Internacional

“Não me senti nada bem quando soube que ele teria cometido suicídio”: os testemunhos das alegadas vítimas de Epstein

Foto de Jeffrey Epstein no registo de agressores sexuais dos serviços de justiça de Nova Iorque
Foto de Jeffrey Epstein no registo de agressores sexuais dos serviços de justiça de Nova Iorque
Reuters

Cerca de 15 queixosas falaram esta terça-feira em tribunal, manifestando raiva porque o magnata fugiu à justiça ao pôr fim à própria vida. A morte de Jeffrey Epstein encerra o processo criminal mas, segundo os procuradores, a investigação irá continuar. O príncipe André, duque de Iorque, também não foi poupado: “Ele sabe o que fez e pode atestar isso”

“Não me senti nada bem quando soube que ele teria cometido suicídio”: os testemunhos das alegadas vítimas de Epstein

Hélder Gomes

Jornalista

A mulher que acusou o magnata Jeffrey Epstein de abusos sexuais e alegou ter sido forçada a fazer sexo com o príncipe André aos 17 anos pediu ao duque de Iorque para dizer a verdade. O príncipe “sabe o que fez”, declarou Virginia Giuffre esta terça-feira, após uma audiência em tribunal de alegadas vítimas. O filho da Rainha Isabel II nega as acusações.

Epstein, que aguardava julgamento por tráfico sexual numa prisão nova-iorquina, foi encontrado morto na sua cela a 10 de agosto. O médico-legista determinou que a causa da morte foi suicídio. Além do príncipe André, outros notáveis já foram amigos do magnata, como o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o antigo Presidente Bill Clinton.

Cerca de 15 queixosas falaram na audiência no tribunal de Nova Iorque, manifestando a sua raiva por Epstein ter fugido à justiça ao pôr fim à própria vida. A morte do magnata, aos 66 anos, encerra o processo criminal mas, segundo os procuradores, a investigação irá continuar e quaisquer cúmplices ainda poderão ser acusados.

“Ele sabe exatamente o que fez e espero que diga a verdade”

Giuffre alegou ter sido obrigada a fazer sexo com o príncipe André em três ocasiões, acusando Epstein de a manter como “escrava sexual”. “As minhas esperanças foram rapidamente desfeitas e os meus sonhos foram roubados”, disse. Num depoimento anterior, a queixosa contou que trabalhava no resort de golfe Mar-a-Lago, detido por Trump na Florida, quando foi abordada pela socialite britânica Ghislaine Maxwell para fazer massagens a Epstein.

Na conferência de imprensa após a audiência desta terça-feira, Giuffre declarou, referindo-se ao príncipe André: “Ele sabe o que fez e pode atestar isso. Ele sabe exatamente o que fez e espero que diga a verdade.”

Rainha Isabel II e Príncipe André
Duncan McGlynn/Getty Images

André tem reiterado que não cometeu qualquer irregularidade. No sábado, emitiu um comunicado em que afirmava não ter “visto, testemunhado ou suspeitado de qualquer comportamento do tipo” que levou à condenação de Epstein, em 2008, por solicitação de sexo de uma menor de idade. O príncipe reconheceu ter sido um erro continuar a ver o magnata após a sua libertação da prisão.

“Nunca foi feita justiça neste caso”

Courtney Wild, que alega ter sido abusada sexualmente por Epstein quando tinha 14 anos, afirmou sentir-se “muito zangada e triste” porque “nunca foi feita justiça neste caso”. Wild, que diz ter sido recrutada como massagista para o avião particular do magnata, apelidado de ‘Lolita Express’, chamou “cobarde” a Epstein e acusou-o de “manipular o sistema de justiça” americano.

Em 2008, o magnata cumpriu 13 meses de prisão mas, durante a pena, podia sair de manhã para o trabalho e voltar ao final do dia. A 6 de julho deste ano, voltou a ser preso sob acusações de tráfico sexual de menores na Florida e em Nova Iorque. Na altura da primeira acusação, Alexander Acosta, que viria a tornar-se Secretário do Trabalho dos EUA, era procurador em Miami e permitiu que o multimilionário assinasse um acordo judicial que resultou naquela sentença, evitando assim acusações federais e possivelmente a prisão perpétua. A 19 de julho, Acosta renunciou ao cargo na Administração Trump devido ao seu papel no caso.

“Temos de saber como ele morreu. Foi todo um novo trauma”

Outra das queixosas, Jennifer Araoz, que acusa Epstein de a ter violado na sua mansão de Nova Iorque quando ela tinha 15 anos, disse esta terça-feira: “O facto de nunca vir a ter a oportunidade de enfrentar o meu predador em tribunal corrói-me. Deixaram que este homem se matasse e matasse a oportunidade de se fazer justiça.”

“Temos de saber como ele morreu. Foi todo um novo trauma. Não me senti nada bem quando acordei naquela manhã e soube que ele teria cometido suicídio”, declarou uma outra queixosa, que preferiu não divulgar o nome.

Brad Edwards, advogado que representa as queixosas, classificou como “curiosa” a “morte prematura” de Epstein. Dois dias antes da sua morte, o magnata assinou um testamento canalizando 577 milhões de dólares (520 milhões de euros) em ativos para um fundo fiduciário.

As mais recentes acusações, que se reportavam aos anos entre 2002 e 2005, diziam respeito ao pagamento de adolescentes para realizarem atos sexuais nas mansões de Epstein em Manhattan e na Florida. O magnata também terá pago grandes quantias de dinheiro a duas possíveis testemunhas antes do julgamento, que estava marcado para o próximo ano. Epstein, que se declarou inocente, enfrentava até 45 anos de prisão se fosse condenado.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hgomes@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate