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Quatro presos envolvidos em motim mortos durante transferência. “Problemas acontecem”, diz Bolsonaro

Quatro presos envolvidos em motim mortos durante transferência. “Problemas acontecem”, diz Bolsonaro
BRUNO SANTOS/AFP/Getty Images

Sobe assim para 62 o número de vítimas mortais do motim desta segunda-feira numa prisão de Altamira, no nordeste do Brasil. “Com toda a certeza, deveriam estar feridos, né? É como quando uma ambulância pega uma pessoa doente”, reagiu o Presidente. Segundo o Governo estadual, os presos “foram mortos”, não morreram na sequência de ferimentos anteriores

Quatro presos envolvidos em motim mortos durante transferência. “Problemas acontecem”, diz Bolsonaro

Hélder Gomes

Jornalista

Quatro dos presos envolvidos nos confrontos entre fações no Centro de Recuperação Regional de Altamira foram assassinados durante o transporte para uma outra prisão. Segundo nota do Governo estadual do Pará, as mortes ocorreram no interior de um camião que transportava um grupo de 30 reclusos entre o final da tarde de terça e a madrugada desta quarta-feira.

As mortes aconteceram por asfixia e só foram descobertas na chegada à cidade de Marabá, depois de percorridos 600 quilómetros. Os detidos, que viajavam algemados e estavam divididos por quatro celas, faziam parte da mesma fação criminosa, esclarece ainda o comunicado.

Sobe assim para 62 o número de vítimas mortais do motim desta segunda-feira. No estabelecimento prisional de Altamira, pelo menos 58 detidos morreram, tendo 16 deles sido decapitados.

“Eu gostaria que tivesse trabalho forçado no Brasil para esse tipo de gente”

Em reação à morte dos quatro reclusos durante a transferência, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse que são problemas que “acontecem”. “Com toda a certeza, deveriam estar feridos, né? É como quando uma ambulância pega uma pessoa doente. No deslocamento ela pode falecer. Pessoal, problemas acontecem, está certo?”, afirmou, citado pelo jornal “Folha de S. Paulo”.

De acordo com a nota do Governo estadual, os presos “foram mortos” em circunstâncias ainda não divulgadas, não morreram na sequência de ferimentos anteriores à transferência, como Bolsonaro alude.

O Presidente garantiu que irá discutir o episódio de violência com o ministro da Justiça, Sérgio Moro. E acrescentou: “Eu gostaria que tivesse trabalho forçado no Brasil para esse tipo de gente. Não pode forçar a barra. Ninguém quer maltratar presos nem quer que sejam mortos mas é o habitat deles, né?”.

As investigações ao motim em Altamira, que se prolongou por cinco horas, revelam que se tratou de um confronto entre duas fações que disputam o controlo do estabelecimento prisional. “Foi um ato dirigido. Os presos chegaram a fazer dois agentes reféns, mas logo foram libertados, porque o objetivo era mostrar que se tratava de um acerto de contas entre as duas fações e não um protesto ou rebelião dirigido ao sistema prisional”, afirmou o superintendente Jarbas Vasconcelos em comunicado.

Muitos reclusos, poucos agentes e falta de valências

A prisão em causa apresenta condições classificadas como “péssimas” num relatório do Conselho Nacional de Justiça. A sua capacidade é de 163 vagas mas, até esta segunda-feira, 343 reclusos cumpriam pena no estabelecimento prisional, ou seja, mais do dobro. Além da sobrelotação, o documento aponta o reduzido número de agentes face ao número de detidos e a ausência de um bloqueador de telemóveis e de valências como uma enfermaria, uma biblioteca, salas de aula e oficinas de trabalho.

O Pará é o quarto estado mais violento do Brasil e tem registado o avanço das milícias num fenómeno que só encontra paralelo no Rio de Janeiro, escreve a “Folha”. Em nenhum outro estado as organizações criminosas estão tão organizadas e dominam áreas tão vastas, que vão desde a oferta de serviços de televisão por cabo a serviços de segurança.

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