Donald Tusk despede-se esta terça-feira dos debates com os eurodeputados em Estrasburgo, mas sem certezas de que os britânicos também estão de saída. O presidente do Conselho Europeu termina o mandato no final de novembro e à partida não teria mais nenhuma cimeira a reportar ao Parlamento Europeu (PE). Só que o impasse em Londres deixa tudo em aberto, incluindo a possibilidade de uma reunião extraordinária de chefes de Estado e de Governo antes do final do mês.
"Estou a consultar os líderes sobre como reagir e vamos decidir nos próximos dias", diz Tusk.
Sem entrar em detalhes, o polaco dá o sinal de que a extensão é possível e que os 27 não deverão negá-la, caso essa seja a única forma de evitar o caos a 31 de outubro. Mesmo garantindo que a UE está preparada para todos os cenários e tem os planos de contingência a postos.
"Uma coisa deve ficar clara, tal como disse ao primeiro-ministro Johnson no sábado, um Brexit sem acordo nunca será decisão nossa", garantiu Tusk, ouvindo de seguida as palmas dos parlamentares europeus. Com a afirmação, a UE aponta também a agulha da responsabilidade para Londres.
O presidente do Conselho Europeu recebeu no sábado o pedido de extensão do Governo de Boris Johnson, mas deixa agora claro que a resposta será adaptada ao que sair de Westminster: "é óbvio que o resultado dependerá muito do que o parlamento britânico decida ou não decida".
Os 27 querem perceber se é, de facto, inevitável adiar a saída, e para que é o Reino Unido precisa de mais tempo.
Caso o acordo ainda passe na Câmara dos Comuns, poderia ser precisa apenas uma chamada extensão técnica, mais curta, para passar legislação. No entanto, se a opção for por um chumbo do que foi negociado por Boris Johnson, pela realização de eleições ou pela organização de um referendo, os 27 terão de considerar um calendário mais longo, de três, seis meses ou ainda mais.
"Perda de tempo e perda de energia"
De saída do cargo está também o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. O luxemburguês rejeitou na semana passada a necessidade de um prolongamento da permanência dos britânicos, mas esta terça-feira fala apenas de uma "perda de tempo e de energia" com o Brexit.
Aos eurodeputados lembra que há "um novo acordo, que de novo cria certeza". E que todo este processo deu "muito trabalho" às equipas de negociação da Comissão Europeia. "Podemos olhar nos olhos e dizer que fizemos tudo ao nosso alcance para garantir que a saída é ordenada", resume.
Os 27 líderes europeus aprovaram na quinta-feira passada um acordo revisto com Boris Johnson. Do lado da UE falta apenas a ratificação pelo Parlamento Europeu. Só que os eurodeputados querem ter a última palavra e também já deixaram claro que enquanto os homólogos britânicos não tomarem posição, do lado de cá da Mancha o documento também não será votado.
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