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Supremo Tribunal do Reino Unido delibera que suspensão do Parlamento foi ilegal

Supremo Tribunal do Reino Unido delibera que suspensão do Parlamento foi ilegal
Mike Kemp/Getty Images

A suspensão foi "ilegal, vazia e sem efeito", descreveu a presidente do Supremo, acrescentando que a decisão foi tomada unanimemente pelos 11 juízes. O presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, fez saber que "consultará os líderes partidários com caráter de urgência" e que a câmara baixa deverá retomar os trabalhos sem demora

Supremo Tribunal do Reino Unido delibera que suspensão do Parlamento foi ilegal

Hélder Gomes

Jornalista

Supremo Tribunal do Reino Unido delibera que suspensão do Parlamento foi ilegal

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

A presidente do Supremo Tribunal do Reino Unido, Brenda Hale, anunciou esta terça-feira que a suspensão do Parlamento britânico foi "ilegal, vazia e sem efeito". A decisão foi tomada unanimemente pelo coletivo de 11 juízes.

A pedido do primeiro-ministro, Boris Johnson, o Parlamento foi suspenso durante cinco semanas. Hale disse que "o efeito nos fundamentos da democracia foi extremo".

Ao considerar a decisão do chefe de Governo "sem efeito", a presidente do Supremo sublinhou que "o Parlamento não está suspenso", pelo que os presidentes das Câmaras dos Comuns e dos Lordes "podem adotar medidas imediatas para assegurar que cada uma das câmaras retoma os trabalhos o mais rapidamente possível".

Em reação, o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, fez saber que "consultará os líderes partidários com caráter de urgência" e que a câmara baixa deverá retomar os trabalhos sem demora.

Governo está "a processar o veredito"

Downing Street disse estar "neste momento a processar o veredito", enquanto o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, sugeriu que o primeiro-ministro avaliasse a sua posição sobre "abuso de poder".

"A decisão de aconselhar Sua Majestade a aprovar a suspensão foi ilegal porque teve o efeito de frustrar ou impedir a capacidade do Parlamento de desempenhar as suas funções constitucionais sem justificação razoável", acrescentou a presidente do Supremo.

Na semana passada, o coletivo de juízes ouviu os recursos de dois casos relativos à suspensão dos trabalhos parlamentares: o caso apresentado pela ativista Gina Miller, rejeitado num tribunal superior de Londres, e um outro apresentado num tribunal da Escócia por um grupo multipartidário de deputados – neste caso, os juízes determinaram que a decisão de Johnson foi ilegal e "motivada pelo propósito impróprio de obstaculizar o Parlamento".

Durante as audições de três dias no Supremo, o Governo argumentou que a suspensão não dizia respeito aos tribunais. Os opositores da suspensão tentaram provar que esta se trata de uma tentativa do primeiro-ministro de "silenciar o Parlamento" durante cinco semanas num momento crucial para o Brexit.

De acordo com a suspensão, o Parlamento só deveria retomar as suas atividades a 14 de outubro, pouco mais de duas semanas antes do prazo atual para o Reino Unido deixar a União Europeia, 31 de outubro.

Apelos à demissão e um Parlamento "de boa saúde"

Após a deliberação do Supremo, os apelos à demissão de Johnson sucedem-se. Todos os principais partidos da oposição pedem a sua renúncia ou apontam-lhe o caminho de saída: o Partido Trabalhista, o Partido Nacional Escocês, o Partido do País de Gales e os Liberais Democratas (LD). A líder dos LD, Jo Swinson, disse que a decisão do Supremo mostra que Johnson "não está apto para ser primeiro-ministro".

Já o líder do Partido do Brexit, Nigel Farage, pede a demissão de Dominic Cummings, o conselheiro especial do primeiro-ministro, descrevendo a decisão de suspender o Parlamento como "a pior decisão política de sempre".

Entretanto, o principal porta-voz do Parlamento Europeu para o Brexit, Guy Verhofstadt, saudou a deliberação do Supremo. "Pelo menos um grande alívio na saga do Brexit: o Estado de Direito no Reino Unido está vivo e de boa saúde. Os Parlamentos nunca devem ser silenciados numa democracia", escreveu no Twitter.

No passado, Bruxelas já se pronunciou relativamente ao desrespeito pelo Estado de Direito na Hungria e na Polónia. Contudo, instada a comentar o caso britânico, Natasha Bertaud, porta-voz da Comissão Europeia, não quis comentar desta vez. "Todos vimos as notícias, claro. Mas não nos cabe comentar assuntos constitucionais internos dos Estados-membros, e isso inclui o Reino Unido", limitou-se a dizer.

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