Internacional

Boris e o Brexit, Trump e o vinho, enquanto arde a Amazónia: eis a cimeira do G7

Os líderes do Grupo dos sete países industrializados do mundo (G7) reúnem-se entre este sábado e segunda-feira na capital europeia do surf, Biarritz, em França. A cimeira, a 45.ª desde 1975, terá como pano de fundo, entre outros assuntos, as divergências em relação ao Brexit, as taxas do comércio mundial e o tema dos fogos florestais na Amazónia, que se impôs à última hora

Ainda antes do arranque da cimeira do G7, em França, já o Presidente Donald Trump deixava uma garantia: “quem taxa produtos norte-americanos é pago na mesma moeda”. Esta foi uma posição assumida em retaliação aos impostos que França pretende aplicar às grandes empresas tecnológicas como a Google, que operam em países europeus sem pagar impostos. “Essas são grandes empresas americanas e, francamente, não quero que a França vá tributar as nossas empresas. Muito injusto”, disse aos jornalistas. “E, se o fizerem, vamos aplicar-lhes impostos sobre o vinho ou outra coisa qualquer. Vamos tributar o vinho deles como eles nunca viram antes.”

A China foi a mais recente “vítima” da posição convicta de Trump, com o aumento das taxas aduaneiras sobre mais de cinco mil produtos chineses. Isto depois de a China ter feito o mesmo a artigos americanos.

Ainda assim, o presidente dos EUA estava otimista quanto à cimeira em Biarritz. “Eu acho que será muito produtiva.”

Donald Trump e Emmanuel Macron almoçaram juntos, horas antes da abertura da cimeira, marcada para as 18h30, que é seguida de um jantar informal entre os chefes de Estado e de governo do G7 e de países convidados. Não se sabe se o vinho fez ou fará parte dos almoços e jantares.

LUDOVIC MARIN / POOL

Em conferência de imprensa antes da abertura do G7, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, defendeu o vinho francês. “Vou proteger o vinho francês com sincera determinação (....) Se os Estados Unidos impuserem taxas, então a União Europeia responderá da mesma forma”, afirmou o dirigente polaco.

“As guerras comerciais levarão à recessão, enquanto os acordos comerciais impulsionam a economia”, acrescentou ainda sobre as ameaças de Donald Trump.

CHRISTIAN HARTMANN

Outro dos temas fortes será o Brexit, um dos dossiês mais amplamente discutidos no panorama político europeu. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, faz a sua estreia em reuniões desta magnitude e pode ter aqui uma oportunidade de poder fazer a diferença no desenrolar do processo de saída da União Europeia. Donald Tusk mostrou-se “disposto a ouvir” as propostas de Boris Johnson para um acordo acerca do Brexit, desde que sejam “realistas e aceitáveis para todos os Estados-membros, incluindo a Irlanda”.

“E continuo a esperar que o primeiro-ministro Johnson não queira passar à História como o Sr. Não Acordo”, disse Tusk à imprensa, um dia antes de se reunir pela primeira vez com o líder britânico.

DYLAN MARTINEZ / POOL

A pedido do presidente Francês, Emmanuel Macron, entram na agenda de trabalhos os fogos que têm assolado a Amazónia, conhecida como “pulmão do mundo”. O pedido de mobilização mundial em torno deste problema também não passou despercebido ao presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que acusa Macron de “instrumentalização” e “sensacionalismo” e ainda de tentar retirar proveito próprio da tragédia alheia.

As chamas lavram sem parar há duas semanas na floresta amazónica e a gravidade da situação transformou, nos últimos dias, as redes sociais num palco de críticas, desabafos, alertas e apelos. Mas nem todas as imagens que estão a circular são atuais ou mostram, sequer, a Amazónia. Um dos casos mais flagrantes é, precisamente, o de Emmanuel Macron, que partilhou uma imagem de um fotógrafo que morreu em 2003.

Entretanto, Macron respondeu a Bolsonaro e acusa o presidente brasileiro de mentir em matéria de compromissos ambientais e anunciou que, nestas condições, França vai votar contra o acordo de comércio livre UE-Mercosul.

A cimeira que se prolonga até segunda-feira vai ser um “teste difícil de unidade e solidariedade”. “Ainda não há certeza se o grupo será capaz de encontrar soluções comuns - e os desafios globais são hoje realmente sérios”, segundo Donald Tusk.

Trump implodiu a cimeira do G7 do ano passado, no Quebeque, depois de se envolver numa discussão com o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, e recusando-se a assinar a tradicional declaração conjunta do grupo. E em questões como tarifas comerciais, Rússia, aquecimento global, Irão ou Brexit, Trump está em oposição a vários dos seus aliados mais próximos.

Num mapa político cada vez mais polarizado, esta cimeira, de desfecho imprevísivel, pode ficar sem comunicado final pela primeira vez desde 1975 e terá um custo estimado na ordem dos 36,4 milhões de euros, segundo informações adiantadas pelo governo francês.

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