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Sudão. Pelo menos sete mortos na “marcha do milhão” que pediu transferência do poder para civis

Sudão. Pelo menos sete mortos na “marcha do milhão” que pediu transferência do poder para civis
ASHRAF SHAZLY/GETTY

Foi o protesto de maior envergadura desde a dispersão sangrenta dos manifestantes concentrados no exterior do quartel-general do Exército a 3 de junho, que fez entre 61 e 128 mortos, conforme a fonte. UE avisa que “é dever do Conselho Militar de Transição garantir a segurança de todos e abster-se de qualquer uso de violência contra os manifestantes”. Amnistia diz que “o mundo está a assistir

Sudão. Pelo menos sete mortos na “marcha do milhão” que pediu transferência do poder para civis

Hélder Gomes

Jornalista

Pelo menos sete pessoas morreram e 181 ficaram feridas no Sudão na sequência de uma manifestação massiva que exigiu ao Conselho Militar de Transição (CMT) a transferência do poder para uma autoridade civil. O balanço é feito pela agência oficial de notícias Suna, que cita números do Ministério da Saúde.

A agência acrescentou que dez membros das forças de segurança ficaram feridos, incluindo três paramilitares das forças de intervenção rápida, que foram atingidos a tiro.

Na capital, Cartum, e em Gadarife, no leste do país, a polícia usou gás lacrimogéneo e atirou sobre manifestantes que se juntaram para o que os organizadores apelidaram de “marcha do milhão”.

“Poder civil! Poder civil!”

Pouco antes das 16h00 locais, um grupo de manifestantes apelou à realização de uma marcha sobre o palácio presidencial, sede dos generais no poder. Uma centena de manifestantes foi visada pelas autoridades, que dispararam gás lacrimogéneo quando aqueles se encontravam a cerca de 700 metros do palácio. As forças de intervenção rápida foram chamadas como reforço.

Gritando palavras de ordem como “Poder civil! Poder civil!”, milhares de sudaneses aderiram ao apelo da Aliança para a Liberdade e Mudança (ALM), manifestando-se em várias cidades. Foi o protesto de maior envergadura desde a dispersão sangrenta dos manifestantes concentrados no exterior do quartel-general do Exército a 3 de junho, que fez pelo menos 128 mortos, segundo médicos próximos da contestação, e 61 mortos, de acordo com as autoridades.

Desde então, a segurança tornou-se ainda mais apertada e a Internet, ferramenta essencial para mobilizar os manifestantes desde dezembro do ano passado, foi bloqueada.

Homenagem aos “mártires” do mês passado

Pouco antes do início da manifestação deste domingo, a ALM revelou que a marcha iria passar junto das casas dos “mártires” mortos no mês passado na capital e na cidade vizinha de Ondurmã. Na véspera, uma conferência de imprensa organizada por um grupo de protesto foi proibida pelas forças de segurança, enquanto o CMT anunciava que atribuiria aos organizadores “toda a responsabilidade” em caso de “perdas humanas” ou de qualquer “ato de vandalismo” durante a marcha.

“É dever do CMT garantir a segurança de todos no Sudão e abster-se de qualquer uso de violência contra os manifestantes”, avisou a União Europeia. Por sua vez, a Amnistia Internacional preveniu que “o conselho militar não pode deixar o país escorregar para mais repressão”, sublinhando que “o mundo está a assistir”.

Conselho militar rejeitou proposta do mediador etíope

Apesar das tensões, manifestantes e militares dizem-se abertos à retomada das negociações, através da mediação da Etiópia e da União Africana (UA). No entanto, na semana passada, o CMT rejeitou a proposta etíope para pôr fim ao impasse político sobre a composição de um futuro Governo. Os militares e a oposição não se entendem quanto à forma que deve adotar o Executivo sudanês.

A proposta do mediador etíope, que a oposição aceitou, sugere um conselho soberano formado por sete civis e sete membros das Forças Armadas, com um assento adicional reservado a um elemento imparcial. Três dias após a repressão sangrenta dos protestos no início de junho, a UA suspendeu a participação do Sudão em todas as atividades da organização, “com efeito imediato”, “até ao estabelecimento efetivo de uma autoridade de transição liderada por civis”. Esta é, segundo a UA, “a única saída para a atual crise”.

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