Na China, o humor tem rédea curta. Os últimos a sentirem-no na pele foram os criadores da série animada “South Park”. Habituados a recorrer sem limites à sátira e ao humor negro para retratar a sociedade norte-americana, viram a “sitcom” ser censurada em todas as plataformas digitais na China na sequência de um episódio incómodo para Pequim.
Numa cena, um personagem é detido no aeroporto quando tenta entrar na China com marijuana para vender a “chineses com dinheiro” e enviado para um campo de trabalhos forçados, numa alusão ao que hoje se passa com as minorias da região chinesa de Xinjiang.
Noutro quadro, outro personagem aborda algo apresentado como uma tendência nos Estados Unidos e que passa por ajustar as manifestações culturais à censura chinesa. “Não vale a pena viver num mundo em que a China controla a arte do meu país”, diz.
O episódio “Band in China” [Banda na China] alude ainda à semelhança física entre o Presidente Xi Jinping e o ursinho Pooh, imagem proibida na China. Fotografias do boneco ou da comparação surgem com frequência em protestos anti-China, em Hong Kong, Taiwan ou em países onde o chefe de Estado chinês não é presença desejada.
Reagindo às notícias de censura da sua série na Internet e nas redes sociais chinesas, veiculadas pela publicação “The Hollywood Reporter”, os criadores da série recorreram ao Twitter para endereçar um “pedido de desculpa oficial à China”. Carregado de humor e ironia, esse aparente “mea culpa” transformou-se numa nova jornada de gozo.
“Tal como a NBA, nós acolhemos os censores chineses nas nossas casas e nos nossos corações. Também nós amamos mais o dinheiro do que a liberdade e a democracia. Xi não se parece nada com o Ursinho Pooh. Sintonize o nosso 300.º episódio esta quarta-feira às 10! Longa vida ao grande Partido Comunista da China! Que a colheita de sorgo deste outono seja abundante! Nós bem agora China?”
A referência à NBA, a principal liga norte-americana de basquetebol profissional, decorre de um tweet recente do diretor-geral dos Houston Rockets, Daryl Morey, de apoio aos manifestantes em Hong Kong. A mensagem foi entretanto apagada, mas não evitou que várias empresas chinesas cortassem apoios à equipa e à liga. O canal estatal CCTV 5, por exemplo, anunciou que deixaria de transmitir os jogos da equipa do Texas.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: MMota@expresso.impresa.pt