A coligação Unidas Podemos anunciou esta quinta-feira que vai abster-se na votação para a investidura de Pedro Sánchez como primeiro-ministro. A decisão foi tomada depois de o PSOE ter rejeitado a proposta apresentada pelo Podemos que exigia a vice-presidência dos Direitos Sociais e Igualdade, e os ministérios da Saúde, da Ciência e Universidade, e do Emprego.
Em reação ao anúncio, Sánchez afirmou que “persiste um bloqueio parlamentar” e que, para conseguir ser investido, precisava de ter feito um acordo com o seu “parceiro prioritário”, o Unidas Podemos, e contar com a abstenção ou do PP ou do Ciudadanos. Não conseguiu e lamenta que se tenha perdido a “oportunidade histórica de juntar uma força de esquerdas à esquerda do PSOE”. E perdeu-se não por causa dos programas dos partidos, “que praticamente coincidem em termos sociais, ecológicos e na área da defesa dos direitos das mulheres”, mas por causa da atribuição de cargos. “Demonstrámos uma grande vontade de chegar a um acordo e apresentámos propostas que foram, repetidamente, rejeitadas pelo senhor Iglesias.”
O líder do PSOE disse ainda nunca ter conhecido “nenhum dirigente de esquerda que se tenha sentido humilhado com a proposta de assumir a vice-presidência, proposta respeitosa e sensata”, e, além disso, “sensata”, dada a ausência de experiência governativa do Podemos. Sobre o futuro e as suas aspirações, Sánchez disse: “Pretendo presidir o Governo espanhol, mas não a qualquer preço nem com qualquer governo. É preciso um governo coerente e coeso, não dois governos dentro de um”.
Direita não poupa nas críticas a Sánchez
Os restantes partidos começam a pronunciar-se sobre o assunto no Congresso dos Deputados. Pablo Casado, do PP, disse que Sánchez só quis negociar com a “esquerda radical e os independentistas” e que tudo se tratou apenas de uma “luta desesperada pelo poder”. “Nunca lhes importou a Espanha, nem a política, nem quaisquer ideias”, acrescentou, considerando uma eventual candidatura do líder do PSOE a novas eleições como um “perigo para Espanha”. Também Albert Rivera, do Ciudadanos, acusou Sánchez de ter colocado os seus interesses pessoais e o seu “ego” à frente dos interesses dos espanhóis e do país.
Podemos faz proposta de última hora
Entretanto, o Podemos fez uma última proposta e disse estar em condições de abdicar de um dos ministérios exigidos, o do Trabalho, “caso lhe sejam dadas as políticas ativas do emprego”. “Estamos a tempo de salvar esta sessão de investidura.
Troca de acusações entre PSOE e Podemos
Durante esta manhã, o PSOE e o Podemos trocaram acusações pelo atual impasse das negociações desde as eleições gerais realizadas a 28 de abril, para a investidura de Pedro Sánchez. A vice-presidente do Governo do executivo espanhol, Carmen Calvo, foi mais longe e acusou mesmo o Podemos de ter a ambição de conseguir o “Governo inteiro”.
“Pediram-nos literalmente o Governo, embora o Podemos nos acuse de ter oferecido apenas um papel decorativo”, declarou Carmen Calvo, em entrevista à Cadena SER. Segundo o líder das negociações do Podemos, foi o PSOE que voltou mais uma vez a romper as negociações. “Não tenho muita esperanças mas veremos até ao fim da manhã”, afirmou por sua vez o dirigente do Podemos.
Nem a maioria absoluta nem a maioria
Sánchez precisava de obter a maioria dos votos expressos, ao contrário da primeira votação, em que necessitava da maioria absoluta, ou seja, 176 assentos. Na anterior votação, tinha ficado aquém desse resultado, com 124 votos favoráveis (o PSOE e o único deputado do Partido Regionalista da Cantábria), 170 votos negativos (PP, Ciudadanos, Vox, Esquerda Republicana da Catalunha, Juntos pela Catalunha, Navarra Suma e Coligação Canária) e 52 abstenções (Unidas Podemos, Partido Nacionalista Basco, Compromisso e Bildu).
A abstenção do Podemos vem, no entanto, deitar as aspirações de Sánchez por terra, e isto porque a ERC (Esquerda Republicana Catalã), a coligação EU Bildu e o Compromís também já tinha anunciado que pretendiam abster-se (o Esquerda Unida também disse que o faria caso não se chegasse a um acordo).