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Corbyn pede eleições, Timmermans diz que “temos de nos habituar a lidar com políticos coloridos”. O mundo reage à eleição de Boris

Corbyn pede eleições, Timmermans diz que “temos de nos habituar a lidar com políticos coloridos”. O mundo reage à eleição de Boris
Leon Neal/Getty Images

Até o Irão já reagiu à eleição de Boris Johnson para primeiro-ministro do Reino Unido. A maioria dos líderes mundiais felicitaram-no e mostram-se dispostos a trabalhar com ele. Jeremy Corbyn, líder dos trabalhistas, pelo contrário, pede eleições gerais por não considerar que o universo de eleitores que votou em Boris seja representativo da vontade geral do povo britânico

"A política mundial está repleta de figuras 'coloridas' hoje em dia. Se não souberes lidar com elas, não há muito que possas fazer. A melhor solução é manter a nossa posição, de que este é o melhor acordo possível", respondeu Frans Timmermans, primeiro vice-presidente do executivo comunitário quando questionado sobre se a Comissão estava apreensiva com a eleição de Boris Johnson.

Frans Timmermans endereçou ainda um 'recado' ao novo primeiro-ministro britânico, dizendo esperar que a mensagem de que o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE) é "o melhor possível" seja "entendida em Westminster".

O acordo foi firmado em novembro pela anterior líder do Governo britânico, Theresa May, e pela Comissão Europeia, e já foi endossado pelo Conselho Europeu.

"Negociámos em boa fé, saímos da negociação com a melhor solução para uma situação muito complicada, que faz justiça às posições da UE e do Reino Unido e espero que possamos continuar a trabalhar com base nessa solução. Penso que se há um acordo entre um país e uma organização como a UE, é responsabilidade de todos cingir-se ao acordo e continuar a trabalhar", alertou. Acrescentou ainda que uma saída sem acordo seria "uma tragédia para todos".

"Não sou um daqueles que defende que eles são os únicos que vão sofrer. Todos vamos sofrer se isso acontecer. Se olhar para os últimos anos, penso que a grande parte das pessoas que votaram pelo 'Brexit' não o fizeram pensando num 'no deal' (sem acordo). Há uma grande vontade na sociedade britânica de sair desta situação de uma forma razoável. E a melhor solução é mesmo respeitar o acordo alcançado com a UE", completou.

Confrontado com comentários que fez a respeito do novo primeiro-ministro, nos quais acusava Boris Johnson de estar a "brincar" com o 'Brexit', Timmermans recordou que estes remetiam para aquilo que o britânico escreveu ao longo dos anos.

"Ele demorou muito tempo a decidir se era pró ou contra o 'Brexit'. Agora a posição dele é clara e penso que a posição da UE também é clara. O Reino Unido alcançou um acordo com a UE e a UE cingir-se-á a esse acordo", repetiu o primeiro vice-presidente do executivo comunitário, em conferência de imprensa em Bruxelas.

Ratificação e não renegociação

Já o negociador-chefe da UE para o Brexit, Michel Barnier, diz que quer "trabalhar de forma construtiva" com o próximo primeiro-ministro britânico, para se chegar a uma "saída ordenada" do Reino Unido. "Ansiamos por trabalhar de forma construtiva com o primeiro-ministro Boris Johnson quando este tomar posse, para facilitar a ratificação do Acordo de Saída e chegarmos a um 'Brexit' ordenado", disse Barnier, numa reação divulgada na sua conta na rede social Twitter. "Estamos também prontos para retrabalhar a declaração negociada numa nova parceria em linha com as diretrizes do Conselho Europeu", salientou ainda.

Ainda do seio da UE chegou a reação do presidente da Comissão Europeia: “[Jean-Claude Juncker] pediu-me que transmitisse as suas felicitações ao senhor Boris Johnson. O presidente quer trabalhar com o primeiro-ministro da melhor maneira possível", declarou a porta-voz da Comissão Europeia, Natasha Bertaud, que falava na habitual conferência de imprensa do executivo comunitário em Bruxelas.

Emmanuel Macron foi o primeiro líder europeu a felicitar Boris: "Felicito calorosamente Boris Johnson" e "vou falar-lhe assim que seja designado oficialmente primeiro-ministro", disse Macron, durante uma conferência de imprensa conjunta com a nova presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, no palácio presidencial do Eliseu.

"Estou muito desejoso de poder trabalhar o mais rápido possível com ele, não apenas nas questões europeias, que são as nossas, na continuação das negociações do 'Brexit', mas também nas questões internacionais que compõem as nossas vidas diárias e nas quais somos estreitamente coordenados com os britânicos e os alemães", acrescentou, citando o Irão em particular.

Antes de felicitar Johnson, o chefe de Estado francês prestou homenagem à primeira-ministra britânica, Theresa May, que deverá deixar o seu cargo na quarta-feira. "Ela tomou posse das suas funções num contexto difícil após o referendo (sobre o 'Brexit') e trabalhou connosco com grande coragem e dignidade por todos esses anos. Ela jamais bloqueou o funcionamento da União Europeia e tentou servir os interesses britânicos da melhor forma possível", disse.

Irão diz que vai continuar a proteger as suas águas

Do outro lado do Atlântico chegou em primeiro lugar a já esperada reação positiva do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: "Parabéns a Boris Johnson por se tornar o novo primeiro-ministro do Reino Unido. Ele será ótimo!", escreveu Trump na sua conta da rede social Twitter. Trump já tinha mostrado anteriormente as suas preferências e Boris também se recusou, num debate recente com Jeremy Hunt, a criticar Trump, sinal de que já adivinhava que poderia ter que vir a negociar com Trump como primeiro-ministro.

O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Mohamad Javad Zarif, felicitou Boris Johnson pela sua eleição como primeiro-ministro britânico, mas alertou que o Irão defenderá as suas águas no Golfo Pérsico. "Felicito o meu antigo homólogo [Boris Johnson] que se torna" primeiro-ministro do Reino Unido, escreveu Mohamad Javad Zarif na sua conta da rede social Twitter.

"Temos 1500 milhas [mais de 2400 quilómetros] de costa no Golfo Pérsico. Essas são as nossas águas e vamos protegê-las", salientou o chefe da diplomacia iraniana. Mohamad Javad Zarif indicou ainda que "o Irão não procura conflitos", mas a decisão do Governo de Theresa May em apreender o petroleiro iraniano Grace One ao largo de Gibraltar "sob ordem [dos Estados Unidos] é uma pirataria pura e simples".

A tensão entre o Irão e o Reino Unido aumentou desde a captura, na sexta-feira passada, de um navio-tanque britânico no Estreito de Ormuz pela Guarda Revolucionária Iraniana.

"Amigos dos banqueiros", diz Corbyn

Dentro do Reino Unido, a maioria dos políticos da oposição reagiu de forma crítica à escolha de Boris. O líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, criticou a eleição de Boris Johnson como primeiro-ministro por menos de 100 mil pessoas, reivindicando eleições legislativas antecipadas.

"Boris Johnson ganhou o apoio de menos de 100 mil membros do Partido Conservador, não representativos, prometendo cortes de impostos para os mais ricos, apresentando-se como amigo dos banqueiros e pressionando por um prejudicial 'Brexit' sem acordo. Mas ele não ganhou o apoio do nosso país", escreveu Jeremy Corbyn, líder dos trabalhistas, também no Twitter.

Corbyn receia que uma saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo resulte em despedimentos, inflação e na privatização de partes do serviço nacional de saúde para garantir um acordo comercial com os EUA.

Já a recém-eleita líder dos Liberais Democratas, Jo Swinson, afirmou que "o Reino Unido merece melhor do que Boris Johnson" e que "a sua arrogância em relação ao 'Brexit' só vai piorar a crise".

A líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP) e chefe do Governo escocês, Nicola Sturgeon, felicitou Boris Johnson e prometeu tentar trabalhar de forma que "respeite e proteja os objetivos e interesses da Escócia". Porém, também se mostrou preocupada com a perspetiva de Boris Johnson como primeiro-ministro e prometeu trabalhar com outros partidos para bloquear um 'Brexit' sem acordo "que causaria danos catastróficos à Escócia".

Sturgeon considera "mais importante do que nunca" continuar a preparar o país para um novo referendo à independência, "em vez de ter um futuro (...) imposto por Boris Johnson e os Conservadores".

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Boris Johnson foi hoje declarado em Londres o vencedor da eleição para a liderança no partido Conservador, e vai suceder a Theresa May à frente do governo na quarta-feira.

O resultado da eleição foi anunciado pela deputada Cheryl Gillan, uma das responsáveis pelo escrutínio interno no partido, no centro de conferências Queen Elizabeth II, perto de Westminster.

Boris Johnson ganhou com 92.153 votos, enquanto o outro candidato finalista, o atual ministro dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, reuniu apenas 46.656 votos. O resultado é o desfecho de um processo que se prolongou por seis semanas e decidido pelo voto limitado a cerca de 160 mil militantes do partido Conservador.

Foi desencadeado pela renúncia de Theresa May à liderança do partido a 7 de junho devido à dificuldade em fazer aprovar no parlamento o acordo de saída para o 'Brexit' que concluiu em novembro com Bruxelas.

Boris Johnson só será nomeado primeiro-ministro pela rainha Isabel II após a demissão de Theresa May na tarde de quarta-feira, após o debate semanal com os deputados na Câmara dos Comuns.

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