Uma multidão de apoiantes do Presidente dos EUA, Donald Trump, entoou o cântico “Manda-a de volta! Manda-a de volta!”, em referência à congressista democrata Ilhan Omar, que chegou ao país há quase 30 anos como uma criança refugiada. Trump usou esta quarta-feira um comício de campanha em Greenville, na Carolina do Norte, para voltar a atacar Omar e três outras congressistas democratas – Alexandria Ocasio-Cortez, Ayanna Pressley e Rashida Tlaib –, chamando-as “extremistas cheias de ódio”.
O quarteto tem sido alvo de ataques racistas de Trump durante esta semana, depois de um tweet no domingo em que o Presidente sugeriu que as congressistas voltassem para os seus países de origem. Mas das quatro apenas Omar não nasceu nos Estados Unidos, tendo chegado ao país com oito anos como refugiada de guerra da Somália.
Os ataques de Trump foram motivados pelo testemunho das congressistas na Câmara dos Representantes em que estas falaram das condições desumanas que presenciaram durante visitas a instalações de detenção de migrantes no Texas. “É muito interessante ver congressistas democratas ‘progressistas’, que originalmente vieram de países cujos governos são uma completa e total catástrofe, os piores, os mais corruptos e ineptos do mundo... dizerem, de viva e maliciosa voz, ao povo dos Estados Unidos, a maior e mais poderosa nação na Terra, como o nosso Governo deve ser gerido. Porque é que não voltam para os lugares totalmente destruídos e infestados de crime de onde vieram? Depois voltam e mostram-nos como se faz”, escreveu então.
Os “tweets racistas do Presidente”
Os tweets do Presidente levaram a Câmara a aprovar uma resolução de condenação. “Todos os membros desta instituição, democratas e republicanos, devem unir-se a nós na condenação dos tweets racistas do Presidente. Fazer algo menos do que isso seria uma rejeição chocante dos nossos valores e uma abdicação vergonhosa do nosso juramento de posse para proteger o povo americano”, disse na terça-feira a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi.
“Elas estão sempre a dizer-nos como agir, como fazer isto, como fazer aquilo. Sabem que mais? Se não gostam, digam-lhes para se irem embora”, insistiu Trump na noite desta quarta-feira. No comício, o Presidente também se mostrou exasperado com o nome de Alexandria Ocasio-Cortez. “Não, não. Eu não tenho tempo para dizer três nomes diferentes. Vamos chamá-la Cortez. Muito tempo, leva muito tempo”, disse.
“É feio. É ignorante. É perigoso. E é antiamericano”
As declarações no comício da Carolina do Norte motivaram reações de indignação. “A multidão fanática a cantar ‘manda-a de volta’ esta noite é significativo”, escreveu no Twitter Walter Shaub, que foi diretor do departamento de ética governamental durante o segundo mandato do Presidente Barack Obama.
Também o radialista conservador e ex-congressista republicano Joe Walsh reagiu no Twitter, escrevendo: “‘Manda-a de volta, manda-a de volta’ é feio. É ignorante. É perigoso. E é antiamericano. É fanatismo em toda a linha. E todos os republicanos deviam condenar este fanatismo imediatamente. Parem com isto agora.”
Em reações recolhidas pelo jornal “The Guardian”, o comentador David Gergen disse na CNN que “quando ultrapassas [o antigo Presidente Richard] Nixon em repulsa, percorreste um longo caminho”.
A própria congressista Ilhan Omar reagiu no Twitter, citando um poema de Maya Angelou: “Podes disparar sobre mim com as tuas palavras. Podes cortar-me com os teus olhos. Podes matar-me com o teu ódio. Mas, ainda assim, como o ar, eu erguer-me-ei.”
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