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“O problema não são os quatro cêntimos.” “O problema não são os quatro cêntimos.” “O problema não são os quatro cêntimos”

“O problema não são os quatro cêntimos.” “O problema não são os quatro cêntimos.” “O problema não são os quatro cêntimos”
Marcelo Hernandez / Getty

Poucas semanas depois de o Chile ter sido descrito pelo Presidente, Sebastián Piñera, como um “oásis” , o país, ou uma parte dele, revoltou-se e ocupou as ruas e está em greve geral. Poder-se-á pensar que por causa de um aumento de quatro cêntimos do preço do bilhete do metro na capital chilena destruíram-se estações e incendiaram-se carruagens e lojas e fizeram-se fogueiras com o entulho das ruas, mas isso é ver apenas a superfície do problema

“O problema não são os quatro cêntimos.” “O problema não são os quatro cêntimos.” “O problema não são os quatro cêntimos”

Helena Bento

Jornalista

Não é por causa de quatro cêntimos. A frase tem sido repetida insistentemente, não vá os protestos que já duram há seis dias em Santiago do Chile — e que já fizeram 15 mortos, em incêndios ou troca de tiros ou, no jargão das autoridades, em circunstâncias por esclarecer, e centenas de feridos e detidos — e os apelos que por ali vão sendo ouvidos não serem suficientes para mostrar que o problema não foi tanto o aumento do preço dos bilhetes do metro na capital chilena, mas sim o resto. Lucía Dammert, professora e investigadora na Universidad de Santiago de Chile, explica que “há razões estruturais, relacionadas com as políticas económicas que foram sendo adotadas e que não resolveram os problemas dos mais pobres e da classe média, nem melhoraram a sua qualidade de vida”, mas também outras “mais específicas e provavelmente mais importantes”, que têm que ver com “a falta de empatia que o atual governo, de direita, tem mostrado para com os cidadãos”. “A resposta do Governo, seja ao que for, é muito tecnocrata e isso tem aumentado a frustração das pessoas.”

Sebastián Piñera assumiu como principal prioridade para o seu segundo mandato, para o qual foi eleito em 2018, o combate à pobreza no país e isso, diz a académica chilena, “criou nos cidadãos a expectativa de que a sua vida pudesse melhorar mas tal não aconteceu”. “A maioria continua a sentir que vive numa sociedade profundamente desigual, em que os privilegiados veem os seus privilégios serem reforçados e os outros limitam-se a trabalhar para não receber nada de volta.” “Mais do que políticas diferentes, os chilenos querem mudanças estruturais”, acrescenta.

A desigualdade tem sido apontada, de facto, como um dos mais graves problemas do país, com vários especialistas a afirmarem que o aumento do preço dos bilhetes de metro é apenas a “ponta do icebergue” dos problemas que os chilenos enfrentam, como os salários descritos como “miseráveis” por oposição aos da elite política, as reformas “indignas” e a educação “de pouca qualidade”. Os primeiros protestos, na semana passada, foram aliás desencadeados por jovens que contestavam a falta de recursos para a educação e a “precariedade” nas salas de aula, à semelhança, embora numa menor escala, do que aconteceu em 2006 e 2011, com movimentos estudantis a ocuparem as ruas do país.

Uma petição que começou a circular nas redes sociais no início dos atuais protestos reforçava precisamente a questão da desigualdade. “O problema não são os quatro cêntimos” — de novo a mesma frase, que continua: “O problema é a desigualdade”. Um estudo do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), realizado em 2017 e citado pelo jornal chileno “La Tercera”, faz uma espécie de arqueologia do problema, que “de certo modo remonta à alocação de terras a espanhóis e seus descendentes durante a colonização do Chile, que coincidiu também com o surgimento da classe alta chilena”. E concluiu que “a desigualdade é parte da história do Chile e um dos seus principais desafios para o futuro”. “Há uma estrutura social que se perpetuou através do modelo das fazendas, que dividiu a sociedade em patrões, empregados, proprietários e trabalhadores não qualificados, com diferenças substanciais de poder e recursos”. Desde então, continua o estudo, “o fosso salarial oscilou em momentos específicos da História do país, mas em larga medida mantém-se estável desde meados do século XIX”.

Marcelo Hernandez/Getty Images

De acordo com o relatório anual Comissão Económica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) de 2017, cerca de 25% da riqueza do país está concentrada nas mãos de apenas 1% da população e apenas 2,1% em metade das famílias com os rendimentos mais baixos. “No contexto internacional, o Chile é, de longe, o país mais desigual da OCDE”, explicou ao mesmo jornal chileno Dante Contreras, docente universitário. “Isto causa uma grande tensão.” Embora o desempenho da economia distinga o Chile de muitos dos seus países vizinhos, o ritmo de crescimento tem sido inferior ao prometido pelo Presidente, Sebastián Piñera, e qualquer descrição sobre a vida na capital soa familiar: casas demasiado caras (só na última década o preço da habitação aumentou 150%, tendo os salários aumentado 25%, aponta o “El País”, citando um estudo da Universidade Católica do Chile) e transportes igualmente caros. O salário mínimo é de 301 mil pesos (cerca de 370 euros), mas 70% dos trabalhadores recebem menos do que cerca de 680 euros por mês.

“Um conflito social que estava latente no país desde há várias décadas”

Carlos Huneeus Madge, advogado, docente universitário e antigo diretor do Centro de Estudios de la Realidad Contemporánea do Chile (CERC), tem uma opinião semelhante. Num artigo enviado ao Expresso, afirma que o aumento do preço dos bilhetes de metro de 800 pesos (o equivalente a um euro) para 830 pesos — entretanto anulado devido aos protestos — “serviu apenas de gatilho para o eclodir de um conflito social que estava latente no país desde há várias décadas” e que “foi ignorado não apenas pelo atual governo como pelos anteriores”.

Esse conflito tem origens não só na Constituição do país, “que não reflete os valores e interesses da sociedade mas sim da minoria que apoiava a ditadura”, mas também no próprio sistema económico do país. “Partilham o mesmo pecado original, que é o de terem sido impostos pela ditadura, isto é, pela força. Deram origem a uma democracia semi-soberana e uma economia de mercado cujas limitações e carências estão relacionadas com o mal-estar político que se sente por estes dias no país”, afirma. Concebida em 1980 pelos militares que derrubaram o regime socialista do Presidente Salvador Allende e assassinaram ou fizeram desaparecer pelo menos três mil pessoas, a atual Constituição do Chile foi já revista mas essas alterações continuam a ser vistas como insuficientes. Antes de passar o testemunho, Michelle Bachelet, antecessora de Piñera, apresentou ao Congresso chileno um pacote legislativo para substituir a Constituição por outra capaz de garantir mais direitos (como o direito à educação gratuita, direito dos trabalhadores à greve e igualdade salarial entre homens e mulheres) e liberdades aos cidadãos.

Ainda na opinião de Carlos Huneeus Madge, o atual sistema económico do país, “assente num neoliberalismo extremo que desmantelou o Estado, é incompatível com uma democracia estável”. Exemplo disso, diz, são as privatizações, “que abrangeram quase todas as empresas públicas, como as do sector da energia, e estenderam-se depois ao sistema de pensões, educação, saúde e água”. As pensões são um tema especialmente fraturante no país, com os seus críticos a afirmarem que o sistema introduzido em 1982, em que os trabalhadores depositam as suas contribuições em contas individuais geridas por entidades privadas, não garante “pensões dignas” e “perpetua as desigualdades”. Em declarações à BBC, a politóloga chilena Gloria de la Fuente à BBC afirmou que “80% da população recebe reformas inferiores ao salário mínimo”. Também falou sobre os problemas na área da saúde, referindo que 20% da população paga por cuidados de saúde de qualidade e os restantes 80% recorrem a serviços públicos que não raras vezes falham por falta de hospitais e de especialistas, de cuidados de saúde primários, e com listas de espera enormes.

Marcelo Hernandez/Getty Images

O problema não são tanto as privatizações, afirma, por sua vez, Lucía Dammert, mas o modelo económico vigente no país, “que é o mais neoliberal do mundo” e “não garante quaisquer proteções sociais aos cidadãos”. “O Estado tem um papel muito limitado na sociedade e as pessoas sentem que só as grandes empresas são beneficiadas - e à custa dos trabalhadores.” É por isso que há gente nas ruas, não apenas jovens, mas muitos jovens: “Esta nova geração de chilenos, com 20, 30 anos, sempre viveu numa democracia, com liberdades e podendo expressar livremente a sua opinião, e é precisamente isso que está a fazer”.

Atos de brutalidade

O Governo chileno tem sido criticado por ter reagido tarde às manifestações e não da forma mais adequada. O Presidente adotou um discurso bélico, declarando que o país está em “guerra contra um inimigo poderoso e implacável que não respeita nada ou ninguém e que está disposto a usar a violência sem limites”, e sobre o Exército e a polícia, que ocuparam as ruas em grande número e de forma tão aparatosa como não se via desde o final da ditadura, recaem acusações de excesso de violência e atos de brutalidade. Dez cidades foram colocadas sob estado de emergência e em regime de recolher obrigatório.

No meio disso houve ainda tempo para declarações infelizes, como a do ministro da Economia, que sugeriu que os chilenos se levantassem mais cedo para pagar bilhetes de metro mais baratos. Nada a que os chilenos não estejam habituados, diz Carlos Huneeus Madge, sublinhando a “má reputação que as instituições e a elite política e empresarial têm junto da população” e que também ajuda a contar a história dos atuais protestos no país. O académico chileno fala dos vários casos de financiamento ilegal de campanhas políticas descobertos sobretudo em 2015, a que se foram juntando outros escândalos polémicos de fuga aos impostos, de corrupção envolvendo políticos e instituições, e de práticas de cartel por empresas de sectores-chave. “Muitos destes crimes não resultaram em condenações”, diz, tendo tal impunidade e falta de responsabilização consequências que sabemos previsíveis, como a indiferença em relação à política.

Lucía Dammert dizia esperar, quando falou ao Expresso, que o Governo e os partidos políticos se reunissem para falar sobre medidas de proteção social e, assim, responder às necessidades das pessoas. “Não é que isso vá acabar imediatamente com os protestos, mas pelo menos ajudará a diminuir a violência.” Não é certo, porém, que tenha razão. Na terça-feira, o Presidente anunciou um pacote de medidas sociais para travar os protestos, que incluem um aumento de 20% na pensão mínima e o congelamento das tarifas de eletricidade. Também reconheceu a sua “falta de visão” e pediu “perdão” aos chilenos, mas não parece ter sido suficientemente convincente — os principais sindicatos e movimentos sociais chilenos convocaram uma greve geral para esta quarta-feira e outra para esta quinta-feira. A partir daqui, tudo é incerto.

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