campos de internamento em Xinjiang. Grupos de defesa dos direitos humanos e antigos detidos descrevem-nos mesmo como “campos de concentração”, onde os prisioneiros são obrigados a assimilar a cultura han, maioritária na China.

As autoridades de Pequim classificam os campos como “centros de educação vocacional” onde os uigures recebem orientação profissional, justificando a sua existência com a necessidade de afastar as pessoas do extremismo religioso, terrorismo e separatismo.

Paralelamente, o embaixador da Bielorrússia na ONU, Valentin Rybakov, dirigiu-se à mesma comissão para, em nome de 54 países – entre os quais, China, Bolívia, Egito, Paquistão, República Democrática do Congo, Rússia e Sérvia –, elogiar a atuação de Pequim. “A segurança voltou a Xinjiang e os direitos humanos fundamentais das pessoas de todos os grupos étnicos naquela região estão salvaguardados”, declarou.

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