A cimeira extraordinária continua, sem que haja qualquer indício de quando possa acabar, com ou sem acordo. Às oito horas da manhã, sete em Lisboa, os Vinte e Oito voltaram a reuniram-se, depois de uma interrupção de nove horas para negociações bilaterais. À entrada para o pequeno-almoço, continuava sem haver um apoio garantido a Frans Timmermans, apesar do esforço franco-alemão e dos socialistas e liberais para pôr o holandês na cadeira de topo da Comissão Europeia.
Durante toda a madrugada multiplicaram-se os contactos, as negociações bilaterais e entre famílias políticas, para se chegar ao início da manhã mais ou menos no mesmo ponto de partida. Ao que o Expresso apurou, manteve-se a forte pressão para um entendimento em que os Socialistas ficavam com a presidência da Comissão (para Timmermans), os liberais conseguiam a do Conselho Europeu (poderia ser uma mulher) e o Partido Popular Europeu, de Merkel, ficaria com a presidência do Parlamento Europeu (Weber), com o cargo de Alto Representante para a política externa e o de 1º vice-presidente do executivo comunitário.
No entanto, estão longe de um consenso. E também parece não haver uma maioria expressiva para a solução, apesar de o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, continuar a evitar levar os nomes a votação.
PPE fez braço de ferro
O que foi cozinhado em Osaka, e apresentado por Angela Merkel aos parceiros do Partido Popular Europeu durante a tarde deste domingo, continua a não convencer a maioria dos líderes do centro-direita. "Os primeiros-ministros ficaram surpreendidos", conta Paulo Rangel, vice-presidente do PPE, que participou no encontro da família política.
A chanceler alemã está disposta a aceitar que a presidência da Comissão Europeia fique para o socialista Frans Timmermans, mas muitos dos seus parceiros não gostam da ideia de abdicar do cargo mais apetecível, quando foi o PPE o partido mais votado nas últimas eleições europeias.
"Era o mesmo que se pedisse em 2015 a Passos Coelho que apoiasse António Costa", compara Rangel. Para a maioria dos líderes dos democratas-cristãos, Manfred Weber era o candidato natural à sucessão de Jean-Claude Juncker por ter sido cabeça de lista do PPE, mas face à rejeição pelos Liberais e Socialistas, entendem que não faz sentido apoiarem o candidato do segundo partido mais votado.
No cenário apresentado por Merkel o PPE apenas com a presidência do Parlamento Europeu e o cargo de alto representante para a política externa, enquanto os liberais conseguiam a liderança do Conselho Europeu.
De acordo com várias fontes, Merkel não consultou os restantes líderes do PPE antes de fechar a proposta, no Japão ,com Emmanuel Macron, Pedro Sánchez e Mark Rutte. Essa ausência de comunicação não caiu bem a vários líderes, que reagiram numa espécie de rebelião a contrariar a chanceler. A oporem-se estiveram o primeiro-ministro croata, Andrej Plenkovic, o irlandês Leo Varadkar e também os líderes da Roménia e Letónia.
Só o búlgaro Boyco Borissov parece estar ao lado da chanceler. À margem da cimeira encontrou-se com Timmermans e num vídeo publicado no Facebook, mostrou abertura para apoiar o socialista: "há um compromisso no horizonte em que Weber lidera o Parlamento Europeu e você a Comissão, e queria ouvir a sua visão", disse ao holandês.
A noite transformou-se num braço-de-ferro, e não há indicação de que parte do PPE possa ceder. Contra Timmermans estão também, e de forma fervorosa, os polacos e o primeiro-ministro húngaro. De acordo com fonte europeia, terão feito saber ao Partido Popular Europeu que se houvesse votação entre Weber e Timmermans iriam apoiar o primeiro, juntamente com a República Checa e o Eslováquia (que até está nas mãos dos socialistas).
Face ao impasse, Tusk decidiu interromper os trabalhos às onze da noite (22h em Lisboa) e avançou para reuniões bilaterais. À falta de consenso, passou depois a reunir com cada um dos 28, um a um, por ordem alfabética de países. Só perto das quatro da manhã terminou a última ronda com a primeira-ministra britânica, Theresa May.
Com todos testou o acordo de Osaka, e pôs mais três nomes em cima da mesa para a Comissão Europeia. Todos do PPE: o da búlgara Kristalina Georgiva, o do francês Michel Barnier e o primeiro-ministro irlandês Leo Varadkar. Nenhum parece ter sido bem sucedido. No final, fonte europeia dava conta de que o holandês continuava em cima da mesa mas o acordo continuava a não estar perto.
Até às oito da manhã, as reuniões à margem continuaram a repetir-se, com o constante adiamento de novo encontro a Vinte e Oito.
França quer o BCE
Emmanuel Macron alinhou com os socialistas na defesa de Timmermans e na distribuição de cargos poderá ter começado a lançar o isco ao Banco Central Europeu. De acordo com a Bloomberg, terá interesse em conseguir o lugar que é agora do italiano Mario Draghi para uma mulher francesa. Entre as possíveis candidatas poderia estar a atual diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde.
Mas há mais interessados no BCE, incluindo a Alemanha, com o governador do Bundesbank, Jens Weidman, e a Finlândia com dois ex-comissários: Olli Rehn, atual governador do Banco da Finlândia e Erkki Liikanen, que já esteve nesse lugar.