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Sudão. Conselho militar no poder anuncia que Exército frustrou “tentativa de golpe de Estado”

Sudão. Conselho militar no poder anuncia que Exército frustrou “tentativa de golpe de Estado”
Anadolu Agency/Getty Images

“Oficiais, soldados e membros dos serviços de informação, alguns dos quais aposentados, tentaram dar um golpe”, informou um general da junta militar. O responsável acrescentou que quatro soldados foram presos e que estava em curso uma investigação. No final da semana passada, os militares e os manifestantes chegaram a um acordo para o período de transição

Sudão. Conselho militar no poder anuncia que Exército frustrou “tentativa de golpe de Estado”

Hélder Gomes

Jornalista

O general Jamal Omar, representante do Conselho Militar de Transição no Sudão, anunciou esta quinta-feira que uma “tentativa de golpe de Estado” tinha sido frustrada no país, não precisando, no entanto, quando teria acontecido essa tentativa.

“Oficiais, soldados e membros dos serviços de informação, alguns dos quais aposentados, tentaram dar um golpe”, afirmou o general num discurso transmitido em direto na televisão nacional. “O Exército conseguiu frustrar essa tentativa e quatro soldados foram presos. Está em curso uma investigação para determinar quem está por trás do golpe”, acrescentou.

Segundo o correspondente da rádio francesa RFI na África Oriental, Sébastien Németh, o anúncio deve ser interpretado com “muita prudência”. “Os golpistas no poder já fizeram anúncios semelhantes, designadamente há um mês. Na altura, falaram de 70 soldados interrogados sem apresentarem qualquer prova”, disse o repórter num registo captado pelo canal de televisão France 24.

O anúncio da tentativa frustrada foi feito na sequência de uma reunião entre representantes da junta militar no poder e os líderes dos protestos para finalizar os termos de um acordo de transição. “Foi uma tentativa de bloquear o acordo alcançado entre o Conselho Militar de Transição e a Aliança para a Liberdade e Mudança, que visa abrir o caminho no sentido do cumprimento dos pedidos do povo sudanês”, classificou o general Jamal Omar.

No final da semana passada, as duas partes anunciaram que tinham chegado a um acordo sobre o órgão encarregado de gerir a transição por um período de cerca de três anos. O entendimento prevê que os militares presidam àquele órgão durante os primeiros 21 meses e os civis durante os 18 meses restantes. No sábado, o conselho comprometeu-se a “aplicar” e “preservar” o acordo. O texto final deverá ser assinado nos próximos dias.

“Investigação aos incidentes violentos e lamentáveis”

Os dois lados também acordaram a realização de “uma investigação completa, transparente, nacional e independente dos vários incidentes violentos e lamentáveis nas últimas semanas”, acrescentou um representante da União Africana (UA), que, juntamente com a Etiópia, serve de mediador da crise no Sudão.

Os líderes dos protestos exigiam uma investigação independente e internacional sobre a dispersão sangrenta dos manifestantes concentrados no exterior do quartel-general do Exército, a 3 de junho, que fez mais de uma centena de mortos, segundo médicos próximos da contestação, e 61 mortos, de acordo com as autoridades.

Por fim, os militares e os manifestantes concordaram em “atrasar” o estabelecimento de um “conselho legislativo”, que deverá funcionar como um Parlamento de transição, até que sejam formados o conselho soberano e um Governo civil.

“Este acordo não excluirá ninguém”

O número dois do conselho militar, o general Mohamed Hamdan Dagalo, saudou o acordo: “Queremos assegurar a todas as forças políticas e a todos os que participaram na mudança que este acordo será completo, não excluirá ninguém e incluirá todas as ambições do povo.”

Apesar de servir de mediadora, escassos dias após a repressão do início de junho, a UA suspendeu a participação do Sudão em todas as atividades da organização, “com efeito imediato”, “até ao estabelecimento efetivo de uma autoridade de transição liderada por civis”.

Esta era, segundo a UA, “a única saída para a atual crise”, sendo também a reivindicação principal dos manifestantes desde a deposição do Presidente Omar al-Bashir em abril, ao fim de três décadas no poder e após meses de protestos.

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