Seja pelo barulho que fazem, pela ameaça que representam para locais históricos, para a sustentabilidade de alguns ecossistemas ou, simplesmente, porque são demais, os turistas estão a tornar-se cansativos e mesmo indesejáveis em muitos países. Sinal disso são as políticas que alguns estão a assumir para controlar o fluxo de entradas, pelo menos nos centros normalmente mais ‘castigados’.
Paris foi esta semana notícia por querer proibir a entrada de autocarros turísticos no centro da cidade, mas a capital francesa não tem o exclusivo em matéria de ideias para conter os efeitos secundários dos visitantes em excesso.
Se há ilha tão famosa pela beleza como pelo turismo em demasia, esta chama-se Santorini, na Grécia. Entre maio e setembro, a avalancha de chegadas de navios de cruzeiro fazia recentemente subir até aos 10 mil o número de visitantes/dia , o que em 2017 levou à imposição de um limite mais baixo, fixado em 8 mil. A justificação é a de que o turismo crescente está também a provocar um forte impacto ambiental, com pelo menos 11% da ilha urbanizada e o consumo de água a disparar 46%. Não há volta a dar, dizem as autoridades: santorini não consegue suportar os custos de importar todos os bens de que necessita.
Podemos continuar na Europa, para falar de um outro caso. Veneza anunciou que vai introduzir um novo imposto, a ser pago por quem deseje visitar o centro histórico da cidade. A “taxa de entrada” (que não é exclusiva deste destino italiano) é, claro, uma tentativa para controlar o turismo de massa e visa quem estiver em Veneza apenas para passar o dia (quem pernoita já é obrigado a pagar outra taxa). Segundo a informação disponível, o valor do novo imposto, provavelmente a ser cobrado já a partir deste ano, será de 3 euros, mas subirá para o dobro em 2020, podendo chegar aos 10 euros quando se registar “um excecional e crítico fluxo turístico”.
Enquanto isso, no mesmo país, mas em Cinque Terre, as autoridades querem limitar o número de visitantes, reduzindo em pelo menos um milhão o atual total de 2,5 milhões de pessoas por ano. Há uma curiosa multa, que pode chegar até aos 2500 euros, para quem usar chinelos para caminhar pelos terrenos íngremes da montanha, mas essa nem se insere nesta política de contenção, pretende apenas responder ao problema financeiro que decorre da necessidade de resgatar turistas acidentados.
Mercados de Barcelona com ordem para expulsar
Na vizinha Espanha, os habitantes de Barcelona apontam o excesso de turistas como o maior problema da cidade, cujos responsáveis equacionam tomar medidas, como cobrar uma taxa extra a quem só fique um dia, sem pernoitar. Enquanto isso, perante um total de 1,6 milhões de habitantes em comparação com os 20 milhões de visitantes anuais, há quem já tenha começado a impor limites. Como três mercados emblemáticos, La Boquería, Santa Caterina e Sant Antoni: não ser obrigatório comprar nada, mas é obrigatório não atrapalhar. Visitas de 15 ou mais pessoas com guia estão proibidas às sextas e sábados (até 30 de Outubro, ou sempre que se verifiquem situações de aumento imprevisto de visitantes). Mesmo grupos mais pequenos podem ser ‘convidados’ a sair se provocarem aglomerações nos corredores e atrapalharem a circulação e as compras dos clientes.
Paraíso, mas só para 400 turistas de cada vez, é o Lord Howe Island, na Austrália. Integra a lista de património mundial da Unesco desde 1982 pelas fauna, flora e vida marinha, pelo que o objetivo é garantir que estas não acabem afetadas.
Por causa da série “Guerra dos Tronos”, Dubrovnik, na Croácia, atingiu em agosto de 2017 um número de visitantes diários que se revelou tão assustador, como impossível: 10.500. A autarquia resolveu então tomar medidas, com o objetivo de em dois anos conseguir limitar esse volume a 4 mil turistas/dia. O sucesso passa por restringir a chegada de cruzeiros ao porto da cidade.
A lista não é exaustiva e deixa de fora os países que, não tendo medidas já em vigor, as estão a estudar por sofrer com o mesmo problema. Mas, a terminar fica o caso recente de Bruges, onde a câmara quer controlar especialmente o número de excursionistas e diminuir as escalas de navios de cruzeiros.
Património da Humanidade pela UNESCO, Bruges é a cidade mais visitada da Bélgica, o porto que serve a cidade tem capacidade para receber 5 navios em simultâneo mas apenas 2 passarão a ser permitidos, e preferencialmente durante os dias de semana, é recomendado aos operadores turísticos. “Não queremos tornar-nos numa completa Disneylândia”, afirmou o presidente da autarquia.