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“Depois da 2ª Guerra Mundial, ninguém estava preparado para isto”: como a China está a ser acusada de limpeza étnica e genocídio cultural

“Depois da 2ª Guerra Mundial, ninguém estava preparado para isto”: como a China está a ser acusada de limpeza étnica e genocídio cultural
EMMANUEL DUNAND / Getty

O Governo chinês fala em “campos de treino vocacional”, mas dos documentos internos constam expressões como “tumor maligno” ou “erradicação de epidemia”, e quem lá esteve denuncia as horas a recitar canções de propaganda do regime, a obrigação de renunciar aos ensinamentos islâmicos e de aprender a falar mandarim, e o controlo e perseguição. Os campos de internamento para “limpar do extremismo” os membros da minoria muçulmana uigur multiplicam-se na província de Xinjiang. Rushan Abbas, Abdurehim Gheni, Nury A. Turkel e Nurgul Sawut contam ao Expresso como o seu ativismo fez dos seus familiares alvos a manter debaixo de olho e consideram que está em marcha uma tentativa de silenciamento total das suas gentes e da sua cultura

“Depois da 2ª Guerra Mundial, ninguém estava preparado para isto”: como a China está a ser acusada de limpeza étnica e genocídio cultural

Ana França

Jornalista da secção Internacional

“Depois da 2ª Guerra Mundial, ninguém estava preparado para isto”: como a China está a ser acusada de limpeza étnica e genocídio cultural

Helena Bento

Jornalista

Os documentos que se conhecem parecem fazer parte dos materiais aconselhados para uma cadeira do curso de Medicina. Há parágrafos inteiros a falar da “disseminação da doença”, “tumor maligno”, “erradicação de epidemia”, “purificação”, “tratamento nos primeiros estágios”, mas do que realmente se trata é do internamento forçado. Pelo menos um milhão de pessoas, na sua maioria membros da minoria muçulmana uigur, estão neste momento internadas em “unidades hospitalares” de “recondução ideológica”, e pelo menos dois milhões já terão passado por este processo em Xinjiang, a maior província da China, uma região noroeste que faz fronteira com a antiga “Ásia soviética”: limita-se ao sul com a região autónoma do Tibete, com a Mongólia a leste, com a Rússia ao norte e com o Cazaquistão, o Quirguistão, o Tajiquistão, o Afeganistão e as partes da Caxemira controladas pelo Paquistão e pela Índia a oeste.

Ao longo das suas infinitas planícies de solo agrícola quase virgem, pouco explorado ao longo de séculos por culpa da baixa densidade populacional, espalham-se apenas 22 milhões de pessoas, 1.4% da população da enorme China. A meio do século passado quase todos eram uigur, agora 40,5% são da etnia han, e o esforço do governo chinês para que cada vez mais chineses não-muçulmanos migrem para esta zona é constante. A ideia é diluir a concentração da religião e assim, dizem as autoridades, diminuir o risco de ataques terroristas.

Apesar de representar uma parte minúscula da população, em 2017 uma em cada cinco detenções no país aconteceram aqui, um aumento de 731% em relação a 2016, segundo a Chinese Human Rights Defenders. A província tornou-se uma espécie de cobaia para algumas das mais sofisticadas formas de vigilância civil do mundo. Os chineses recolhem amostras de ADN, impressões digitais e fotografias do globo ocular de todos os residentes de Xinjiang dos 12 aos 65 anos, instalam aplicações de monitorização em todos os telefones comprados. Há pelo menos 40 mil câmaras de reconhecimento facial na província, checkpoints entre áreas da cidade como se fosse uma zona de guerra e polícias à porta das poucas mesquitas que ainda permanecem abertas. A tecnologia de reconhecimento facial é tão avançada que já se tornou uma popular exportação chinesa: Bolívia, Angola, Venezuela e Equador são alguns dos países que adquiriram versões deste software, cujo sucesso foi primeiramente testado no controlo exercido sobre a população uigur.

“Levaram-na seis dias depois de eu ter falado publicamente sobre o assunto”

Quem passou pelo “tratamento” fala de horas a recitar canções de propaganda do regime, da obrigação de renunciar aos ensinamentos islâmicos, de aprender a falar mandarim (se não aprenderem pelo menos mil caracteres chineses podem nunca sair dos campos), de tortura e até de casos de pessoas que não sobreviveram àquilo que os documentos oficiais do governo chinês se referem como “inoculação”. E quem vive fora fala do controlo exercido na vida privada, em casa, seja por vizinhos, seja por oficiais do Governo, e da proibição de contactar familiares noutros países.

Instalações de um dos “centros de reeducação” geridos pelo Governo chinês, onde grande parte dos uigures se encontram detidos, na província de Xinjiang.
GREG BAKER/GETTY IMAGES

Rushan Abbas, que nasceu em Urumqi, capital da província de Xinjiang, e vive nos EUA desde 1989, alonga a descrição - “nas prisões, os uigures são privados de sono e forçados a tomar medicação e não têm acesso a comida nem a água”. “É mentira que as pessoas têm liberdade para sair destes centros quando lhes apetece, que possam vir a casa aos fins de semana. Há milhões de pessoas nestas condições, académicos, artistas conhecidos, tudo.”

O movimento que fundou e dirige, o Campaign for Uyghurs, tem como missão defender e promover os direitos da minoria muçulmana e, portanto, Rushan Abbas sabe bem o que se passa em Xinjiang. A sua própria irmã encontra-se desaparecida há meses, desde que Rushan Abbas deu uma entrevista a um think tank norte-americano, em setembro de 2018, e expôs as condições em que os uigures vivem nos campos e centros de detenção. “Levaram-na seis dias depois de eu ter falado publicamente sobre o assunto, foi uma vingança. Ela fala chinês fluentemente e trabalhou como médica a vida toda, até se ter reformado. Por que raio haveria de precisar de ir para um ‘campo de treino vocacional’, como o Governo chinês chama a estes campos?” Rushan Abbas não sabe da irmã desde então, onde se encontra nem em que condições. “Não tenho nenhuma informação sobre o estado de saúde dela. Para ser honesta, nem sequer sei se ela ainda está viva.”

Rushan Abbas conta que, além da irmã, toda a família do seu marido, que é de Hotan, outra cidade em Xinjiang, foi obrigada a sair de casa, “os adultos levados para campos” e as crianças, pelo menos é essa a sua suspeita, “para orfanatos geridos pelo Estado”. Uma reportagem recente da BBC mostra os depoimentos de dezenas de famílias no exílio que contam ter perdido contacto com os seus filhos depois de terem sido levados para orfanatos pelas autoridades locais. É impossível ter a certeza do que quer que seja. “Não há ninguém com quem falar lá, foram todos levados. O meu marido passa a vida a tentar telefonar para todos os seus familiares, a contactá-los por telemóvel e a ligar para telefones fixos, mas ninguém atende, nunca. Disseram-nos que as suas casas tinham sido trancadas.” Abbas também se tem esforçado para ter notícias da irmã, mas em vão. Pede aos jornalistas e a outras pessoas que viajam para Xinjiang para perguntarem por ela, mas não há quem volte com notícias. “Estamos no século XXI, como é que é possível perder-se assim o contacto de alguém, como é possível isto acontecer?”

“O maior encarceramento em massa de uma minoria em todo o mundo”

A Comissão para a China do Congresso norte-americano descreveu as prisões forçadas desta minoria como “o maior encarceramento em massa de uma minoria em todo o mundo”. Ao início, Pequim prendia apenas aqueles que, de alguma forma, tivessem manifestado tendências extremistas, nas mesquitas onde pregavam ou em publicações nas redes sociais, mas, como notou o “The Wall Street Journal”, hoje até rezar ou deixar crescer a barba é motivo para alguém ser submetido a uma higienização religiosa que nos leva de volta aos tempos da Revolução Cultural.

OZAN KOSE/GETTY IMAGES

Rushan Abbas diz que a comunidade uigur na China é “perseguida e discriminada” desde que o país anexou Xinjiang, em 1949, mas que a situação piorou depois do 11 de Setembro e da “guerra ao terror” e ao terrorismo desencadeada pelos EUA e por outros países. “Encontraram aí uma justificação para perseguir ainda mais os membros da nossa comunidade”.

Sobre isso, escreveu Chien-peng Chung, professor no Instituto de Defesa e Estudos Estratégicos de Singapura, num artigo publicado na revista “Foreign Affairs”. Depois da tragédia nos EUA, a China “lançou a sua própria ‘guerra ao terror’ (houve uigures detidos em Guantánamo por suspeitas de ligações à Al-Qaeda, que se viriam a revelar infundadas), escreve o especialista, referindo que Pequim, “hoje em dia, considera terroristas todos aqueles que lutam por um estado independente na província de Xinjiang”, ou Turquestão Oriental, como lhe chamam os separatistas

“O Governo chinês considera que estes ativistas fazem parte de uma rede de terrorismo islâmico internacional que recebe fundos do Médio Oriente, treina no Paquistão e adquire experiência de combate na Chechénia e Afeganistão”, escreve Chien-peng Chung, esclarecendo que “a violência separatista” em Xinjiang não é, no entanto, “nem nova nem instigada a partir de fora”. “A última vaga separatista não foi inspirada por Osama bin Laden, mas sim pela queda da União Soviética, tendo muitos militantes tentado fazer o mesmo que outras comunidades muçulmanas da Ásia Central fizeram”, isto é, lutar pela independência. Há poucos indícios de uma “radicalização a larga escala” entre a comunidade uigur.

“Maioria” das pessoas que se encontravam nestes centros já foi libertada. Foi?

O presidente da região autónoma de Xinjiang afirmou há uma semana que a “maioria” das pessoas que se encontravam nestes centros já foi libertada. Em conferência de imprensa, Shohrat Zakir descreveu os campos como “extremamente positivos” para a região e criticou a “informação desequilibrada” que tem sido divulgada sobre o assunto. “Posso dizer que 90% encontraram empregos adequados e agradáveis que lhes proporcionam um rendimento considerável.” Vários familiares de detidos têm dito, em oposição a isto, que estes tinham empregos antes de serem levados para os campos e que alguns dos que foram libertados tinham sido submetidos a trabalhos forçados e a receber baixos salários. Shohrat Zakir disse também que os campos têm ensinado os uigures a praticar a sua religião “normalmente” e garantiu que nenhuma religião ou grupo minoritário têm sido tomados como alvos.

PETER PARKS/AFP/Getty Images

Tal como Rushan Abbas, também Nury A. Turkel, diretor e fundador do Uyghur Human Rights Project, organização que denuncia os abusos cometidos contra os uigures em Xinjiang, não acredita que tenha sido libertada uma só pessoa. “Foram apertados pela comunicação internacional, estão desesperados, sabem que têm dar alguma justificação, e portanto mentiram.” Há várias razões para a China não ter interesse em libertar ninguém, diz o responsável. Esta é uma delas: “As pessoas têm sido submetidas a abusos físicos degradantes e humilhantes. Eles nunca deixariam essas pessoas, que já não têm nada a perder, voltar à sociedade”.

“Liguei milhões de vezes, ninguém sabe da minha família”

Abdurehim Gheni tem 43 anos e é formado em Física. Vive em Amesterdão atualmente mas saiu da China para estudar na Malásia, numa altura em que não existiam tantos dos problemas que agora conhece. “Não acredito que a China tenha libertado 90% dos detidos, não. Há várias razões. A primeira é que apenas há uns poucos meses responsáveis do governo chinês admitiram que é preciso, de facto, reeducar os uigur. O que acontece é que alguns detidos são transferidos para outros locais na China, para parecer que foram libertados, mas só foram dispersados.” E a maior prova, diz, “é que todos os uigur que fugiram sabem que os seus familiares desapareceram porque não os conseguem contactar e as pessoas conhecidas deixam de os ver”. Se foram libertados, “por que razão não conseguimos contactá-los?”, pergunta como se falasse com quem lhe pode dar respostas.

Abdurehim Gheni , ativista uigur no seu protesto semanal em Amesterdão

Gheni pediu asilo político na Holanda e seis meses depois começou o seu agora célebre protesto semanal na Praça Dam. Todos os sábados vai até à principal praça da capital holandesa, monta uma bancada com cartazes, panfletos, fotografias de intelectuais e outras figuras públicas desaparecidas, várias bandeiras (a bandeira azul clara com o crescente lunar é proibida na China) e passa lá as horas que forem precisas a contar às pessoas o que se passa no sítio de onde fugiu. Há dezenas de fotos no Facebook, umas na página dele, muitas nas páginas de pessoas que o identificaram em fotografias.

A ignorância sobre o problema é grande, incluindo (ou principalmente) entre os cidadãos chineses, maioritariamente turistas, com quem vai falando. “Tenho conseguido informar muita gente sobre os uigur. Mesmo os chineses que eu conheci aqui em Amesterdão não sabem sequer da existência na nossa etnia, da nação uigur porque o controlo dos meios de comunicação na China é muito apertado”, escreve.

Da sua família não há notícias, o súbito sumiço coincide com a altura em que Gheni começou a marcar presença na praça. “Perdi o contacto com a minha família há dois anos, totalmente, por completo. Se me pedem para provar que eles estão nos campos não posso, como poderia? Não posso voltar, os repórteres internacionais são seguidos por todo o lado quando conseguem entrar. Tentei um milhão de vezes ligar, falar com outras pessoas que possam falar depois com eles, nada, não consegui nada.”

GREG BAKER/GETTY IMAGES

A violência contra os uigur passa também pela discriminação e pela marginalização: mesmo quando não são presos, um emprego gratificante é uma miragem. “É fácil na rua identificar, por exemplo, um anúncio do Governo a pedir funcionários públicos e diz claramente que apenas quem for da etnia han pode apresentar-se a entrevista. Algumas posições podem até estar abertas a todos mas temos de abdicar da religião e falar mandarim. Um estudante uigur com as melhores notas do curso tem de sobreviver a fazer trabalhos braçais, um chinês han com notas razoáveis é sempre colocado na gestão de qualquer coisa.”

Voltar para o desconhecido e fugir rápido de lá

Nurgul Sawut é uma das mais conhecidas ativistas australianas pela causa dos uigur e como a comunidade ali ultrapassa as três mil pessoas, a China tenta, mais do que em outros países, manter o controlo sobre a informação que escapa. Não tem muito sucesso nisso, mas consegue assustar quem escolhe falar. “A perseguição não vem de nenhum representante chinês aqui, as ameaças chegam por Whatsapp ou outras aplicações de comunicação, e vêm diretamente da China. Também há pessoas que me seguem por Canberra, eles vão enviado pessoas diferentes, e, por isso, eu saio pouco de casa, só para ir para o trabalho ou falar numa conferência, tudo controlado”, conta ao Expresso a assistente social, que não vê a família desde 2016, quando regressou para o funeral do pai. “A morte é dura, mas a mudança radical de um mundo que julgávamos conhecer é mais assustador”, diz Sawut. “As pessoas estão aterrorizadas, toda a gente faz o que tem de fazer para se safar, ninguém olha para ti nos olhos, os teus conhecidos tornam-se informadores. Fui ver minha família e estavam vivos mas psicologicamente exaustos, nem para mim falaram abertamente.” O funeral acabou e Sawut voltou a fugir dali, não na clandestinidade, porque já tem o seu passaporte australiano há muito tempo, mas com a sensação de que “tinha saído de uma zona de guerra”.

Há dez anos, no verão de 2009, 140 pessoas morreram numa revolta iniciada pelos uigur contra a morte de dois trabalhadores numa fábrica do sul da China. Esses ataques foram maioritariamente dirigidos a pessoas da etnia han e o país prendeu, logo aí, milhares de pessoas. Sawut saiu para trabalhar em Pequim “como uma espécie de animal do zoo que o governo mostrava para dizer que era inclusivo para as minorias” e mais tarde foi estudar para a Austrália. “Cada vez que apareço na televisão, ou a falar em algum documentário, recebo mensagens a dizer que a família toda da parte do meu pai será presa. Outras vezes tentam enviar-me mensagens como se fossem a minha irmã mas é fácil ver que não é, a origem das contas é sempre chinesa.” Há quase quatro anos que não fala com a família. “O telefone da minha mãe já não está ativo, nem o das minhas irmãs, e se eu ligar a outros familiares ou conhecidos, então vou colocá-los em perigo também”, explica.

Kevin Frayer/Getty Images

“Ninguém estava preparado para uma nova limpeza étnica”

Durante muito tempo, demasiado tempo para alguns, a comunidade internacional manteve-se em silêncio sobre o assunto. Só no mês passado se pronunciou sobre o assunto, tendo mais de 20 países assinado uma carta a condenar a detenção em massa de uigures e outras minorias na região de Xinjiang e a exigir que Pequim permita o acesso de peritos da ONU à região, até agora negado. O nome de Portugal não consta de uma primeira versão da carta disponibilizada pela organização não-governamental Human Rights Watch (ainda não foi publicada oficialmente), mas fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros português esclarece ao Expresso que o país subscreveu-a ao associar-se “a muitos outros Estados-membros da União Europeia (e a países extra-UE) numa iniciativa, no âmbito do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, apelando para que as autoridades chinesas respeitem os direitos dos uigures e de outras minorias da província de Xinjiang”.

Questionada sobre a posição de Portugal em relação a este assunto e sobre se, em algum momento, expressou a sua preocupação com a situação dos uigures durante a assinatura de acordos com o Governo chinês (foram 17, em dezembro de 2018) ou noutras ocasiões, a mesma fonte esclarece que a “UE e a China têm um diálogo regular em matérias de direitos humanos” e que o mesmo acontece no quadro do Conselho dos Direitos Humanos, onde a China se submeteu a uma revisão periódica, em 2018. “Portanto, sim, é verdade: Portugal tem, juntamente com os demais Estados-membros da UE, suscitado as questões dos direitos humanos na China.”

Rushan Abbas, do Campaign for Uyghurs, sugere que os “interesses económicos”, inclusive os relacionados com a nova Rota da Seda — que permitirá à China ligar-se à Ásia, ao Médio Oriente, a África e à Europa através de infraestruturas como portos, autoestradas, túneis e ferrovias — tem-se sobreposto a tudo o resto” e toda a sua frustração vem disso. “Há um ano toda a gente podia dizer que não sabia, há dois anos e há três também, mas agora ninguém pode dizer que não sabe.” A sua incompreensão é igual à de Nury A. Turkel. “A China usa o seu dinheiro para comprar o silêncio de todos os países.” E tem vários trunfos: “Depois da Segunda Guerra Mundial, ninguém estava preparado para isto, ninguém estava preparado para uma nova limpeza étnica e um genocídio cultural”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: afranca@impresa.pt

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