O primeiro-ministro britânico afirmou esta quarta-feira que as hipóteses de o Reino Unido chegar a acordo com a União Europeia são, neste momento, mais “elevadas”.
Boris Johnson começou o seu discurso esta terça-feira sublinhando que o Reino Unido é um país democrático que defende o Estado de Direito, mas foi de imediato vaiado por deputados trabalhistas, devido à sua decisão recente de pedir à rainha Isabel II que o Parlamento fosse suspenso (viu o seu pedido ser aceite uma vez que, politicamente, não havia outra alternativa). Esta manobra retirou tempo aos deputados para encontrar alternativas a uma saída sem acordo.
Johnson também disse que o Reino Unido está prestes a “voltar a ter o controlo sobre a sua política comercial” e que quer fazer um acordo de comércio com os EUA. Sublinhou, contudo, que o Serviço Nacional de Saúde “não estará em cima da mesa” nessa negociação.
Travar o Brexit sem acordo
Para impedir que o Reino Unido saia da UE sem acordo, um grupo de deputados da oposição e alguns conservadores juntaram-se para forçar uma votação, terça à noite, sobre se o Parlamento deve assumir o controlo da ordem de trabalhos do dia seguinte (o que costuma ser prerrogativa do Executivo).
Pretendem apresentar e debater quarta-feira um projeto de lei que obriga Boris Johnson a pedir novo adiamento da saída da UE caso não tenha um acordo aprovado até 19 de outubro, a menos que o Parlamento tenha autorizado a saída sem acordo, o que é inverosímil. O novo prazo seria 31 de janeiro.
Johnson, que afirmou segunda feira que “em nenhuma circunstância” pedirá mais tempo a Bruxelas, deverá propor eleições legislativas antecipadas para 14 de outubro se o projeto de lei passar, avançou fonte do Governo ao jornal britânico “The Guardian”, terça-feira. A ideia é reforçar o seu apoio e, segundo alguns analistas, avançar mesmo com a saída sem acordo.
Para convocar legislativas, porém, o primeiro-ministro necessitará do voto favorável de dois terços dos deputados, o que aritmeticamente inclui deputados da oposição. Estes inclinam-se, após uma reunião dos respetivos partidos esta quarta-feira, a só apoiar eleições antecipadas depois de o seu projeto de lei ser aprovado. Foi o que explicou Liz Saville Roberts, líder do partido nacionalista galês Plaid Cymru, em Westminster, numa entrevista à “Sky News”.
“Temos feito progressos, ao contrário do que se tem dito”, afirma Johnson
Sobre a saída do Reino Unido da UE, o chefe do Executivo afirmou, como noutras ocasiões, que há “alternativas práticas” ao mecanismo do backstop (a solução de recurso que evita a reposição de fronteiras entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, e que consiste em manter o Reino Unido sujeito a regulações europeias após o Brexit). “Ao contrário do que se tem dito, não é verdade que não tenham sido feitos progressos no sentido de se chegar a um acordo”, insistiu Johnson. Ainda que o Reino Unido “esteja preparado para uma saída sem acordo”, o líder pretende regressar da próxima cimeira europeia com um acordo.
A impedi-lo, acrescentou, está o projeto de lei da oposição para evitar a saída sem acordo. Na opinião do primeiro-ministro, que pediu aos deputados para rejeitarem o documento, significa “implorar à EU um adiamento”. “Trata-se de um projeto de lei sem precedentes, porque irá forçar Corbyn a ir a Bruxelas implorar por um adiamento e forçá-lo a aceitar um acordo nos termos da União Europeia”. E isso Johnson não quer, pelo que, no limite, haverá saída sem acordo. “Sairemos da UE a 31 de outubro, aconteça o que acontecer. Sem acordo, se for preciso”, afirmou.
Devido ao pedido de Johnson à rainha Isabel II, o Parlamento estará encerrado entre a próxima segunda-feira, 9 de setembro, e o dia 14 de outubro, data em que terá de ser apresentado o programa do Governo para a próxima legislatura. E a mesma data em que os britânicos poderão ser chamados às urnas.
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