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“Vou contar-vos um segredo: sim, claro que vamos” interferir nas eleições americanas, troça Putin

“Vou contar-vos um segredo: sim, claro que vamos” interferir nas eleições americanas, troça Putin
Valery Sharifulin/TASS/Getty Images

O líder russo também comentou o escândalo motivado pela conversa telefónica entre os Presidentes dos EUA e da Ucrânia, que levou à abertura do processo de ‘impeachment’. “Com base no que sabemos, não houve ali nada de errado. Trump pediu ao seu homólogo para investigar possíveis esquemas de corrupção de administrações anteriores”, relativizou

“Vou contar-vos um segredo: sim, claro que vamos” interferir nas eleições americanas, troça Putin

Hélder Gomes

Jornalista

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, troçou esta quarta-feira com a eventual interferência estrangeira em eleições norte-americanas. Quando questionado sobre as preocupações com a possibilidade de o Kremlin interferir nas presidenciais do próximo ano nos EUA, Putin sussurrou: “Vou contar-vos um segredo: sim, claro que vamos fazer isso para finalmente vos fazermos felizes. Só não digam a ninguém.”

“Sabem, já temos problemas que cheguem. Estamos empenhados em resolver problemas internos, é principalmente nisso que estamos focados”, acrescentou, falando num painel de uma conferência sobre energia em que também participava o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Mohammed Barkindo.

“A minha vida anterior ensinou-me que qualquer conversa pode tornar-se pública”

O líder russo também comentou o escândalo motivado pela conversa telefónica entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, e que levou o Partido Democrata a abrir um procedimento de ‘impeachment’. “Não fui Presidente a minha vida toda. A minha vida anterior ensinou-me que qualquer conversa pode tornar-se pública”, disse. “Por isso, quando tentaram lançar um escândalo relativamente à minha reunião com Trump em Helsínquia [no ano passado], dissemos diretamente à Administração [americana] que tornasse a conversa pública. Se alguém quer saber alguma coisa, publiquem-na. Não nos importamos”, juntou.

Após a cimeira entre os dois países na capital finlandesa, a Casa Branca foi questionada ao constatar-se que a transcrição oficial omitia uma parte de uma pergunta. Trump também foi criticado depois de ter confiscado as notas de tradutor de uma outra conversa com Putin. “Garanto-vos que não havia ali nada que pudesse comprometer o Presidente Trump. Tanto quanto percebi, não fizeram aquilo por princípio. Simplesmente há coisas que não devem ser públicas”, referiu.

“A equipa de Nixon pôs escutas. Trump foi escutado!”

Sobre o ‘impeachment’ nos EUA, Putin comentou ainda: “Recordam sempre Nixon. A equipa de Nixon pôs escutas, estava a escutar os seus rivais. Mas esta é uma situação completamente diferente. Trump foi escutado! E com base no que sabemos da chamada, não houve ali nada de errado. Trump pediu ao seu homólogo para investigar possíveis esquemas de corrupção de administrações anteriores.”

O caso de Richard Nixon é frequentemente citado quando se fala de ‘impeachment’ nos EUA para se recordar que o Presidente renunciou, ele próprio, ao cargo em 1974, antes de o processo poder avançar. Assim, o ‘impeachment’ propriamente dito só aconteceu duas vezes na história americana, com Andrew Johnson, no século XIX, e com Bill Clinton, no final dos anos 1990. Em nenhum dos dois casos, o processo resultou na deposição do Presidente.

A polémica conversa telefónica entre Trump e Zelensky desencadeou uma queixa formal de um denunciante que, por sua vez, conduziu à abertura do processo de destituição presidencial. Uma transcrição da conversa, publicada na semana passada, indica que o Presidente americano instou o homólogo ucraniano a investigar alegações contra o ex-vice-Presidente Joe Biden, candidato à nomeação democrata para as eleições do próximo ano, e o seu filho Hunter Biden.

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