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Ursula von der Leyen com a eleição tremida. Verdes dizem “não”, socialistas e liberais querem mais antes de dizer “sim”

Ursula von der Leyen com a eleição tremida. Verdes dizem “não”, socialistas e liberais querem mais antes de dizer “sim”
Anadolu Agency/Getty Images

A bancada dos Verdes diz que vai votar contra Ursula von der Leyen para a presidência da Comissão Europeia. Os Liberais e Socialistas também não estão convencidos e querem negociar mais compromissos antes de dar o apoio à alemã. Adiamento da votação para setembro é uma possibilidade para evitar um chumbo na próxima semana em Estrasburgo

Ursula von der Leyen com a eleição tremida. Verdes dizem “não”, socialistas e liberais querem mais antes de dizer “sim”

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

As audições desta quarta-feira deixaram claro que a eleição de Ursula von der Leyen para presidente da Comissão não é um passeio no Parlamento. Os últimos a ouvi-la foram os Verdes e não ficaram impressionados, ao ponto de logo a seguir ao encontro garantirem 74 votos contra. "Não ouvimos nenhuma proposta concreta, fosse sobre o Estado de Direito ou sobre o Clima", escreveu o grupo parlamentar no Twitter, acrescentando que não vê "como uma mudança será possível com esta candidata".

De pouco serviram as declarações aos jornalistas, momentos antes da reunião com os Verdes, em que von der Leyen se comprometia "com mais ambição" na luta contra as alterações climáticas. Mas na discussão com a bancada ecologista, as metas da alemã mostraram-se menos ambiciosas do que as dos seus interlocutores. Para o eurodeputado do PAN, Francisco Guerreiro, "foi um discurso vago".

Os votos contra dos Verdes não impedem a eleição, mas se os socialistas e liberais também lhe virarem as costas, as contas de von der Leyen complicam-se e muito. E, por enquanto, nem a bancada do centro-esquerda, nem a do Renovar Europa lhe garantem apoio, pelo contrário, sobem o preço do voto favorável e pedem mais compromissos à candidata escolhida pelos 28 líderes europeus.

"Com os compromissos hoje assumidos não teríamos condições para votar a favor", diz o eurodeputado do PS Carlos Zorrinho. Os socialistas portugueses e europeus não ficaram convencidos, nem satisfeitos com as respostas dadas pela ainda ministra da Defesa de Angela Merkel, por exemplo, no que diz respeito à reforma da zona euro ou ao próximo Quadro Financeiro Plurianual.

Mas, ao contrário dos Verdes, os Socialistas e Democratas (S&D) deixam margem para serem ainda convencidos e vão enviar a von der Leyen um documento com várias exigências. Querem que a próxima Comissão se aproxime mais do programa progressista. "Estamos a negociar", diz Zorrinho, para quem o S&D "não pode ser visto como um grupo político que bloqueia, mas que desbloqueia".

Certo é que não chega a Ursula von der Leyen dar o lugar de primeiro vice-Presidente a Frans Timmermans, nem erguer agora uma das bandeiras do candidato derrotado dos Socialistas à presidência da Comissão Europeia: "vou lutar por um salário mínimo em todos os Estados Membros", disse a alemã esta quarta-feira. Mas os socialistas querem mais e não são os únicos a esticar a negociação.

Também a bancada Renovar Europa (RE) hesita em dar já o mesmo apoio que os líderes liberais e o presidente francês Emmanuel Macron garantiram a 2 de julho. O grupo parlamentar vale mais de cem votos e juntamente com os socialistas formam o acordo alargado de que o Partido Popular Europeu (PPE) precisa para aprovar von der Leyen e com o qual contou na última reunião de chefes de Estado e de Governo.

Se, por um lado, o RE até assume que "a nomeada deixou uma imagem positiva" no encontro com os deputados, por outro, pede mais esforços. "Esperamos por um compromisso claro para implementar um mecanismo europeu sobre o Estado de Direito", diz o romeno Dacian Ciolos, líder do grupo, "incluindo sanções para os países que não cumprirem os requisitos europeus", acrescenta.

Os liberais pareceram hoje mais dispostos a dizer "sim" do que os socialistas. No entanto, um maior compromisso de Ursula von der Leyen com qualquer mecanismo sancionatório do Estado de Direito pode valer-lhe a irritação dos húngaros do Fidesz - que fazem parte da sua família política, o PPE - ou dos polacos do PIS, que estão na bancada dos conservadores, com quem a alemã também se reuniu esta semana e de onde poderão vir alguns apoios.

Adiamento da votação em cima da mesa

O tempo da democrata-cristã para convencer não é muito. A votação está marcada para 16 de julho, em Estrasburgo, e não tem segunda volta. Ou passa à primeira ou não passa. E esse risco existe, admite Paulo Rangel, para quem a forma de evitar "uma reprovação" pode passar por adiar a votação. "Não estranharia que pudesse haver um adiamento e que ele fosse saudável" para permitir uma plataforma "de entendimento com os vários grupos".

Para o eurodeputado do PSD, aquela que pode vir a ser a primeira mulher a liderar o executivo comunitário tem "carisma, capacidade de inspiração e conhecimento dos dossiês". Uma votação lá para setembro, poderia dar tempo para convencer socialistas e liberais do mesmo.

No entanto, ao que o Expresso apurou, nem todos partilham desta ideia de que prorrogar o processo pode ajudar na eleição, nem mesmo dentro do Partido Popular Europeu. Mas a possibilidade já circula no Parlamento Europeu e esta quinta-feira há reunião dos líderes dos vários grupos para fechar a agenda da sessão parlamentar da próxima semana em Estrasburgo.

A outra possibilidade em cima da mesa passa por adiar a votação de terça para quarta, dia 17, mantendo o debate da candidata em plenário no dia 16, mas dando 24 horas aos eurodeputados para digerirem a prestação antes de dizerem "sim" ou "não".

Entretanto, Ursula von der Leyen deverá voltar esta quinta-feira ao edifício do Parlamento em Bruxelas para se encontrar com o Grupo da Esquerda Unitária Europeia (GUE), onde têm assento PCP e Bloco de Esquerda. A alemã tinha deixado as bancadas dos extremos - à direita e à esquerda - fora dos seus pedidos de reunião. Mas a GUE pediu para ouvi-la, o que deverá acontecer agora.

No entanto, João Ferreira baixa as expectativas sobre qualquer contributo para a eleição. "Não serão com certeza votos do nosso grupo a contribuir para isso", diz o eurodeputado comunista, que é também um dos vice-presidentes da bancada.

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