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Síria. Daesh lança ataque em Raqqa quando está para “breve” incursão turca contra militantes curdos

Síria. Daesh lança ataque em Raqqa quando está para “breve” incursão turca contra militantes curdos
DELIL SOULEIMAN/AFP/Getty Images

O ataque acontece após o anúncio dos EUA de que não iriam intervir numa operação militar turca contra forças curdas, que estará iminente, abrindo assim caminho às tropas de Ancara. O diretor de Comunicações do Governo turco deu “duas opções” aos curdos : “ou desertam ou teremos de os impedir de atrapalhar” a ofensiva contra o autoproclamado Estado Islâmico

Síria. Daesh lança ataque em Raqqa quando está para “breve” incursão turca contra militantes curdos

Hélder Gomes

Jornalista

Combatentes do Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico, levaram a cabo um ataque na cidade de Raqqa, no norte da Síria, segundo revelam uma força apoiada pelos EUA e dois grupos de ativistas sírios.

O ataque desta quarta-feira teve como alvo um posto das Forças Democráticas Sírias, lideradas pelos curdos e apoiadas pelos norte-americanos, numa cidade que já foi a capital de facto do Daesh.

Os combatentes curdos falam em três ataques suicidas contra as suas posições em Raqqa. Os curdos sírios já haviam alertado que uma invasão militar turca iria fazer ressurgir o Daesh.

O ataque acontece após o anúncio dos EUA, no último domingo, de que não iriam intervir numa operação militar turca contra forças curdas, que estará iminente, abrindo assim caminho às tropas de Ancara. O anúncio foi descrito pelos analistas como uma mudança repentina da política norte-americana, traduzindo-se, na prática, no abandono dos aliados curdos na região.

Nas últimas horas, o diretor de comunicações do Governo turco, Fahrettin Altun, anunciou no Twitter que as “forças armadas turcas, juntamente com o exército sírio, atravessarão em breve a fronteira turco-síria”.

O responsável deu “duas opções” às Unidades de Proteção Popular (YPG), uma organização armada curda que a Turquia considera uma organização terrorista: “ou desertam ou teremos de os impedir de atrapalhar” a ofensiva turca contra o Daesh.

Turquia quer deslocar dois milhões de refugiados sírios

Ancara pretende que o nordeste sírio fique livre de combatentes das YPG. Estas unidades eram uma parte importante das Forças Democráticas Sírias, as forças apoiadas pelos EUA que derrotaram o Daesh na Síria.

A Turquia considera as YPG uma extensão do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que luta pela autonomia curda na Turquia há mais de três décadas. As YPG negam qualquer vínculo organizacional direto àquele partido. No passado, Ancara já condenou Washington por apoiar as YPG.

Albergando 3,6 milhões de sírios que fugiram da guerra civil no seu país, a Turquia pretende igualmente transferir dois milhões desses refugiados do seu território para uma “zona segura”.

O comunicado de domingo da Casa Branca surge depois de, na véspera, o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ter anunciado que a incursão turca aconteceria em breve. Durante uma conversa telefónica com o Presidente dos EUA, Donald Trump, Erdogan mostrou-se frustrado com a falta de progresso na criação de uma “zona segura” no nordeste da Síria, ao longo da fronteira com a Turquia, com que os aliados da NATO tinham concordado em agosto.

“Uma facada nas costas”

As Forças Democráticas Sírias descreveram o anúncio da retirada de Washington como “uma facada nas costas” mas prometeram “defender” a sua terra “a todo o custo”.

Esta segunda-feira, Trump ameaçou “destruir” a economia turca no caso de a intervenção de Ancara ultrapassar os limites. “Como disse antes, e apenas para reiterar, caso a Turquia faça algo que eu, na minha grande e inigualável sabedoria, considere que está fora dos limites, destruirei e aniquilarei totalmente a economia da Turquia”, escreveu no Twitter. “Já o fiz anteriormente!”, acrescentou Trump, numa referência à queda da lira turca, que em agosto perdeu 25% do seu valor após Washington ter convertido a libertação do missionário protestante Andrew Brunson, que entretanto regressou aos EUA, numa causa diplomática.

A televisão nacional do Irão noticiou esta terça-feira que o ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Mohammad Javad Zarif, telefonou ao seu homólogo turco, Mevlüt Çavuşoğlu, para expressar a sua oposição à operação de Ancara. O chefe da diplomacia iraniana instou a Turquia a respeitar a integridade e a soberania da Síria.

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