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Patricia morreu doente, algemada a uma cama e condenada por ter abortado

Patricia morreu doente, algemada a uma cama e condenada por ter abortado
NurPhoto/ Getty Images

Quando há quatro anos foi condenada pediu para cumprir pena em casa porque tem dois filhos um deles com uma deficiência mental causada por uma meningite. Ativistas e movimentos feministas denunciam negligência

Patricia Solorza tinha quase 41 anos. Estava presa. O crime? O aborto. Patricia Solorza que tinha 41 anos e estava a presa porque abortou morreu durante um internamento após ter contraído uma infecção na prisão, em Buenos Aires, onde cumpria pena há mais de quatro anos.

Numa tradução literal, o crime de Patricia foi “homicídio agravado pelo vínculo”. Assim se designa o crime de aborto na Argentina, onde interromper voluntariamente a gravidez é passível de pena de prisão. De acordo com a legislação, apenas é permitido fazê-lo em casos de violação - e só o é desde 2012 - e em situação de perturbação mental. No ano passado, uma iniciativa para legalização até 14 semanas de gestação foi votada e chumbada pelo Senado.

Patricia já estava a meio da pena, fora condenada a oito anos de prisão. Na altura, por ter um filho de 14 anos com doença mental, consequência da meningite que teve ainda em pequeno, e uma filha de quatro anos, pediu que a pena fosse comutada em prisão domiciliária. A Justiça recusou, refere a imprensa argentina.

Na prisão de Buenos Aires contraiu uma infeção no peritónio, a membrana que cobre as paredes do abdómen e dos órgãos do sistema digestivo. Vários ativistas pelos direitos das mulheres e do movimento pró-aborto apontam as más condições nas cadeias argentinas como origem da infeção.

Quando o estado de saúde de Patricia se deteriorou drasticamente, há duas semanas, foi levada para o hospital de San Martín e foi aí que morreu algemada à cama. Morreu esta segunda-feira.

O caso tem levantado alguma polémica entre os movimentos feministas e pró-aborto no país, que acusam as autoridades de terem “abandonado” Patricia e não lhe terem prestado os cuidados de saúde adequados. “Esteve durante dias em agonia depois de ter sido operada três vezes à vesícula. Chegou ao hospital com litros de pus”, denunciaram amigos e familiares numa carta deixada nas redes sociais.

À semelhança do que tem acontecido desde o ano passado, quando o Senado votou contra uma iniciativa para a legalização do aborto até às 14 semanas, o caso intensificou uma vez mais a discussão do tema.

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