Hong Kong. “A situação está descontrolada devido à brutalidade policial”, conta advogada ao Expresso
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No sábado, assinalou-se o quinto aniversário do Movimento dos Guarda-Chuvas e esta terça-feira esperam-se “protestos de maior envergadura” por ocasião do 70.º aniversário da fundação da República Popular da China. “A polícia deixa muitos manifestantes inconscientes antes de os deter”, acusa Angeline Chan
As estações de metro e várias estradas de Hong Kong foram reabertas esta segunda-feira, após um fim de semana em que se assinalou o quinto aniversário do Movimento dos Guarda-Chuvas e na véspera das comemorações do 70.º aniversário da fundação da República Popular da China.
Em 2014, uma série de protestos pró-democracia paralisou a região administrativa especial chinesa. “O Movimento dos Guarda-Chuvas marcou o despertar político de muitas pessoas em Hong Kong e este quinto aniversário é particularmente significativo. Isto porque a saga contra o projeto de lei da extradição é o maior movimento social em Hong Kong desde aquela movimento e, na verdade, desde a transferência [da antiga colónia britânica para a China, em 1997]”, conta ao Expresso a advogada Angeline Chan.
No que a advogada descreve como “a maior participação de sempre” num aniversário do movimento, a polícia disparou canhões de água, gás lacrimogéneo e balas de borracha contra manifestantes que atearam fogos no exterior de edifícios governamentais e em várias artérias de Hong Kong.
Chefe do Executivo estará em Pequim esta terça-feira
Dois ativistas pró-democracia, Gregory Wong e Ventus Lau, foram presos esta segunda-feira por envolvimento nos protestos deste fim de semana, de acordo com a Frente Cívica de Direitos Humanos, um dos principais movimentos que têm organizado os protestos.
A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, que tenta a todo o custo evitar cenas que possam embaraçar o Governo central, decidiu assinalar o aniversário desta terça-feira em Pequim. No início do mês, Lam retirou formalmente as emendas à polémica lei de extradição que esteve na base da contestação social dos últimos três meses. Mas os manifestantes exigem que o Governo responda a quatro outras reivindicações: que as ações de protesto deixem de ser identificadas como motins, a libertação dos manifestantes detidos, um inquérito independente à violência policial e a demissão de Lam e consequente eleição por sufrágio universal para o seu cargo e para o Conselho Legislativo.
Carrie Lam, chefe do Executivo de Hong Kong
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Angeline Chan encontra “paralelos” entre as ações de protesto de há cinco anos e as atuais. “A questão inicial do Movimento dos Guarda-Chuvas era o sufrágio direto porque o Comité Permanente do Congresso Nacional do Povo em Pequim tinha aprovado legislação que limitava o mecanismo eleitoral para o nosso Conselho Legislativo e para a chefia do Executivo. As pessoas começaram a protestar contra isso mas o movimento só começou realmente quando a polícia recorreu à brutalidade contra os manifestantes”, recorda a advogada ao Expresso. “É o mesmo caso agora. As pessoas começaram por sair à rua por causa do projeto de lei da extradição que o Governo propôs e desde junho a polícia fez escalar os seus meios de violência contra os manifestantes e os cidadãos. Por isso é que a situação está descontrolada”, declara.
Mais de uma centena de pessoas detidas e uma jornalista atingida num olho
Segundo a imprensa local, houve mais de 100 detenções este domingo em manifestações não autorizadas que reuniram dezenas de milhares de pessoas. Na 17.ª semana consecutiva de protestos, que já resultaram em mais de 1500 detenções, o jornal “South China Morning Post” noticiou que uma jornalista indonésia foi atingida num olho por uma arma não letal quando cobria as manifestações. Veby Mega Indah, de 39 anos, editora do Suara Hong Kong News, disse que precisa de levar três pontos. Ainda não é certo se a jornalista foi atingida por uma bala de borracha ou por um outro projétil que tem sido usado nos confrontos e que é um saco de material sintético com chumbos.
A polícia de Hong Kong já proibiu uma grande manifestação pró-democracia convocada para esta terça-feira pela Frente Cívica de Direitos Humanos. “A resposta do Governo e das forças policiais não está a fazer nada para diminuir a tensão. Estamos à espera de protestos de maior envergadura e, embora isso seja algo que o Governo não quer ver, o que têm feito nos últimos meses levou a isto. A polícia deixa muitos manifestantes inconscientes antes de os deter”, remata a advogada ao Expresso.
A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”. Tal como acontece com Macau, foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.