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“Crime de guerra”. Mundo árabe reage a promessa de Netanyahu de anexar parte da Cisjordânia ocupada

“Crime de guerra”. Mundo árabe reage a promessa de Netanyahu de anexar parte da Cisjordânia ocupada
MENAHEM KAHANA/AFP/Getty Images

A Liga Árabe, dirigentes palestinianos, a Arábia Saudita e os chefes da diplomacia jordano e turco juntaram-se nas críticas ao plano do primeiro-ministro israelita, que pretende manter-se no cargo após as eleições antecipadas da próxima terça-feira. O seu Likud está empatado nas sondagens com o partido Azul e Branco, que também atacou a promessa de Netanyahu

“Crime de guerra”. Mundo árabe reage a promessa de Netanyahu de anexar parte da Cisjordânia ocupada

Hélder Gomes

Jornalista

Um “desenvolvimento perigoso”, uma “agressão”, um “crime de guerra” capaz de “enterrar qualquer oportunidade de paz”. Estas são algumas das críticas de vários países árabes à promessa eleitoral do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de anexar parte da Cisjordânia ocupada.

Netanyahu comprometeu-se esta terça-feira a aplicar a soberania do Estado judaico sobre o Vale do Jordão e o norte do Mar Morto se for reconduzido no cargo nas eleições da próxima semana. O chefe do Governo disse ainda que anexaria todos os colonatos judeus na Cisjordânia mas que este passo precisaria de esperar pela publicação do há muito aguardado plano do Presidente dos EUA, Donald Trump, para um acordo de paz entre israelitas e palestinianos.

“Há um lugar onde podemos aplicar a soberania israelita imediatamente após as eleições”, clarificou Netanyahu, referindo-se ao Vale do Jordão e ao norte do Mar Morto e fazendo depender o ato de “um mandato claro dos cidadãos de Israel para o executar”.

Netanyahu “não deseja anexar territórios mas votos”

O chefe do Governo lidera o partido de direita Likud, que está empatado nas sondagens com o Azul e Branco, partido centrista da oposição. As eleições antecipadas da próxima terça-feira acontecem porque Netanyahu não conseguiu formar uma coligação de Governo viável na sequência do ato eleitoral de abril.

Yair Lapid, que colidera o Azul e Branco, sublinhou que o primeiro-ministro “não deseja anexar territórios, deseja anexar votos”. “Este é um truque eleitoral e nem sequer é um truque particularmente bem-sucedido porque a mentira é muito transparente”, acrescentou.

Promessa pode “arrastar toda a região para a violência”

A Liga Árabe alertou que o plano de Netanyahu viola o direito internacional e “torpedearia” os fundamentos da paz, descrevendo-o como um “desenvolvimento perigoso” e uma “agressão”.

O chefe do Governo israelita “não está apenas a destruir a solução de dois Estados mas todas as oportunidades de paz”, acusou a dirigente palestiniana Hanan Ashrawi, em declarações à agência de notícias France-Presse. O diplomata palestiniano Saeb Erekat não tem dúvidas: trata-se de um “crime de guerra” capaz de “enterrar qualquer oportunidade de paz”.

O ministro jordano dos Negócios Estrangeiros, Ayman Safadi, classificou o plano como uma “escalada séria” que poderá “arrastar toda a região para a violência”, enquanto o seu homólogo turco, Mevlut Cavusoglu, descreveu a promessa como “racista” e criticou Netanyahu por “passar todo o tipo de mensagens ilegais e agressivas” antes das eleições.

Também a Arábia Saudita advertiu para a “escalada muito perigosa” que o plano representa e pediu uma reunião de emergência dos chefes da diplomacia dos 57 Estados-membros da Organização para a Cooperação Islâmica.

Cisjordânia no centro do conflito israelo-palestiniano

O Vale do Jordão e o norte do Mar Morto representam cerca de um terço da Cisjordânia. Israel ocupou a Cisjordânia em 1967 mas sem a anexar, ao contrário de Jerusalém Oriental e dos Montes Golã, que ocupou no mesmo ano e anexou no início dos anos 1980. As ações não foram reconhecidas pela comunidade internacional durante décadas até a Administração Trump reverter a política dos EUA em relação ao Médio Oriente.

Os palestinianos reclamam aquela área para um futuro Estado independente, ainda que Netanyahu já tenha afirmado que Israel manterá sempre a sua presença no Vale do Jordão por razões de segurança. O destino da Cisjordânia está, de resto, no cerne do conflito israelo-palestiniano. O Estado judaico construiu cerca de 140 colonatos na região e em Jerusalém Oriental que são considerados ilegais pelo direito internacional mas que Israel insiste em manter.

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