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Sánchez tentará formar Governo “à portuguesa” mas já há quem avise que essa opção “tem truque”

Sánchez tentará formar Governo “à portuguesa” mas já há quem avise que essa opção “tem truque”
SERGIO PEREZ/REUTERS

O primeiro-ministro espanhol em funções reúne-se a partir desta quinta-feira “com diferentes grupos da sociedade civil” para elaborar uma proposta programática e tentar convencer o Podemos. Mas um dirigente deste partido adverte que o PSOE quer “ter as mãos livres para se entender com a direita” e dá o exemplo de António Costa e dos professores portugueses

Sánchez tentará formar Governo “à portuguesa” mas já há quem avise que essa opção “tem truque”

Hélder Gomes

Jornalista

Uma semana depois do fracasso da sua investidura como primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez enviou uma carta aos militantes socialistas em que explica a sua opção de um Governo “à portuguesa” – ou seja, um Executivo do PSOE e o apoio de outros partidos de esquerda com base num acordo programático.

Na edição desta quinta-feira, o jornal “El País” lembra que, até ao momento, o Unidas Podemos rejeita esta ideia, insistindo num Governo de coligação e em retomar as negociações no ponto em que ficaram, isto é, com o partido de Pablo Iglesias a assumir uma vice-presidência e três ministérios.

Sánchez continua em contrarrelógio para evitar chegar a 23 de setembro sem uma investidura, o que levaria à convocação automática de novas eleições para 10 de novembro, as quartas em quatro anos. O impasse dura há mais de três meses depois de as eleições de 28 de abril terem resultado num Parlamento muito fragmentado.

“Um espaço comum para um Governo progressista”

No entanto, a estratégia agora será outra e não passa por fazer uma ronda de negociações com Iglesias e com os outros líderes, como fez até à semana passada. Em vez disso, Sánchez irá reunir-se a partir desta quinta-feira “com diferentes grupos da sociedade civil, como associações feministas, ambientalistas, agentes sociais, agrupamentos do terceiro setor, para que possam colaborar na criação de um espaço comum para alcançar um Governo progressista”.

Segundo a carta, Sánchez elaborará uma proposta programática com o que sair dessas reuniões e com as propostas socialistas para convencer o Podemos. Mas, como refere o “El País”, o problema não está num possível acordo programático mas na distribuição de competências. A rutura consumou-se na quarta-feira da semana passada quando o PSOE deu por fracassadas as negociações depois de o Podemos ter recusado a sua última oferta.

Na missiva, o primeiro-ministro em funções tenta também contrariar a ideia de que o seu cenário preferido seria a repetição das eleições numa altura em que as sondagens apontam para uma possível maioria absoluta do PSOE.

“Um Governo que açambarca 100% do poder sem negociar”

Sánchez já começou a enfrentar a oposição à sua estratégia. Pablo Echenique, do Podemos, escreveu no Twitter que um “Governo à portuguesa” significa “um Governo que açambarca 100% do poder sem negociar”. “Apesar de estar longe da maioria absoluta”, o PSOE quer assegurar o controlo total “com a vantagem de ter as mãos livres para se entender com a direita quando lhe der nas ganas”, acusa Echenique.

Num tweet posterior, o dirigente do Podemos recorda que “recentemente, [o primeiro-ministro português] António Costa negociou com a direita uma reforma laboral para precarizar os trabalhadores e não reconhecer os mais de nove anos de congelamento dos salários dos professores”. Por isso, Echenique avisa: “a via portuguesa tem truque”.

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