Hong Kong acordou esta terça-feira num clima de calma tensa depois de, na véspera, a polícia ter lançado gás lacrimogéneo para dispersar centenas de manifestantes, que invadiram o Parlamento, em protesto contra um projeto de lei de extradição para a China continental.
Para trás ficaram guarda-chuvas, capacetes e garrafas de água como testemunhos dos momentos de caos que se viveram no 22º aniversário da transferência da antiga colónia britânica para o domínio de Pequim, descreve a agência de notícias Reuters. As autoridades reabriram estradas próximas do centro financeiro, permitindo que muitos negócios voltassem ao seu funcionamento normal.
O Conselho Legislativo, nome que se dá ao Parlamento naquela região administrativa especial, manteve-se de portas fechadas na sequência da invasão de manifestantes que partiram computadores e que, com latas de tinta em spray, cobriram as paredes com mensagens contra a polícia, o Governo e o projeto de lei.
Jornal chinês apela a “tolerância zero”
Nas últimas semanas, milhões de pessoas encheram as ruas em protesto contra a lei de extradição, que permitiria que as pessoas fossem enviadas para a China continental para serem julgadas em tribunais controlados pelo Partido Comunista Chinês. Advogados e grupos de defesa dos direitos humanos alegam que o sistema de justiça na China é marcado por tortura, confissões forçadas e detenções arbitrárias.
Pequim nega interferências mas, para muitos cidadãos de Hong Kong, o projeto de lei é o mais recente passo em direção ao controlo continental. O jornal “Global Times”, publicado pelo grupo do Diário do Povo, controlado pelo PC chinês, apelava esta terça-feira a “tolerância zero” após os protestos violentos. “Por arrogância e raiva cegas, os manifestantes mostraram um completo desrespeito pela lei e ordem”, escreveu.
Chefe do Executivo mostra-se disposta a dialogar
A 1 de julho de 1997, Hong Kong regressou à China sob a fórmula “um país, dois sistemas”, que prevê um conjunto de liberdades, incluindo a liberdade de protesto e um judiciário independente, que não são gozadas na China continental, prossegue a Reuters.
A oposição ao projeto de lei virou-se contra a líder do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, que a 15 de junho o suspendeu mas não anulou completamente, conforme exigido pelos manifestantes, que pedem igualmente a renúncia da governante.
Em conferência de imprensa, Lam condenou a atuação dos manifestantes, mas mostrou-se disposta a dialogar com todos os setores, inclusivamente com a juventude que tem liderado os protestos. A chefe do Executivo disse ainda sentir-se zangada e triste com a violência e caos causados pelo protesto sem precedentes e voltou a não dar qualquer indicação de que irá retirar definitivamente o projeto de lei.
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