"Ouvimos agora da UE que a extensão do artigo 50 até 31 de janeiro foi confirmada. Portanto a nossa condição de tirar o 'no deal' de cima da mesa foi cumprida. Vamos agora lançar a campanha mais ambiciosa e de mudanças radicais que nosso país já viu", disse Jeremy Corbyn na reunião do seu gabinete de ministros, anunciado assim o fim das indecisões que há meses marcavam a presença dos trabalhistas na política britânica.
Neste momento a média das sondagens já publicadas no Reino Unido sobre um possível confronto em eleições gerais não apresentam a Jeremy Corbyn o melhor dos cenários: cerca de 10 pontos, em média, os separam dos conservadores (oscilando entre os 35% e os 37% para os conservadores) mas um passeio breve pelo recente passado eleitoral do país lembra-nos que, em 2017, nas eleições que Theresa May, ex-primeira-ministra britânica, marcou para conseguir ainda mais força para o seu plano do Brexit, os trabalhistas conseguiram uma votação largamente superior ao que era antecipado. Também em 2015, quando todos os jornais da manhã de eleições davam David Cameron, ex-primeiro-ministro, e Ed Milliband, ex-líder dos trabalhistas, quase empatados ao milímetro, o final do dia revelou uma realidade que ninguém tinha previsto: Cameron venceu - e confortavelmente.
Apesar de já terem confirmado que não se vão opôr a eleições, resta ainda saber se os trabalhistas apoiam o dia 12 de dezembro para a sua realização, como proposto por Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, na segunda-feira ou se vão tentar convencer a Câmara dos Comuns a mudar a data para 9, ainda dentro do período escolar e por isso, argumenta o 'Labour', mais respeitador dos direitos dos jovens que votam muitas vezes não na cidade onde nasceram mas naquela em que estudam.
As reações começam a chegar. As boas, como a de Chuka Umunna, ex-membro do Labour mas agora nos Liberais-Democratas, que disse à Sky News que também apoia a decisão de novas eleições: “Queremos uma eleição porque há uma constante minoria de deputados do ‘labour’ e ‘tories’ que estão a bloquear a necessidade de um voto popular que possa permitir parar o Brexit neste parlamento”. Algumas, ainda que do mesmo lado político, não são tão boas. Caroline Lucas, histórica líder ambientalista, deputada e apoiante de um segundo referendo, diz-se desapontada: “Porque é que os trabalhistas estão a dar ao Boris o que ele quer? Há imensos exemplos de governos maioritários que depois regressam ao parlamento, mesmo que com menos votos. Há um risco enorme de que as vozes que apoiam um segundo voto não sejam ouvidas”, escreveu no Twitter.
Ainda assim, não há garantias de que o projeto de lei de Johnson passe esta noite na Câmara dos Comuns, apesar de a probabilidade ser grande. Isto porque qualquer deputado pode propor uma emenda à discussão da Câmara e se alguma das emendas for inaceitável para os conservadores, por exemplo, a obrigação da realização de um segundo referendo, então Johnson pode retirar a lei totalmente, impedindo-a de progredir com as emendas aprovadas e, assim, impedindo uma eleição geral.
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