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“Aquele Walmart estava cheio de hispânicos. É muito triste”, diz moradora de El Paso após massacre de sábado

“Aquele Walmart estava cheio de hispânicos. É muito triste”, diz moradora de El Paso após massacre de sábado
IVAN PIERRE AGUIRRE/EPA

O xerife daquela cidade texana referiu-se ao suspeito de 21 anos como um “racista” que foi até El Paso “matar hispânicos”. A cidade tem merecido bastante atenção mediática devido aos ataques de Trump contra migrantes e refugiados. Contudo, o massacre no Walmart vitimou quase tantas pessoas como o número total de homicídios na cidade em 2018

“Aquele Walmart estava cheio de hispânicos. É muito triste”, diz moradora de El Paso após massacre de sábado

Hélder Gomes

Jornalista

Enquanto os políticos americanos se enredaram em debates previsíveis na sequência dos dois massacres do último fim de semana, os habitantes de El Paso não hesitaram em apelidar o tiroteio de sábado naquela cidade texana de crime de ódio de um supremacista branco e de ataque terrorista contra latinos, escreve o jornal “The Guardian” na edição desta segunda-feira.

“Vemos isto como um ato de racismo contra todos os hispânicos”, disse Daisy Fuentes. Ela e a família encontravam-se num hospital local para onde os avós tinham sido transportados depois do tiroteio num supermercado que provocou pelo menos 20 mortos e vários feridos. “Aquele Walmart estava cheio de hispânicos. É muito triste”, acrescentou.

Também o xerife de El Paso, Richard Wiles, publicou um post no Facebook em que diz claramente que o suspeito branco de 21 anos, Patrick Crusius, é um “racista” que foi a El Paso “matar hispânicos” por causa “da cor da pele”.

Crusius terá publicado um “manifesto” anti-imigrantes antes de abrir fogo na loja lotada, alertando para a “invasão hispânica do Texas”.

“Uma das cidades mais seguras dos EUA

El Paso tem merecido bastante atenção mediática nos últimos anos com os ataques da Administração Trump contra migrantes e refugiados. O ex-procurador de Trump descreveu a cidade como a “estaca zero” que está na “linha da frente” dos conflitos fronteiriços, recorda o “Guardian”. Na realidade, El Paso, com cerca de 680 mil habitantes e 80% de latinos, tem sido repetidamente classificada como uma das cidades mais seguras dos Estados Unidos.

O massacre no Walmart vitimou quase tantas pessoas como o número total de homicídios na cidade no ano passado.

“Muita da retórica que este Presidente usa pode ser encontrada naquele manifesto”, acusou o congressista democrata César Blanco, cujo escritório fica a poucos quarteirões do local onde aconteceu o tiroteio. “Palavras como ‘invasão’ são danosas para a nossa comunidade e vêm do Presidente, que tem aludido à minha comunidade como ‘assassinos e violadores que trazem crimes e drogas’. Quando os nossos líderes nacionais falam desta forma, enviam a mensagem a estes supremacistas brancos de que não há problema em permitir que o ódio continue e se propague”, lamentou.

Os habitantes lembram também que o suspeito não era de El Paso, tendo viajado mais de 960 quilómetros a partir de um subúrbio de Dallas. “O autor deste crime não era daqui. Esta é há anos uma das cidades mais seguras dos EUA e vamos continuar a mantê-la segura”, prometeu o comissário da polícia, David Stout. “Mas encontramo-nos sempre no meio desta retórica negativa que é levada a cabo pelo nosso Presidente. Tentam sempre demonizar a fronteira, que é algo que temos de combater constantemente”, concluiu.

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