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“Lutemos pelo futuro e não uns contra os outros”, pede Ursula von der Leyen, primeira mulher presidente da Comissão Europeia

Ursula von der Leyen fez esta terça-feira o seu primeiro discurso como presidente da Comissão Europeia
Ursula von der Leyen fez esta terça-feira o seu primeiro discurso como presidente da Comissão Europeia
VINCENT KESSLER/Reuters

Parlamento europeu aceitou nomeação da até agora ministra da Defesa alemã para chefiar o Executivo comunitário, com 383 votos a favor, 327 contra, 22 abstenções e um voto nulo. Será a primeira mulher no cargo

“Lutemos pelo futuro e não uns contra os outros”, pede Ursula von der Leyen, primeira mulher presidente da Comissão Europeia

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

Ursula von der Leyen será, a partir de 1 de novembro, a primeira mulher a presidir à Comissão Europeia. A ministra da Defesa alemã, proposta pelo Conselho Europeu no mês passado, foi confirmada pelo Parlamento Europeu esta terça-feira. Votaram 733 eurodeputados, dos quais 383 se pronunciaram a favor da candidata, 327 contra e 22 abstiveram-se, tendo havido 1 voto nulo. Von der Leyen ficou nove votos acima do limiar exigido para ser nomeada (374 e não 376, como seria de esperar num hemiciclo de 751, porque alguns ainda não tomaram posse).

Muitos parabéns!”, ouviu-se em Estrasburgo depois do anúncio do resultado da votação, feito pelo presidente do Parlamento Europeu, David-Maria Sassoli. Seguiu-se um aplauso e o italiano explicou que agora há que nomear os 27 comissários que, com Von der Leyen, irão formar a Comissão Europeia.

“A confiança que colocam em mim é a confiança que colocam na Europa. Confiança numa Europa unida e forte, de leste a oeste, de sul a norte”, afirmou a eleita, num breve discurso em que agradeceu aos eurodeputados. “A confiança numa Europa pronta a lutar pelo futuro, não uns contra os outros.”

Apoiaram-na maioritariamente o Partido Popular Europeu (centro-direita), os Socialistas e Democratas (centro-esquerda) e os liberais do grupo Renovar a Europa. “Cooperemos de forma construtiva, porque o esforço é para nos unirmos em torno de uma Europa forte.

Fim dos Spitzenkandidaten

Von der Leyen, ginecologista de 60 anos, suscitou desconfiança entre alguns eurodeputados por não ter sido um dos Spitzenkandidaten, isto é, uma das figuras indicadas pelas famílias políticas europeias antes das eleições do passado dia 26 de maio.

Esse sistema, que funcionou em 2014 para nomear Jean-Claude Juncker, que fora o Spitzenkandidat dos democratas-cristãos (Partido Popular Europeu), não se aplicou este ano. A eleita é do PPE, o grupo com maior peso no hemiciclo, mas o indicado fora o seu compatriota Manfred Weber.

O país com maior população da União Europeia retoma a chefia do Executivo comunitário, que ocupou entre 1958 e 1967 com Walter Hallstein. Von der Leyen está no Governo federal desde que Angela Merkel se tornou chanceler, em 2005, tendo ocupado a pasta da Família até 2009, a do Trabalho e Segurança Social até 2013 e a da Defesa desde então. Mais nenhum ministro de Merkel ficou no Executivo todo o tempo de mandato da líder germânica.

Sensível à família

Nascida Ursula Albrecht, em Bruxelas, onde o pai trabalhava na Comissão Europeia, a nova líder desta instituição fala alemão e francês como línguas maternas, acumulando com inglês. Viveu na capital belga até aos 13 anos, tendo cursado Medicina em Hanôver após estudos de Economia.

Foi no coro da Universidade que conheceu Heiko Von der Leyen, colega com quem casou em 1986. A vida profissional do marido fá-la-ia viver grande parte da década de 90 na Califórnia, de onde regressaram com cinco filhos (tiveram mais dois depois disso). Voltou sensibilizada para necessidade de garantir aos trabalhadores e, sobretudo, às trabalhadoras condições para conciliar a vida laboral com a vida familiar. Esforçar-se-ia nesse sentido nos governos de Merkel, já neste século.

Von der Leyen aderiu em 1990 à União Democrata-Cristã, então chefiada por Helmut Kohl, grande mentor da reunificação alemã. O seu pai, Ernst Albrecht, fora militante do mesmo partido e chefe do governo regional da Baixa Saxónia nas suas listas, entre 1976 e 1990.

A própria Ursula faria parte do mesmo governo regional em 2003, ano em que foi eleita deputada estadual. Participou na redação do programa eleitoral que levou Merkel ao poder, nas legislativas de 2005. Em 2010 o partido ponderou indicar Von der Leyen para Presidente da República, mas decantou-se por Christian Wulff.

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