Quatro dos presos envolvidos nos confrontos entre fações no Centro de Recuperação Regional de Altamira foram assassinados durante o transporte para uma outra prisão. Segundo nota do Governo estadual do Pará, as mortes ocorreram no interior de um camião que transportava um grupo de 30 reclusos entre o final da tarde de terça e a madrugada desta quarta-feira.
As mortes aconteceram por asfixia e só foram descobertas na chegada à cidade de Marabá, depois de percorridos 600 quilómetros. Os detidos, que viajavam algemados e estavam divididos por quatro celas, faziam parte da mesma fação criminosa, esclarece ainda o comunicado.
Sobe assim para 62 o número de vítimas mortais do motim desta segunda-feira. No estabelecimento prisional de Altamira, pelo menos 58 detidos morreram, tendo 16 deles sido decapitados.
“Eu gostaria que tivesse trabalho forçado no Brasil para esse tipo de gente”
Em reação à morte dos quatro reclusos durante a transferência, o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse que são problemas que “acontecem”. “Com toda a certeza, deveriam estar feridos, né? É como quando uma ambulância pega uma pessoa doente. No deslocamento ela pode falecer. Pessoal, problemas acontecem, está certo?”, afirmou, citado pelo jornal “Folha de S. Paulo”.
De acordo com a nota do Governo estadual, os presos “foram mortos” em circunstâncias ainda não divulgadas, não morreram na sequência de ferimentos anteriores à transferência, como Bolsonaro alude.
O Presidente garantiu que irá discutir o episódio de violência com o ministro da Justiça, Sérgio Moro. E acrescentou: “Eu gostaria que tivesse trabalho forçado no Brasil para esse tipo de gente. Não pode forçar a barra. Ninguém quer maltratar presos nem quer que sejam mortos mas é o habitat deles, né?”.
As investigações ao motim em Altamira, que se prolongou por cinco horas, revelam que se tratou de um confronto entre duas fações que disputam o controlo do estabelecimento prisional. “Foi um ato dirigido. Os presos chegaram a fazer dois agentes reféns, mas logo foram libertados, porque o objetivo era mostrar que se tratava de um acerto de contas entre as duas fações e não um protesto ou rebelião dirigido ao sistema prisional”, afirmou o superintendente Jarbas Vasconcelos em comunicado.
Muitos reclusos, poucos agentes e falta de valências
A prisão em causa apresenta condições classificadas como “péssimas” num relatório do Conselho Nacional de Justiça. A sua capacidade é de 163 vagas mas, até esta segunda-feira, 343 reclusos cumpriam pena no estabelecimento prisional, ou seja, mais do dobro. Além da sobrelotação, o documento aponta o reduzido número de agentes face ao número de detidos e a ausência de um bloqueador de telemóveis e de valências como uma enfermaria, uma biblioteca, salas de aula e oficinas de trabalho.
O Pará é o quarto estado mais violento do Brasil e tem registado o avanço das milícias num fenómeno que só encontra paralelo no Rio de Janeiro, escreve a “Folha”. Em nenhum outro estado as organizações criminosas estão tão organizadas e dominam áreas tão vastas, que vão desde a oferta de serviços de televisão por cabo a serviços de segurança.
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