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Brexit. Londres tem de nomear comissário ou incorre numa infração. Mas será problemático?

Brexit. Londres tem de nomear comissário ou incorre numa infração. Mas será problemático?
Peter Summers/Getty Images

O chefe da diplomacia portuguesa desdramatiza a “obrigação” de o Reino Unido nomear um comissário. Insistência de Boris Johnson em não nomear alguém não deverá atrapalhar a tomada de posse da nova Comissão Europeia

Brexit. Londres tem de nomear comissário ou incorre numa infração. Mas será problemático?

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

Ao mesmo tempo que os 27 dão mais três meses ao Reino Unido para ratificar o acordo de saída, lembram que ser Estado Membro inclui a obrigação de nomear um comissário. Até agora, Boris Johnson sempre deixou claro que não pretendia indicar ninguém. Se mantiver esta postura estará a desrespeitar as regras europeias.

"Se não designar comete uma infração", disse esta segunda-feira o chefe da diplomacia portuguesa. Só que, ao mesmo tempo, Augusto Santos Silva desdramatiza esse cenário. "Comparada com a complexidade das questões, digamos que essa é uma questão a que eu, ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo português, não darei demasiada relevância", justificou aos jornalistas, sublinhando que "muito positivo" é o "acordo conseguido na reunião de embaixadores", uma vez que garante que não haverá Brexit caótico na sexta-feira.

A presidente-eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tinha já feito saber que iria pedir um comissário a Londres, caso fosse aprovada a extensão da permanência dos britânicos. Esta segunda-feira, os embaixadores dos 27 confirmaram o dever de nomear um britânico para o colégio de comissários, lembrando ainda a Londres que - enquanto não sair - deve comportar-se "de forma construtiva e responsável", cumprindo "compromissos e obrigações do Tratado", sem perturbar os objetivos da UE.

Tomada de posse da comissão pode não ser afetada

Questionada sobre se a equipa de Von der Leyen pode tomar posse sem um comissário britânico, a Comissão Europeia responde apenas que a instituição "é composta por um comissário de cada Estado Membro", remetendo para as conclusões de hoje da reunião de embaixadores.

“A questão não é pacífica mas a Comissão tem pareceres jurídicos que dizem que sim", responde ao Expresso Pedro Silva Pereira. O eurodeputado faz parte do grupo de trabalho do Brexit no Parlamento Europeu e antevê a possibilidade de, mesmo sem comissário britânico, os restantes 26 comissários e a presidente poderem começar a trabalhar. Desta forma não ficariam reféns de Londres, caso Boris Johnson arrastasse a nomeação até à nova data de saída, 31 de janeiro.

No entanto, Silva Pereira considera também que, "de acordo com o dever de "sincera e leal cooperação" dos Estados-membros, o Reino Unido tem "obrigação" (e não apenas o direito) de designar um Comissário".

A decisão está agora nas mãos de Boris Johnson, numa altura em que o primeiro-ministro pretende ir a eleições, o que lhe pode dar argumentos para deixar a nomeação para mais tarde. O Governo romeno caiu este mês - depois de os eurodeputados rejeitarem a comissária indicada por Bucareste - e o processo de formação de um novo Governo tem estado a atrasar a nova nomeação.

A nova Comissão Europeia deveria tomar posse a 1 de novembro, mas o chumbo dos comissários da Roménia, Hungria e França fez derrapar o calendário. Budapeste e Paris já nomearam novos nomes. Esta segunda-feira foram entrevistados por Ursula von der Leyen, mas têm ainda de passar no teste dos eurodeputados, tal como os comissários que vierem a ser indicados pela Roménia e Reino Unido.

O Parlamento Europeu espera aprovar o novo executivo no próximo mês, permitindo que subsitua a Comissão Juncker no dia 1 de dezembro. Porém, a data ainda não está garantida. E, nesta altura, não é só o comissário britânico que pode atrasar o processo.

Ter 27 em vez de 26 comissários, obriga a alemã Ursula von der Leyen a repensar uma parte do seu organigrama, ou pelo menos a encontrar uma pasta para o comissário britânico. Uma situação que deixa ainda várias questões em aberto.

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