Israel volta a escolher entre um Netanyahu a contas com a justiça e um ex-chefe do Exército
“Netanyahu noutra liga”, de um lado, “Só a Kahol Lavan criará um Governo secular unido”, do outro
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O primeiro-ministro em funções passou as últimas semanas da campanha a fazer promessas arrojadas, com vista à conquista de mais eleitores. Já Benny Gantz, que lidera a coligação Kahol Lavan, pede ao Presidente do país que evite uma terceira ida às urnas e “dê o mandato apenas a quem o prometer devolver se e quando não conseguir formar Governo”
Os israelitas já votam pela segunda vez este ano em eleições legislativas. Desde as 7:00 locais (menos duas horas em Lisboa) e até às 22:00 desta terça-feira, mais de 6,3 milhões de eleitores podem escolher entre 30 partidos.
Pouco mais de cinco meses depois da primeira votação, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, joga a sua sobrevivência política, com uma disputa renhida em perspetiva e suspeitas de corrupção a penderem sobre ele. A 9 de abril, o Likud, de Netanyahu, e a coligação Kahol Lavan (Azul e Branco), liderada pelo antigo chefe do Exército Benny Gantz, elegeram 35 deputados cada um num total de 120 lugares no Knesset, o Parlamento israelita.
Face à incapacidade de Netanyahu de formar uma coligação de Governo, algo sem precedentes na história do país, o Knesset votou no final de maio pela sua dissolução de modo a inviabilizar a nomeação de Gantz como primeiro-ministro designado. Também esta votação parlamentar constituiu uma estreia.
A promessa de anexar “todos os colonatos”
Agora, Netanyahu promete anexar “todos os colonatos” na Cisjordânia, até mesmo um enclave no coração de Hebron, a segunda maior cidade palestiniana depois de Gaza. “Pretendo alargar a soberania a todos os colonatos, incluindo locais que têm importância do ponto de vista da segurança ou que são importantes para o património de Israel”, afirmou esta segunda-feira Netanyahu, em entrevista à Rádio do Exército israelita. Questionado sobre se os seus planos abrangiam Hebron, o chefe do Governo em funções respondeu: “Com certeza.” Naquela cidade volátil, centenas de judeus vivem sob forte proteção militar entre dezenas de milhares de palestinianos.
Benjamin Netanyahu
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O primeiro-ministro passou as últimas semanas da campanha a fazer promessas arrojadas, com vista à conquista de mais eleitores. Uma delas foi a promessa de anexar o Vale do Jordão, uma longa área que se estende por Israel, Jordânia e Cisjordânia. Mesmo os israelitas moderados consideram aquele vale uma região estratégica, enquanto os palestinianos o veem como o celeiro de um futuro Estado.
Netanyahu também se tem esforçado por passar de si próprio uma imagem de estadista mundial, destacando a sua proximidade com líderes estrangeiros como os Presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin.
A ameaça sobre o Médio Oriente e um Estado palestiniano
Em protesto contra a promessa de anexação do Vale do Jordão, a Autoridade Palestiniana reuniu esta segunda-feira o seu Executivo na aldeia de Fasayil, um dia depois de o Governo israelita se ter reunido num outro local daquele vale. No início da reunião, o primeiro-ministro palestiniano, Mohammed Shtayyeh, disse que “o Vale do Jordão faz parte das terras palestinianas” e que “qualquer anexação é ilegal”. “Vamos processar Israel nos tribunais internacionais por explorar a nossa terra e continuaremos a nossa luta contra a ocupação no terreno e em fóruns internacionais”, acrescentou, citado pela agência de notícias Associated Press.
Os críticos afirmam que as promessas de Netanyahu, se cumpridas, irão inflamar o Médio Oriente e eliminar qualquer esperança palestiniana de vir a constituir um Estado. No entanto, os rivais políticos do primeiro-ministro israelita em funções qualificam-nas como uma jogada eleitoral, lembrando que ele não anexou qualquer território durante a sua mais de uma década no poder.
Netanyahu é primeiro-ministro desde 2009, tendo anteriormente ocupado o cargo entre 1996 e 1999. Em julho, ultrapassou o primeiro-ministro fundador de Israel, David Ben-Gurion, em termos de longevidade naquelas funções.
O Estado judaico capturou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental da Jordânia na guerra de 1967. Atualmente, mais de 2,5 milhões de palestinianos vivem em territórios ocupados, além de quase 700 mil colonos judeus. Israel já anexou Jerusalém Oriental, uma medida que não é reconhecida pela comunidade internacional, que classifica como ilegais os colonatos israelitas em ambas as regiões.
Netanyahu não descarta imunidade nem se compromete a devolver mandato
Num evento de campanha em Telavive, Gantz apelou este domingo ao Presidente do país, Reuven Rivlin, para que evite uma ida às urnas “pela terceira vez” e “dê o mandato para formar Governo apenas a quem o prometer devolver se e quando não conseguir formar Governo”. Netanyahu tem evitado comprometer-se a devolver o mandato se voltar a não conseguir formar uma coligação governativa.
Benny Gantz
Faiz Abu Rmeleh/Anadolu Agency/Getty Images
Rivlin reiterou esta segunda-feira que fará tudo ao seu alcance para evitar uma terceira ronda de eleições e sugeriu que em maio Netanyahu se aproveitou da falta de uma Constituição para contornar as regras e conseguir manter-se no poder. “Havia uma Constituição não escrita, havia regras claras de jogo”, sublinhou, ainda assim, o chefe de Estado, citado pelo jornal online “The Times of Israel”.
O primeiro-ministro também se tem recusado a descartar a hipótese de procurar imunidade parlamentar junto dos seus parceiros de coligação no caso de lhe voltar a ser dado o mandato para formar Governo. Netanyahu poderá ser acusado em três casos de corrupção, incluindo um de suborno, devendo ser sujeito a uma audiência de pré-acusação com o procurador-geral no último dia previsto para o Presidente escolher um candidato a primeiro-ministro.
Israel nunca teve um Governo de partido único e a próxima coligação, tal como a última, deverá resultar de tensas negociações entre um punhado de partidos. As negociações podem arrastar-se durante dias ou semanas.