O jornal turco “Daily Sabah” divulgou esta segunda-feira transcrições das gravações áudio do jornalista saudita Jamal Khashoggi e do esquadrão da morte que o assassinou no interior do consulado do reino em Istambul, a 2 de outubro do ano passado.
As gravações, obtidas pelos serviços secretos da Turquia e tornadas públicas pelo diário próximo do Presidente Recep Tayyip Erdogan, detalham a troca de palavras entre Khashoggi e membros do esquadrão de 15 homens responsável pelo seu assassínio. O jornalista, que era colunista do jornal “The Washington Post” e estava a viver nos EUA, foi ao consulado da Arábia Saudita para recolher os documentos necessários para o casamento com a sua noiva turca.
Quando entrou no consulado, Khashoggi foi recebido por um rosto familiar antes de ser puxado para uma sala. “Por favor, sente-se. Temos de o levar de volta [para Riade]”, disse-lhe Maher Abdulaziz Mutreb, identificado como oficial sénior dos serviços secretos sauditas e guarda-costas do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. “Há uma ordem da Interpol para que seja devolvido. Estamos aqui para o levar”, explicou. De acordo com as gravações, Khashoggi respondeu: “Não há processos contra mim. A minha noiva está à minha espera lá fora.”
“Se não nos ajudar, sabe o que poderá acontecer”
Nos últimos 10 minutos antes de o jornalista ser morto, Mutreb pediu-lhe para “deixar uma mensagem” para o filho. Quando Khashoggi se recusou a fazê-lo, o responsável da secreta saudita sugeriu: “Escreva, senhor Jamal. Apresse-se! Ajude-nos a ajudá-lo porque no final levá-lo-emos de volta para a Arábia Saudita e, se não nos ajudar, sabe o que poderá acontecer eventualmente.”
Em seguida, Khashoggi foi drogado e as últimas palavras audíveis antes de perder a consciência são: “Tenho asma. Não façam isso! Vão sufocar-me...” Depois ouve-se o som de uma serra alegadamente a desmembrar o corpo do jornalista de 59 anos, um procedimento que durou 30 minutos. O seu corpo ainda não foi recuperado.
As versões contraditórias de Riade
A Turquia classificou a morte de Khashoggi como “assassínio premeditado” orquestrado pelo Governo saudita. As autoridades de Riade contestam esta alegação, tendo começado por afirmar que o jornalista havia abandonado o edifício antes de desaparecer para, mais tarde, dizerem que foi morto numa operação não autorizada.
A Arábia Saudita acusou 11 suspeitos pela morte de Khashoggi, incluindo cinco que podem ser condenados à morte por acusações de terem “ordenado e cometido o crime”. Já a CIA concluiu que o príncipe herdeiro saudita ordenou o assassínio.
“Oiço música quando corto cadáveres”
O áudio divulgado revela que, minutos antes de o jornalista entrar no consulado, o médico forense saudita Salah Mohammed Abdah Tubaigy descreveu o seu procedimento habitual. “Trabalhei sempre com cadáveres. Sei cortar muito bem. Nunca trabalhei num corpo quente mas vou resolver facilmente o assunto. Normalmente, ponho os auscultadores e oiço música quando corto cadáveres. Enquanto isso, bebo o meu café e fumo. Depois de eu o desmembrar, vocês colocam as partes em sacos de plástico, de seguida em malas e retiram-nas do edifício”, afirmou, de acordo com o relato do jornal turco.
Em abril, o “Washington Post” noticiava que as autoridades sauditas tinham dado aos quatro filhos de Khashoggi “casas de um milhão de dólares” e “pagamentos mensais de cinco dígitos” como compensação pela morte do pai.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hgomes@expresso.impresa.pt