Enquanto os políticos americanos se enredaram em debates previsíveis na sequência dos dois massacres do último fim de semana, os habitantes de El Paso não hesitaram em apelidar o tiroteio de sábado naquela cidade texana de crime de ódio de um supremacista branco e de ataque terrorista contra latinos, escreve o jornal “The Guardian” na edição desta segunda-feira.
“Vemos isto como um ato de racismo contra todos os hispânicos”, disse Daisy Fuentes. Ela e a família encontravam-se num hospital local para onde os avós tinham sido transportados depois do tiroteio num supermercado que provocou pelo menos 20 mortos e vários feridos. “Aquele Walmart estava cheio de hispânicos. É muito triste”, acrescentou.
Também o xerife de El Paso, Richard Wiles, publicou um post no Facebook em que diz claramente que o suspeito branco de 21 anos, Patrick Crusius, é um “racista” que foi a El Paso “matar hispânicos” por causa “da cor da pele”.
Crusius terá publicado um “manifesto” anti-imigrantes antes de abrir fogo na loja lotada, alertando para a “invasão hispânica do Texas”.
“Uma das cidades mais seguras dos EUA”
El Paso tem merecido bastante atenção mediática nos últimos anos com os ataques da Administração Trump contra migrantes e refugiados. O ex-procurador de Trump descreveu a cidade como a “estaca zero” que está na “linha da frente” dos conflitos fronteiriços, recorda o “Guardian”. Na realidade, El Paso, com cerca de 680 mil habitantes e 80% de latinos, tem sido repetidamente classificada como uma das cidades mais seguras dos Estados Unidos.
O massacre no Walmart vitimou quase tantas pessoas como o número total de homicídios na cidade no ano passado.
“Muita da retórica que este Presidente usa pode ser encontrada naquele manifesto”, acusou o congressista democrata César Blanco, cujo escritório fica a poucos quarteirões do local onde aconteceu o tiroteio. “Palavras como ‘invasão’ são danosas para a nossa comunidade e vêm do Presidente, que tem aludido à minha comunidade como ‘assassinos e violadores que trazem crimes e drogas’. Quando os nossos líderes nacionais falam desta forma, enviam a mensagem a estes supremacistas brancos de que não há problema em permitir que o ódio continue e se propague”, lamentou.
Os habitantes lembram também que o suspeito não era de El Paso, tendo viajado mais de 960 quilómetros a partir de um subúrbio de Dallas. “O autor deste crime não era daqui. Esta é há anos uma das cidades mais seguras dos EUA e vamos continuar a mantê-la segura”, prometeu o comissário da polícia, David Stout. “Mas encontramo-nos sempre no meio desta retórica negativa que é levada a cabo pelo nosso Presidente. Tentam sempre demonizar a fronteira, que é algo que temos de combater constantemente”, concluiu.
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