O sínodo especial sobre a Amazónia, que acontece em outubro no Vaticano, pretende ser uma resposta da Igreja Católica a preocupações religiosas e ambientais, numa região decisiva para a sobrevivência da humanidade. Em entrevista ao jornal italiano "La Stampa", o sumo pontífice explicou que a reunião de bispos "não é um encontro de cientistas ou de políticos. Não é um parlamento, é outra coisa. Nasce da Igreja e terá missão e dimensão evangelizadora. Será um trabalho de comunhão conduzido pelo Espírito Santo”.
O evento que acontece entre 6 e 27 de outubro deste ano está anunciado desde 2017 e tem como agenda uma reflexão sobre o tema ‘Amazónia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral’. “A ameaça à vida das populações e do território deriva dos interesses económicos e políticos dos setores dominantes da sociedade”, avança o Papa, que redigiu a primeira encíclica sobre temas ecológicos - "Laudato si" - para sublinhar que a desflorestação significa “matar a humanidade”. Francisco explicou mesmo que o sínodo é uma consequência deste primeiro documento.
Este sínodo especial, no entanto, já motivou reações negativas do governo brasileiro, que se manifestou preocupado com alguns pontos dos trabalhos. O Papa tentou na entrevista despolitizar o encontro, dizendo entender que os temas importantes são os que dizem respeito aos “ministérios da evangelização e aos vários modos de evangelizar”, na região.
E, apesar de assumir a evangelização como foco central do sínodo, as declarações papais vieram esfriar as expectativas de quem esperava que o sínodo fosse palco de uma decisão inédita da Igreja Católica para ordenar homens casados ou anciãos, mesmo que apenas para atender asr regiões remotas, onde faltam sacerdotes, como a floresta amazónica. A questão dos "viri probati”, como é conhecida, "absolutamente" não será um dos temas principais do sínodo, afirmou Francisco.
Mesmo sendo classificada como um tema secundário, a ordenação tem motivado críticas dos setores mais conservadores da Igreja Católica. "É impossível esconder o fato de que esse sínodo é particularmente adequado para implementar dois dos projetos mais ambiciosos e que nunca foram implementados até agora: a abolição do celibato e a introdução de um sacerdócio feminino, a começar por mulheres diaconisas", afirmou recentemente o cardeal Walter Brundemuller, de 90 anos, um dos maiores opositores do atual Papa.
A este respeito, Francisco observa que a possibilidade de ordenar indígenas casados, onde faltam sacerdotes é “simplesmente um instrumento de trabalho". Francisco sublinha que vê a Amazónia principalmente como “um lugar representativo e decisivo” e um contributo “determinante para a sobrevivência do planeta”, pelo que “não diz respeito a uma única nação”. E admitiu mesmo temer “o desaparecimento da biodiversidade” ou o surgimento de “novas doenças letais” em consequência da desflorestação.
Na entrevista, o pontífice aborda ainda as suas preocupações em relação à Europa, lamentando a perda de valores humanos e cristãos e o surgimento de novos nacionalismos e populismos: “Estou preocupado porque se ouvem discursos que se assemelham aos de Hitler em 1934. Nós primeiro. Nós… nós… Estes são pensamentos assustadores.” Francisco defende que cada país deve ser “soberano, mas não fechado”, sublinhando que no acolhimento aos imigrantes deve ser respeitado o direito à vida, “o mais importante de todos”. Quanto à nomeação de uma mulher como presidente da Comissão Europeia, o Papa mostrou-se satisfeito "até porque as mulheres têm a capacidade de juntar, de unir".
O Sínodo da Amazônia terá cerca de 250 participantes, dos quais 61 brasileiros e representantes dos países atravessados pela floresta: Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.
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