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Timmermans mais perto da presidência da Comissão Europeia (mas ainda falta uma Cimeira onde tudo pode acontecer)

Timmermans mais perto da presidência da Comissão Europeia (mas ainda falta uma Cimeira onde tudo pode acontecer)
THIERRY CHARLIER

O nome do holandês saltou para a frente da corrida à sucessão de Jean-Claude Juncker. Merkel e Macron surgem dispostos a apoiar o candidato dos socialistas. Mas a Hungria e os países de Visegrado o não querem para presidente. Ainda se fala em Michel Barnier. A cimeira das decisões começa às 17h e poderá obrigar a direta

Timmermans mais perto da presidência da Comissão Europeia (mas ainda falta uma Cimeira onde tudo pode acontecer)

Susana Frexes

Correspondente em Bruxelas

Frans Timmermans poderá ser o novo homem forte da Comissão Europeia, depois de Merkel admitir no Japão que pode apoiar o candidato dos socialistas. Mas nada está ainda garantido, porque há capitais que se opõem à nomeação do holandês para o cargo. "Os 4 países de Visegrado não podem apoiar Manfred Weber nem Timmermans", escreveu este sábado no twitter o porta-voz do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.

Os 28 chefes de Estado e de Governo reúnem-se a partir da 17 horas (de Lisboa) em Bruxelas, mas antes há várias reuniões a acontecer que podem confirmar os rumores ou voltar a afastar o nome do holandês. De manhã, há encontro dos líderes dos grupos do Parlamento Europeu (PE). E sem um entendimento entre socialistas, liberais e centro-direita, o nomeado para a Comissão não deve passar no Parlamento Europeu. Há uma semana, os liberais e socialistas no PE disseram que não passariam o nome do democrata-cristão, Manfred Weber. Falta saber se o Partido Popular Europeu aceita o de Frans Timmermans.

"Haverá muitas, muitas bilaterais durante a tarde", adianta fonte do Conselho Europeu. E há também uma reunião dos negociadores das três principais famílias políticas às 14h, onde o primeiro-ministro António Costa e o chefe do Governo espanhol Pedro Sánchez, vão representar os socialistas.

Outra fonte dá conta que o compromisso que está (de novo) em cima da mesa é para se escolher entre os candidatos à Comissão que se apresentaram durante as eleições europeias, desde que não seja o alemão Manfred Weber. Um entendimento que deixa o caminho aberto para Frans Timmermans e para a dinamarquesa Margrethe Vestager, que é apoiada pelos liberais. No entanto, as declarações de Merkel durante o G20, em Osaka, deram a entender que a escolha é só entre Weber e Timmermans. E, segundo outra fonte, Merkel já terá dito a Weber que está fora da corrida. Quanto a Macron, há sinais de que também está com o holandês.

Timmermans repescado

A confirmar-se o nome de Timmermans, seria uma reviravolta. Na última cimeira, há apenas 10 dias, vários líderes descartaram-no para a liderança da Comissão Europeia, incluindo Macron e Sánchez, por não haver uma maioria clara de apoio, nem para ele, nem para a dinamarquesa, nem para o alemão.

Repescar o nome de Timmermans é a última tentativa para não deixar o morrer o chamado processo de Spitzenkandidaten, em que as famílias políticas apresentam nomes à corrida à Presidência da Comissão Europeia antes das eleições para o PE.

A pressão vem agora da chanceler alemã e mostra mais uma divergência com Macron. O presidente francês é um crítico deste processo. A escolha de Timmermans (ou Vestager) poderia ser uma meia derrota/vitória para ambos. Macron conseguia eliminar Weber e a chanceler conseguia salvar o processo que há cinco anos culminou na escolha de Jean-Claude Juncker.

A vitória de Timmermans seria também uma vitória para António Costa, que nunca o deixou cair, nem mesmo na última cimeira. O holandês tem a desvantagem de os socialistas europeus não terem vencido as europeias - o Partido Popular Europeu continua a ter a maior bancada - mas tem a experiência executiva que falta a Manfred Weber. Frans Timmermans já foi ministro dos negócios estrangeiros da Holanda e é o 1º vice-presidente da Comissão. Em contrapartida, o alemão nunca fez parte de nenhum Governo.

Nada está ainda ganho

De acordo com fonte do Conselho Europeu, ainda é cedo para saber se a nomeação do Presidente da Comissão vai ou não a votação de líderes. "Preferimos sempre o consenso", adianta, lembrando, no entanto, que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk "disse que não se vai coibir de usar o voto por maioria qualificada se for necessário".

Mas o consenso está ainda difícil. A grande oposição ao ainda 1º vice presidente da Comissão Europeia vem dos países a quem Timmermans tem apontado o dedo e pressionado por causa do respeito pelo Estado de Direito. É o caso da Hungria mas também da Polónia, país para o qual a Comissão desencadeou o processo sancionatório previsto no artigo 7 dos Tratados.

O holandês não se tem coibido de falar das preocupações "com os direitos fundamentais, a corrupção e a independência do sistema de Justiça", ou a falta dela em Budapeste. E a forma como Orbán tem lidado com os pedidos de asilo, mereceu também um processo por infração lançado pelo executivo comunitário.

Agora, e face aos ecos que chegam do G20, em Osaka, de que Merkel, Macron e os socialistas podem entender-se para aprovar Timmermans para a Comissão, os Visegrados prometem unir-se para tentar travá-lo. Budapeste e Varsóvia contam com a República Checa e Eslováquia. Não chegam para uma minoria de bloqueio (são precisos oito países para isso), mas podem ser uma dor de cabeça a atrasar um desfecho esta noite em Bruxelas.

O nome de Michel Barnier continua assim a ser falado. Apesar de também não reunir consenso, seria uma possibilidade de o PPE manter a Comissão Europeia, após o afastamento de Weber. Se o centro-direita ficar com o executivo comunitário, então os socialista poderão ficar com o Conselho Europeu. Se Timmermans for bem sucedido, então o PPE poderá ficar com o Conselho Europeu e um dos nomes falados é o do primeiro-ministro croata Andrej Plenković, que é aliás um dos negociadores das nomeações em curso.

Mas não será de estranhar se os nomes escolhidos forem outros. Entre os que circulam para os vários cargos - Comissão, Conselho Europeu e alto representante para a política externa - estão também o do presidente romeno Klaus Iohannis, do primeiro-ministro holandês Mark Rutte, do belga Charles Michel, da ex-primeira-ministra dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt e da Búlgara Kristalina Georgieva.

Quanto a Manfred Weber poderá ficar com a presidência do Parlamento Europeu. Outra forte possibilidade é ser comissário alemão.

A cimeira deste domingo pode dar direito a direta. Os avisos do Conselho Europeu apontam para um possível pequeno-almoço de líderes na segunda.

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