Frans Timmermans poderá ser o novo homem forte da Comissão Europeia, depois de Merkel admitir no Japão que pode apoiar o candidato dos socialistas. Mas nada está ainda garantido, porque há capitais que se opõem à nomeação do holandês para o cargo. "Os 4 países de Visegrado não podem apoiar Manfred Weber nem Timmermans", escreveu este sábado no twitter o porta-voz do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.
Os 28 chefes de Estado e de Governo reúnem-se a partir da 17 horas (de Lisboa) em Bruxelas, mas antes há várias reuniões a acontecer que podem confirmar os rumores ou voltar a afastar o nome do holandês. De manhã, há encontro dos líderes dos grupos do Parlamento Europeu (PE). E sem um entendimento entre socialistas, liberais e centro-direita, o nomeado para a Comissão não deve passar no Parlamento Europeu. Há uma semana, os liberais e socialistas no PE disseram que não passariam o nome do democrata-cristão, Manfred Weber. Falta saber se o Partido Popular Europeu aceita o de Frans Timmermans.
"Haverá muitas, muitas bilaterais durante a tarde", adianta fonte do Conselho Europeu. E há também uma reunião dos negociadores das três principais famílias políticas às 14h, onde o primeiro-ministro António Costa e o chefe do Governo espanhol Pedro Sánchez, vão representar os socialistas.
Outra fonte dá conta que o compromisso que está (de novo) em cima da mesa é para se escolher entre os candidatos à Comissão que se apresentaram durante as eleições europeias, desde que não seja o alemão Manfred Weber. Um entendimento que deixa o caminho aberto para Frans Timmermans e para a dinamarquesa Margrethe Vestager, que é apoiada pelos liberais. No entanto, as declarações de Merkel durante o G20, em Osaka, deram a entender que a escolha é só entre Weber e Timmermans. E, segundo outra fonte, Merkel já terá dito a Weber que está fora da corrida. Quanto a Macron, há sinais de que também está com o holandês.
Timmermans repescado
A confirmar-se o nome de Timmermans, seria uma reviravolta. Na última cimeira, há apenas 10 dias, vários líderes descartaram-no para a liderança da Comissão Europeia, incluindo Macron e Sánchez, por não haver uma maioria clara de apoio, nem para ele, nem para a dinamarquesa, nem para o alemão.
Repescar o nome de Timmermans é a última tentativa para não deixar o morrer o chamado processo de Spitzenkandidaten, em que as famílias políticas apresentam nomes à corrida à Presidência da Comissão Europeia antes das eleições para o PE.
A pressão vem agora da chanceler alemã e mostra mais uma divergência com Macron. O presidente francês é um crítico deste processo. A escolha de Timmermans (ou Vestager) poderia ser uma meia derrota/vitória para ambos. Macron conseguia eliminar Weber e a chanceler conseguia salvar o processo que há cinco anos culminou na escolha de Jean-Claude Juncker.
A vitória de Timmermans seria também uma vitória para António Costa, que nunca o deixou cair, nem mesmo na última cimeira. O holandês tem a desvantagem de os socialistas europeus não terem vencido as europeias - o Partido Popular Europeu continua a ter a maior bancada - mas tem a experiência executiva que falta a Manfred Weber. Frans Timmermans já foi ministro dos negócios estrangeiros da Holanda e é o 1º vice-presidente da Comissão. Em contrapartida, o alemão nunca fez parte de nenhum Governo.
Nada está ainda ganho
De acordo com fonte do Conselho Europeu, ainda é cedo para saber se a nomeação do Presidente da Comissão vai ou não a votação de líderes. "Preferimos sempre o consenso", adianta, lembrando, no entanto, que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk "disse que não se vai coibir de usar o voto por maioria qualificada se for necessário".
Mas o consenso está ainda difícil. A grande oposição ao ainda 1º vice presidente da Comissão Europeia vem dos países a quem Timmermans tem apontado o dedo e pressionado por causa do respeito pelo Estado de Direito. É o caso da Hungria mas também da Polónia, país para o qual a Comissão desencadeou o processo sancionatório previsto no artigo 7 dos Tratados.
O holandês não se tem coibido de falar das preocupações "com os direitos fundamentais, a corrupção e a independência do sistema de Justiça", ou a falta dela em Budapeste. E a forma como Orbán tem lidado com os pedidos de asilo, mereceu também um processo por infração lançado pelo executivo comunitário.
Agora, e face aos ecos que chegam do G20, em Osaka, de que Merkel, Macron e os socialistas podem entender-se para aprovar Timmermans para a Comissão, os Visegrados prometem unir-se para tentar travá-lo. Budapeste e Varsóvia contam com a República Checa e Eslováquia. Não chegam para uma minoria de bloqueio (são precisos oito países para isso), mas podem ser uma dor de cabeça a atrasar um desfecho esta noite em Bruxelas.
O nome de Michel Barnier continua assim a ser falado. Apesar de também não reunir consenso, seria uma possibilidade de o PPE manter a Comissão Europeia, após o afastamento de Weber. Se o centro-direita ficar com o executivo comunitário, então os socialista poderão ficar com o Conselho Europeu. Se Timmermans for bem sucedido, então o PPE poderá ficar com o Conselho Europeu e um dos nomes falados é o do primeiro-ministro croata Andrej Plenković, que é aliás um dos negociadores das nomeações em curso.
Mas não será de estranhar se os nomes escolhidos forem outros. Entre os que circulam para os vários cargos - Comissão, Conselho Europeu e alto representante para a política externa - estão também o do presidente romeno Klaus Iohannis, do primeiro-ministro holandês Mark Rutte, do belga Charles Michel, da ex-primeira-ministra dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt e da Búlgara Kristalina Georgieva.
Quanto a Manfred Weber poderá ficar com a presidência do Parlamento Europeu. Outra forte possibilidade é ser comissário alemão.
A cimeira deste domingo pode dar direito a direta. Os avisos do Conselho Europeu apontam para um possível pequeno-almoço de líderes na segunda.