O Governo britânico rejeita haver divergências no seu interior sobre os passos a dar relativamente ao Brexit, noticia a BBC esta quinta-feira. Downing Street indicou que o primeiro-ministro, Boris Johnson, irá propor eleições antecipadas antes do Natal se a União Europeia (UE) conceder um adiamento da saída do Reino Unido até janeiro.
Segundo o jornal “The Sun”, o principal conselheiro de Johnson, Dominic Cummings, lidera a fação que pretende avançar para eleições e abandonar as tentativas de fazer passar no Parlamento o acordo entre Londres e Bruxelas. No entanto, o ministro para a Irlanda do Norte, Julian Smith, estará entre os membros do Governo que defendem ainda ser possível aprovar um projeto de lei que ratifique o acordo para o Brexit.
Entretanto, fonte do gabinete do primeiro-ministro garantiu à agência Reuters, sob anonimato, que o Reino Unido sairá da UE nos termos do acordo de Johnson. Questionada sobre a data dessa saída, a fonte limitou-se a dizer: “O Parlamento retomou o controlo”. E sobre a possibilidade de eleições antes do Natal, respondeu: “Talvez. Veremos.”
Na terça-feira, a Câmara dos Comuns aprovou a proposta de lei que aplica o acordo que Johnson trouxe na semana passada de Bruxelas. Mas, cerca de 20 minutos depois, os deputados chumbaram a calendarização proposta pelo primeiro-ministro. Para que a saída ainda pudesse acontecer até quinta-feira da próxima semana, 31 de outubro, Johnson pretendia que os deputados discutissem e aprovassem em três dias todas as alterações às leis britânicas necessárias para o acordo ser considerado legal no Reino Unido. A maioria dos deputados considerou tratar-se de um período de tempo demasiado curto.
“Uma pausa” que poderá durar mais 24 horas
O primeiro-ministro deixou claro que foi o Parlamento, não o Governo, a solicitar um adiamento de três meses, até 31 de janeiro de 2020, e que informou os líderes europeus de que ainda tencionava consumar o Brexit no prazo atual, ou seja, até ao último dia do mês. Horas antes das votações de terça-feira, o primeiro-ministro ameaçara: ou a Câmara dos Comuns aprovava a sua proposta de calendário, ou ele proporia eleições antecipadas até ao Natal. Depois da rejeição da proposta, não se referiu a quaisquer eleições.
Afirmando-se “desapontado” com a segunda votação, Johnson anunciou “uma pausa” na legislação até se conhecer a decisão da UE sobre se é concedido um novo adiamento e qual a duração deste. Os embaixadores dos restantes 27 Estados-membros realizaram já uma primeira reunião informal, concordando quanto à necessidade de um adiamento para evitar uma saída sem acordo – mas a sua duração continua a ser objeto de discussão. A decisão europeia não deverá ser conhecida antes desta sexta-feira.
Os riscos que Johnson corre
Johnson e o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, encontraram-se esta quarta-feira para tentarem resolver o impasse. Contudo, nada foi acordado e não há planos para novas conversações.
Se o primeiro-ministro decidir forçar eleições antecipadas, não há garantias de que tenha sucesso, lembra a BBC. Johnson precisa do apoio de dois terços dos deputados para avançar para esse cenário, que já foi rejeitado duas vezes no Parlamento.
Os conservadores também poderão apresentar uma moção de censura ao seu próprio Governo, mas as regras parlamentares indicam que, se for aprovada, os Comuns têm 14 dias para formar um Executivo alternativo. Esta opção é arriscada para Johnson, uma vez que se abre a possibilidade de os partidos da oposição se unirem em torno de um outro líder.
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